Ministro sueco acusa Cameron de 'fazer política' com crise migratória em Calais
Segundo Morgan Johansson, ministro da Justiça sueco, seu país recebeu 30 mil solicitantes de asilo em 2014, três vezes mais que o Reino Unido: 'Vejo um país que não quer assumir a responsabilidade que deveria'
O ministro da Justiça da Suécia, Morgan Johansson, acusou neste domingo o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, de “fazer política” com a crise migratória em Calais (França) e usar linguagem divisória e “pouco construtiva”.
Em declarações à BBC Radio 4, Johansson disse que o Reino Unido “pode fazer muito mais” para responder à crise migratória internacional, por exemplo acolhendo a mais solicitantes de asilo.
A crise no porto de Calais, onde a cada dia dezenas de estrangeiros, a maioria africanos, tentam entrar no Eurotúnel para chegar à Inglaterra, é causada porque Londres e Paris não estão assumindo toda a sua “responsabilidade” no amparo de imigrantes, disse o político.
Agência Efe
Polícia francesa detém pessoas que tentam chegar ao Reino Unido a partir de Calais, cidade fronteiriça na França
A Suécia, por exemplo, aceita todos os refugiados da Síria e a cada semana admite em torno de 1,2 mil solicitantes de asilo, enquanto o Reino Unido se negou a participar do programa europeu de amparo. No ano passado, a Suécia recebeu 30 mil pessoas, o triplo do Reino Unido, em dados apresentados pela BBC.
“Vejo um país que não quer assumir a responsabilidade que deveria”, disse o ministro, em alusão ao Reino Unido. A situação em Calais, de acordo com Johansson, revela “um sistema que se está desmoronando”.
O representante sueco também criticou o chefe do governo de Londres por usar termos como “enxame” e “imigrantes ilegais” antes mesmo de avaliar a condição das pessoas que solicitam asilo, e lamentou que “tente dividir o povo, o que não é construtivo”.
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O secretário de Estado britânico de Imigração, James Brokenshire, defendeu por sua parte “a contribuição” feita por seu governo, com 800 milhões de libras destinadas à crise humanitária na Síria, e afirmou que era preciso diferenciar entre os que fogem de conflitos e os que emigram “em busca de uma vida melhor”.
Brokenshire comentou que a legislação no Reino Unido poderia ser alterada a fim de retirar as ajudas que atualmente são concedidas às famílias cuja solicitação de asilo foi rejeitada, cerca de 10 mil no país.
A ministra do Interior, Theresa May, em artigo publicado neste domingo nas imprensas britânica e francesa com o colega francês, Bernard Cazeneuve, tem opinião similar.
“Muitos veem a Europa, e em particular o Reino Unido, como um destino que oferece a perspectiva de benefícios econômicos. Este não é o caso, nossas ruas não estão asfaltadas de ouro”, afirma no texto, onde se pede à União Europeia que “rompa a ligação entre atravessar o Mediterrâneo e conseguir residência na Europa por razões econômicas”.
No mesmo artigo, os dois ministros afirmam que a crise de Calais não é assunto “só” de seus países e pedem envolvimento da União Europeia para abordar “a raiz” do problema.
Como resposta às tentativas de entrar no Eurotúnel feitas pelos estrangeiros não-europeus, que vivem em um acampamento provisório à espera que se decida sua condição, aumentaram a presença policial e as medidas de segurança.
Cameron, pressionado pelos setores mais reacionários de seu partido e do país, se solidarizou com os turistas e empresas afetados pelos atrasos na fronteira.