A poucas horas do início do referendo, as pesquisas de opinião na Bolívia mostram que as chances de o país amanhecer na segunda-feira com uma nova Constituição são grandes. Os números recentes indicam que 57,55% dos bolivianos votarão pelo “sim”, enquanto 39,40% assinalarão “não” nas cédulas de votação.
As 2.700 zonas eleitorais estarão abertas a partir das 08h de domingo (25) no horário local (10h em Brasília) e funcionarão por oito horas sem intervalos. A contagem dos votos será manual.
De acordo com pesquisas recém divulgadas pela Fundación Francisco Pasaman, as preferências pelo “sim”, ou pelo “não”, concentram-se em determinadas regiões do país, como era de se esperar. Os habitantes das montanhas a oeste e das regiões dos vales, em sua maioria indígenas, apoiam massivamente a Constituição. Mais de 74% devem votar a favor do novo texto no departamento (estado) de La Paz.
Nas terras baixas, reinam os bolivianos que optarão pelo “não”. O departamento de Chuquisaca deve negar a nova Constituição, com 67% dos votos contrários.
Mais de um terço dos eleitores direcionados ao “sim” disseram que a principal razão de apoio às mudanças na antiga Constituição é a de assegurar a manutenção dos programas sociais do governo boliviano, incluindo o bônus anual dado a estudantes e a idosos, com recursos dos ganhos conquistados com a nacionalização dos hidrocarbonetos, realizada em maio de 2006.
Os bolivianos também expressaram apoio ao fato de a nova Constituição permitir participação nos ganhos na exploração de recursos naturais (28%) e ampliar os direitos da população indígena (16%).
Os eleitores que estão propensos a rejeitar o documento se preocupam com a expansão dos direitos indígenas, incluindo a aceitação da justiça comunitária como equivalente ao sistema judicial tradicional (29%) e a crescente autonomia indígena. Um quarto dos entrevistados disse temer por sua liberdade religiosa (25%), caso o documento seja aprovado.
A pesquisa também avaliou a opinião dos bolivianos quanto à questão dos limites das terras, que define a extensão máxima das propriedades rurais entre 5 mil e 10 mil hectares. Os resultados mostraram diferença ainda maior do que entre o “sim” e o “não”, com quase 68% da população dizendo que quer estabelecer a propriedade privada em 5.000 hectares, com o restante, 32%, preferindo a demarcação em 10.000 hectares, no máximo.
O novo texto estabelece que, além uma dessas duas dimensões máximas, as terras deverão ter “função social” – uma definição considerada vaga por oposicionistas. “Esse termo função social abre espaço para que o governo recupere nossas terras por qualquer motivo”, disse em um debate na televisão o presidente da Federação dos Agropecuários do Departamento (Estado) do departamento de Santa Cruz, Guido Nayar, de acordo com a BBC.
Por sua vez, o diretor nacional de terras, Kliver Rocha, afirmou no mesmo programa que a propriedade privada está “garantida” e que o governo respeitará os donos de terras. Os proprietários rurais entendem que a restrição ao tamanho das propriedades afetaria os que viessem a ter uma fazenda no futuro, e não os que já têm terras.
Evo demonstra confiança na vitória
Os dados lançados hoje (24), coletados em 15 de janeiro, revelaram que a maioria, incluindo áreas da oposição, respeitaria qualquer resultado no referendo de amanhã. Líderes cívicos das terras baixas ameaçaram convocar protestos caso a Constituição não fosse aprovada por maioria de votos em todos os nove departamentos, justificando que isso não representaria os interesses da Bolívia.
Por outro lado, o presidente boliviano Evo Morales demonstra confiança na vitória, enxergando o referendo não só como uma forma de aprovar a nova Constituição, mas também como um esforço pessoal como chefe de Estado. “O povo da Bolívia dirá amanhã se respalda, se aprova ou não, o que fizemos até agora. Tenho certeza que aprovará, porque estamos a serviço do povo, e não para nos servir do povo”, disse Morales esta manhã à imprensa, no Palácio de Quemado.
O governo vê a nova Constituição como o início de uma refundação da Bolívia, pois considera que a primeira Carta Magna do país, ratificada em 1895, exclui a parcela indígena e camponesa da população. Cerca de 47% dos bolivianos são considerado indígena.
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