Integrantes do GIEI (Grupo Interdisciplinar de Especialistas Independentes) afirmaram no Senado do México nesta terça-feira (26/04) que o caso Ayotzinapa não é fato isolado no país e pediram a aprovação de leis mais eficazes para prevenir tortura e desaparecimentos forçados.
Agência Efe
Marcha na Cidade do México nesta terça-feira marcou 19 meses do desaparecimento dos jovens em Ayotzinapa
Os especialistas, que trabalham na elucidação do caso dos 43 estudantes desaparecidos de Ayotzinapa, disseram que é preciso que as leis sejam centradas no direito das vítimas, especialmente no de saber a verdade.
Os 43 estudantes desapareceram em 26 de setembro de 2014, depois de serem abordados pela polícia de Iguala, no México, a caminho de uma manifestação. O episódio resultou em 25 estudantes feridos e 46 detidos. Dos jovens presos, três foram encontrados sem vida, e o resto segue desaparecido. Eles eram estudantes da Escola Normal de Ayotzinapa.
A ex-procuradora da Guatemala e integrante do GIEI Claudia Paz disse que é “perverso” que as acusações no México sejam baseadas na confissão dos acusados, sem que o Ministério Público precise apresentar outras evidências.
“Es importante que las declaraciones y confesiones dejen de ser prueba principal en procesos, más con los altos índices de tortura”
— GIEI Ayotzinapa (@GIEIAYOTZINAPA) 24 de abril de 2016
Eles entregaram aos senadores seu segundo informe com diversas conclusões sobre o caso. De acordo com o documento, foram identificados indícios de torturas em 80% das pessoas que foram detidas por suposto envolvimento no desaparecimento dos jovens.
Informe
Os especialistas afirmam em seu informe que a Polícia Federal deve ser investigada “em profundidade”.
“O grau de conhecimento ou coordenação entre diferentes grupos de polícia não foi esclarecido até agora, mas novos dados mostram que a atuação da Polícia Federal deve ser investigada em profundidade”, diz o relatório.
O grupo informou, no texto, que foi vítima de “uma campanha que tenta desprestigiar as pessoas como uma forma de questionar seu trabalho”.
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Segundo o informe do grupo, durante sua permanência no país, foram feitas mais de 900 solicitações de testes ao Estado mexicano. No entanto, até março de 2016, apenas 50% haviam sido atendidas. O grupo diz também que alguns documentos foram entregues pelo governo próximo do período determinado para que os especialistas deixassem o país, o que fez com que não pudessem ser analisados.
De acordo com os especialistas, sua chegada ao país veio acompanhada de um “discurso estatal de total abertura e cooperação”. No entanto, “alguns funcionários públicos e setores de opinião em particular se sentiram ameaçados por este novo esquema de assistência técnica proveniente da comunidade internacional, que questionava versões ou a administração do caso”, indica o documento.
Marcha
Nesta terça-feira (26/04), pais, familiares e amigos dos estudantes realizaram uma marcha na Cidade do México para marcar 19 meses do desaparecimento dos jovens.
Centenas de pessoas participaram da manifestação, de acordo com a Telesur, exibindo fotografias dos estudantes.
Agência Efe
Pais, familiares e amigos dos jovens pedem justiça para o caso, que completou 19 meses na terça-feira
Em frente à PGR (Procuradoria Geral da República), os pais protestaram contra o que chamaram de “obstrução”, por parte do Estado mexicano, para o trabalho do GIEI, que foi relatado pelo grupo em seu informe.
Os pais dos estudantes também pediram que o presidente Enrique Peña Nieto “dê a cara” e aceite as recomendações do GIEI.
“A chamada 'verdade histórica' nunca existiu”, disse ao jornal mexicano La Jornada o advogado Vidulfo Rosales, que acompanhava os pais.