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Cartaz compara Vladmir Putin a Hitler no protesto desta terça em Moscou; presidente é o principal alvo dos manifestantes
Dezenas de milhares de pessoas voltaram ao centro de Moscou nesta terça-feira (12/06) para protestar contra os resultados das últimas eleições no país. É a primeira manifestação após a posse de Vladimir Putin para um novo mandato de seis anos como presidente da Rússia. E o dia do protesto não foi escolhido ao acaso. Hoje foi o Dia da Rússia, feriado que lembra a Declaração de Soberania da República Soviética da Rússia, em 1990. O documento é considerado o ponto inicial da democratização do país.
As bandeiras vermelhas dos comunistas predominaram no ato, que apesar de ter sido chamado de “A Marcha dos Milhões”, reuniu aproximadamente 50 mil pessoas. “Eles não vão nos assustar”, cantavam os manifestantes. Além dos comunistas, liberais, nacionalistas e grupos LGBT protestaram juntos, enfrentando a chuva e as duras leis recentemente aprovadas para evitar manifestações da oposição.
Segundo o líder oposicionista Sergei Udaltsov, da Frente de Esquerda, as principais demandas dos manifestantes são a reforma da legislação política, a liberação de presos políticos e a anulação das eleições presidenciais e legislativas, sobre as quais pairam suspeitas de fraude.
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Udaltsov defendeu que sejam adotadas reformas sociais, como o aumento de salários, aposentadorias e pensões. Os aposentados, por sinal, formaram um grupo numeroso no ato desta terça. O coletivo LGBT também aproveitou a oportunidade para exigir o direito de realização de paradas do orgulho gay no país e para criticar as leis anti-propaganda gay aprovadas em cinco regiões do país, incluindo São Petersburgo, a segunda maior cidade da Rússia.
Buscas e intimidação
Em um documento oficial colocado na entrada de todos os edifícios da região onde ocorreu a manifestação, a administração distrital pedia aos moradores que “tomassem cuidado com a manifestação organizada por uma parte radical da sociedade”. O documento solicitava que as pessoas não participassem do evento, que não andassem pelos bairros onde aconteceu o ato e que não caminhassem pelas ruas próximas. “Recomendamos que vocês avisem aos vizinhos e conhecidos e controlem onde as crianças estão no momento do evento. Apesar de falarem que é um ato pacífico e de ter a aprovação da prefeitura, a manifestação é extremista e anti-governamental”, conclui o documento.
A polícia de Moscou destacou 12.000 homens para acompanhar a manifestação, mas o ato terminou sem nenhum incidente nem prisão. Uma forte chuva caiu no final do evento, ajudando na dispersão da multidão.
Numa tentativa de impedir a manifestação, o Comitê Federal de Investigação da Rússia revistou as casas dos organizadores do evento, confiscando computadores, aparelhos celulares, documentos e dinheiro nesta segunda-feira (11/06). “As autoridades estão em pânico. Eles estão tentando realizar ações primitivas, repressivas, mas eu tenho certeza de que eles só conseguirão causar o efeito oposto. Esse tipo de busca incomoda e enfurece as pessoas, e um número maior de pessoas vai às ruas” afirmou Udaltsov, que também teve sua residência revistada. Outro opositor importante de Putin, o blogueiro de direita Alexey Navalny relatou no Twitter: “Há uma busca acontecendo na minha casa. Eles praticamente arrancaram a porta”.
O Comitê, que está subordinado à Presidência, explicou que as buscas estão relacionadas a uma investigação criminal sobre violência contra a polícia em uma manifestação realizada em Moscou nas vésperas da posse de Putin, em maio deste ano quando diversos manifestantes foram detidos.
Escalada de repressão
O governo russo dá outros sinais de endurecimento da repressão. Lei que aumenta as multas por violações à ordem pública em manifestações foi aprovada nesta sexta-feira (07/06) em caráter emergencial. O valor da multa para pessoas físicas subiu de 2 mil rublos para 300 mil rublos (US$ 9 mil, a renda média anual dos russos) ou o cumprimento de 200 horas de trabalho social e para pessoas jurídicas, a multa é de 1 milhão rublos (US$ 30 mil). A lei entende como violação à ordem pública manifestações realizadas sem autorização prévia do Estado russo, que desrespeitem o horário estipulado ou que ultrapassem o número de manifestantes estipulado. O novo projeto de lei também pune os organizadores de “reuniões públicas de larga escala”.
Além disso, o Comitê intimou diversos ativistas que participam da marcha para depor nesta terça-feira (12/06) no mesmo horário da manifestação. Udalstov ignorou sua intimação e liderou um dos grupos da marcha.
Efe
Opositores do governo sofreram também ataques de milícias nesta segunda-feira (11/06) na província de Vologda. Segundo o jornal russo Ria Novosti, o veículo do deputado e presidente do movimento Juntos (Vmeste), Yevgueni Dogozhírov, foi interceptado por dois automóveis sem placa que quebraram os vidros do carro e dispararam contra os passageiros.
Diversos websites ligados à mídia independente russa, como o jornal Novaia Gazeta, amanheceram inacessíveis nesta terça-feira (12/06).
“Tudo aquilo que fragiliza e divide a sociedade é inaceitável para nós. Qualquer decisão ou medida que leve a distúrbios sociais e econômicos é inaceitável”, disse Putin, num discurso de celebração ao feriado nacional. “Toda nossa memória política nacional demonstra isto. Para um imenso país multiétnico como a Rússia, o princípio fundamental é o desenvolvimento progressivo e evolutivo.”
A oposição anunciou que continuará organizando pequenos protestos e flashmobs nas ruas de Moscou, além de acampamento em alguns bulevares importantes da cidade. Em outras partes da Rússia, ativistas também organizaram atos de oposição ao Kremlin. Um novo protesto está previsto para o dia 7 de outubro, aniversário de 60 anos de Vladimir Putin.