Cerca de 500 professores formados pelas Escolas Normais do Marrocos estão em greve de fome, sem previsão para acabar, desde a última quarta-feira (11/11), na cidade de Marrakech, em protesto contra as reformas no sistema de ingresso de educadores no ensino público do país e a redução de salários determinada pelo governo.
“Começamos uma greve de fome para atrair atenção para os mais de cinco mil professores formados que estão lutando por emprego. Mais de 20 já desmaiaram por estarem debilitados. Acabamos de chamar a ambulância para um de nossos colegas”, disse a Opera Mundi nesta sexta-feira (11/11) Sahlaouisidi Mohamed, de 30 anos.
Protestos da categoria estão acontecendo nas principais cidades do país e começaram no início deste ano, após o governo anunciar dois decretos que alteram o ingresso no sistema educacional para os professores formados por Escolas Normais.
O primeiro deles diminui pela metade o salário recebido pelos profissionais: de 2.400 dirhans marroquinos para 1.200 dirhans (de aproximadamente R$ 800 para R$ 400). O segundo decreto separa a formação na Escola Normal da integração automática no sistema de ensino — de modo que os professores não têm mais garantias de que sairão empregados, uma vez que tenham concluído sua formação, e diminui o número de vagas. De acordo com o Morocco World News, até o fim do ano haverá por volta de 10 mil professores formados para apenas 7.000 vagas.
Camila Alvarenga/Opera Mundi
Abdellah Belbida defende integração automática dos professores à rede de ensino público
Segundo o professor Abdellah Belbida, de 33 anos, as manifestações reivindicam a integração automática dos docentes formados pela Escola Normal à rede pública. “Somos formados pela Escola Normal. Temos formação em psicopedagogia, ciência da educação, e especializações científicas e literárias. Por isso estamos nos manifestando para nos integrarmos à escola pública. E por que a escola pública [e não a privada, visto que o processo será o mesmo para ambas]? Porque a escola pública precisa de nós, precisa de mais professores. A educação pública em nosso país tem atualmente um déficit de 30 mil professores. Cada sala de aula tem mais de cem alunos”, afirmou a Opera Mundi.
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Belbida acredita que a intenção do ministro da Educação, Rachid Belmokhtar, seja privatizar o ensino público no país. Diminuir o ingresso e o salário dos professores seria uma maneira de atrair investimentos para realizar esta privatização.
“A situação atual pede integração. Não temos infraestrutura para privatizar. Isto iria aumentar a desigualdade no país”, afirmou.
Camila Alvarenga/Opera Mundi
Greve de fome já dura mais de quatro dias, mas protestos estão ocorrendo há mais de sete meses
Os professores argumentam não existir diálogo com o Ministério da Educação, apontado como o único responsável pela situação atual — nenhum dos professores atribuiu ao rei Mohammed VI responsabilidade sobre a questão.
Segundo Ismail Ismaili Alaoui, de 26 anos, o ministério ofereceu um contrato temporário que não iria de fato integrar os professores à rede pública de ensino. Este contrato teria a duração de apenas dois anos – e ao fim deste prazo, os docentes teriam que se submeter ao novo sistema de ingresso.
Opera Mundi tentou contato com o Ministério da Educação marroquino, mas não obteve resposta até o fechamento deste texto.