O governo do México afirmou nesta sexta-feira (24/03) que irá revisar e fortalecer o mecanismo de proteção a jornalistas e defensores de direitos humanos em resposta à comoção no país após o assassinato de Miroslava Breach, repórter do jornal La Jornada, na cidade de Chihuahua, no Estado de mesmo nome, nesta quinta-feira (23/03).
Breach foi assassinada com oito tiros diante de sua casa por volta das 7h da manhã, quando se preparava para levar seu filho à escola. Um homem se aproximou do carro onde estavam a jornalista e seu filho e, após atirar oito vezes contra ela, deixou um bilhete que afirmava que Breach foi morta “por ser linguaruda” e com a assinatura “El 80”, que seria um grupo criminoso ligado ao cartel Juárez. Seu filho saiu ileso do ataque.
A jornalista trabalhava há 20 anos no La Jornada e se dedicava a reportar a escalada de violência no Estado em meio à guerra entre os cartéis de droga de Juárez e Sinaloa, assim como a negligência do poder público. Recentemente, ela escreveu sobre o aumento de ataques contra defensores de direitos humanos e ambientalistas.
Além dela, outros dois jornalistas foram assassinados no México somente no mês de março: no dia 2, Cecilio Pineda Birto, diretor do jornal La Voz de Tierra Caliente, no Estado de Guerrero, e no dia 19, Ricardo Monlui Cabrera, que foi diretor do El Politico e presidente da Associação de Jornalistas e Repórteres de Córdoba e Região. Nos dois ataques, os jornalistas foram mortos a tiros por homens desconhecidos.
Agência Efe
A jornalista Miroslava Breach, assassinada a tiros nesta quinta-feira (23/03); ela foi a terceira jornalista assassinada no México somente este mês
Roberto Campa, subsecretário de Direitos Humanos da Secretaria de Governo do México, declarou que os recentes ataques demonstram a necessidade de revisar a proteção de comunicadores e ativistas no país. Ele afirmou que Breach não estava registrada no mecanismo de proteção e que não havia sido detectado nenhuma situação de risco envolvendo a jornalista.
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“Ainda assim, lamentamos profundamente [o assassinato] e isso nos levará a revisar o mecanismo [de proteção], durante a junta de governo que teremos nos próximos dias, para torná-lo mais eficaz”, disse Campa.
A Procuradoria-Geral da República do México, por meio da Promotoria Especial para a Atenção a Delitos Cometidos contra a Liberdade de Expressão, abriu investigação sobre o assassinato de Breach. Horas após o ataque, o titular da Promotoria do Estado de Chihuahua, Cézar Peniche Espejel, disse ao La Jornada que a principal linha de investigação para a morte da jornalista seria justamente sua atividade profissional e as reportagens que ela vinha publicando no jornal.
Agência Efe
Peritos analisam o carro da jornalista Miroslava Breach, onde ela foi assassinada com oito tiros ao lado do filho nesta quinta-feira (23/03)
“O México se converteu em um cemitério de jornalistas”, declarou Elsa González, presidente da FAPE (sigla em espanhol para Federação de Associações de Jornalistas da Espanha). O país é um dos que mais registra assassinatos de jornalistas no mundo. Segundo dados da organização Artículo 19, desde dezembro de 2012, quando começou o governo do presidente Enrique Peña Nieto, 106 jornalistas foram assassinados no México – 99,75% dos casos permanecem impunes.
Em um editorial intitulado “Já Basta!”, publicado nesta sexta-feira (24/05), o La Jornada critica a “impunidade que cerca as agressões” contra jornalistas, “um estímulo para que seus perpetradores sigam cometendo-as”. “A violência que sofrem faz com que não se possa informar sobre o que está verdadeiramente acontecendo neste país. (…) Cada vez é mais perigoso dizer a verdade.”
“Demandamos uma investigação conforme a lei, rápida, exaustiva e certeira. Queremos que se encontrem os assassinos e não se inventem bodes expiatórios. Exigimos verdade e justiça, já!”, diz o jornal.