O “número dois” do Khmer Vermelho, Nuon Chea, pediu nesta quinta-feira (30/06) ao Tribunal Internacional que investigue o envolvimento dos Estados Unidos e Vietnã na morte de dois milhões de cambojanos.
A solicitação de Chea, considerado o ideólogo da organização ultranacionalista e de traço maoísta que por quase 44 meses dirigiu o país asiático durante a década de 70, foi feita durante a última audiência do primeiro lance do processo que começou na segunda-feira passada, em Phnom Penh.
“Muitas das decisões (do Khmer Vermelho) foram adotadas como consequência das políticas vietnamitas”, argumentou Victor Koppe, advogado do braço direito de Pol Pot, o líder máximo do Khmer Vermelho e morto em 1998 sem ter sido julgado.
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Segundo o regulamento interno, o Tribunal auspiciado pelas Nações Unidas tem jurisdição para investigar os fatos ocorridos desde 17 de abril de 1975, data na qual o Khmer Vermelho entrou em Phnom Penh, e 6 de janeiro de 1979, quando a cúpula da organização fugiu da capital para a fronteira com Tailândia perante o avanço das tropas do Vietnã que invadiram o Camboja.
Diferente foi a postura do ex-presidente daquele regime que o Khmer Vermelho chamou Kampuchea Democrática, Khieu Samphan. Ele ofereceu sua colaboração ao tribunal internacional para esclarecer os crimes cometidos enquanto a organização esteve no poder.
Samphan, principal representante do Khmer Vermelho desde 1991, disse que sua oferta de colaboração seguia o desejo que os cambojanos “famintos por entender que passou” saibam a verdade. “Eu não tenho conhecimento sobre tudo, mas tentarei do fundo do meu coração que a verdade seja totalmente revelada”, assegurou em um discurso na qual leu um documento.
Com Samphan e Chea, se sentaram também no banco o ex-ministro de Relações Exteriores do regime, Ieng Sary, e sua esposa, a ex-ministra de Assuntos Sociais, Ieng Thirith.
Os processados têm entre 79 e 85 anos de idade, e são acusados de genocídio, crimes contra a humanidade e de guerra, assassinato, tortura e perseguição por razões religiosas e de raça. Os quatro rejeitam as acusações.
As primeiras quatro audiências deste julgamento que, segundo os analistas, foram prolongadas por quatro anos, estiveram dedicadas a questões legais que abrem o caminho à apresentação de evidências e testemunhas, uma fase que prevista para começar em setembro.
Durante as sessões anteriores, a defesa assegurou que as acusações de assassinato, tortura e perseguição religiosa prescreveram segundo o Código Penal cambojano de 1956, vigente durante o regime do Khmer Vermelho.
A equipe que defende o ex-chanceler do Khmer Vermelho, uma função reduzida a contatos com a Iugoslávia do marechal Tito, com a China de Mao Tse-Tung e algumas reuniões em Paris e na sede a ONU em Nova York, também sustentou que os crimes prescreveram.
Sary e também Pol Pot foram condenados à revelia em 1979 por um tribunal estabelecido no Camboja após a queda do Khmer Vermelho.
Este é o segundo caso que o tribunal julga desde que começou a funcionar, em 2006.
O primeiro a ser julgado foi Kaing Guek Eav, conhecido por Duch e diretor da prisão transformada na principal câmara de tortura, na qual morreram 16 mil pessoas.
Duch foi condenado em 2010 a 35 anos de prisão, uma pena que no final foi reduzida para 19 anos após descontarem o tempo de reclusão cumprido.
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