O ex-secretário de Estado dos Estados Unidos Henry Kissinger, vencedor do Prêmio Nobel da Paz, mas que também conta com controvérsias que o levam a ser chamado de “criminoso de guerra”, morreu na noite da última quarta-feira (29/11) aos 100 anos, segundo a Kissinger Associates Inc. A causa da morte ainda não foi revelada, mas o ex-diplomata faleceu em sua residência, em Connectitcut.
Kissinger ganhou fama nos anos 1970 por sua atuação como secretário de Estado e conselheiro de Segurança Nacional dos EUA nos governos dos presidentes Richard Nixon e Gerald Ford.
Ao longo de sua carreira diplomática, liderou esforços diplomáticos em relação à China, auxiliou na negociação para o fim do conflito do Yom Kippur de 1973 entre Israel e seus vizinhos, e teve um papel principal nos Acordos de Paz de Paris para encerrar a guerra do Vietnã, o que lhe rendeu o mais alto prêmio para pessoas que contribuem para a paz no mundo.
No entanto, sob seu comando, os Estados Unidos também financiaram golpes de Estado na América do Sul, como a ditadura no Chile e no Uruguai em 1973, e na Argentina em 1976.
Os regimes autoritários que derrubaram governos democraticamente eleitos nos países latinos deixaram milhares de mortos, exilados e desaparecidos que não foram identificados ou encontrados até hoje, quatro décadas depois.
Diante de seu papel global, confira declarações de líderes mundiais sobre o falecimento de Kissinger:
Benjamin Netanyahu, Israel
Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro de Israel – país que está em guerra contra a Palestina, tendo vitimado mais de 16 mil pessoas na Faixa de Gaza desde outubro – foi o líder mundial que escreveu a mensagem mais longa sobre a morte de Kissinger.
Por meio das redes sociais, o israelense lamentou o falecimento “de um grande estadista, estudioso e amigo”, afirmando que sua partida “marca o fim de uma era em que o seu formidável intelecto e a sua capacidade diplomática moldaram não só o curso da política externa norte-americana, mas também tiveram um impacto profundo na cena global”.
Netanyahu afirmou que teve o “privilégio” de encontrar Kissinger em diversas ocasiões, sendo a última dois meses atrás em Nova Iorque. O premiê ainda considerou que o ex-secretário de Estados dos EUA foi “um pensador que acreditava no poder das ideias e na importância do capital intelectual na vida pública”.
“Ao nos despedirmos deste homem gigante, apresento as minhas mais profundas condolências à sua família, amigos e admiradores em todo o mundo. O seu legado continuará a inspirar e orientar as futuras gerações de líderes e diplomatas”, finalizou.
It is with a heavy heart that I mourn the passing of a great statesman, scholar, and friend, Dr. Henry Kissinger, who left us at the age of 100.
Dr. Kissinger’s departure marks the end of an era, one in which his formidable intellect and diplomatic prowess shaped not only the… pic.twitter.com/JdUEoHbA6e
— Benjamin Netanyahu – בנימין נתניהו (@netanyahu) November 30, 2023
Gabriel Boric, Chile
Em meio a elogios de líderes mundiais, as declarações de mandatários latino-americanos de países que sofreram com golpes de Estado e ditaduras patrocinadas pelo governo norte-americano sob o comando do antigo diplomata vão na contramão de homenagens.
Apesar de não fazer declarações formais sobre a morte de Kissinger, o presidente do Chile, Gabriel Boric republicou em suas redes sociais uma notícia do jornal La Tercera, cuja manchete era uma declaração do ex-ministro das Relações Exteriores do Chile, Juan Gabriel Valdés, afirmando que o norte-americano “nunca conseguiu esconder sua miséria moral”.
Posteriormente, Boric republicou novamente uma publicação do próprio perfil de Valdés, que dizia: “morreu um homem cujo brilhantismo histórico nunca conseguiu esconder a sua profunda miséria moral”.
Ha muerto un hombre cuyo brillo histórico no consiguió jamás esconder su profunda miseria moral. K.
— Juan Gabriel Valdes (@jg_valdes) November 30, 2023
Xi Jinping, China
Por meio do Ministério das Relações Exteriores, o governo do chinês Xi Jinping considerou que Kissinger “atribuiu grande importância às relações sino-americanas e acreditava que essas relações eram cruciais para a paz e prosperidade da China, dos Estados Unidos e do mundo”.
Em referência aos atos do diplomata para as relações bilaterais entre os países, a chancelaria considerou que Pequim e Washington “devem herdar e promover sua a visão estratégica, coragem política e sabedoria diplomática”.
Benjamin Netanyahu/Twitter
Dentre declarações e homenagens de líderes mundiais, premiê de Israel foi o que escreveu mensagem mais longa sobre morte de diplomata
A pasta ainda fez referência ao “consenso importante” alcançado pelos presidentes chinês e norte-americano em São Francisco [em 15 de novembro de 2023], sobre respeito mútuo, convivência pacífica, cooperação. e desenvolvimento saudável e estável das relações.
Xi Jinping e Kissinger tiveram uma reunião em julho passado e conversaram sobre os feitos do diplomata para a diplomacia entre os países.
Por sua vez, o porta-voz da Embaixada da China em Washington, Liu Pengyu, avaliou que “o povo chinês jamais esquecerá Kissinger, sua morte foi uma grande perda para o mundo inteiro”.
“Ficamos profundamente chocados e tristes ao saber da morte de Henry Kissinger. Estendemos nossas profundas e sinceras condolências à sua família. A morte de Kissinger é uma grande perda para nossos países e para o mundo”, disse Liu Pengyu. Ele apontou que se tratava de “um velho amigo da China”, tendo em conta suas contribuições para as relações bilaterais.
Giorgia Meloni, Itália
A primeira-ministra italiana Giorgia Meloni declarou que Kissinger “foi uma referência para a política estratégica e a diplomacia mundial”.
“Foi um privilégio ter tido recentemente a oportunidade de discutir com ele os vários temas da agenda internacional. O seu falecimento nos entristece e expresso as minhas condolências pessoais e as do governo italiano à sua família e entes queridos”, escreveu em nota.
Vladimir Putin, Rússia
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, expressou suas condolências à esposa do ex-secretário de Estado dos EUA por meio de um comunicado divulgado pelo Kremlin, e o chamou de “diplomata excepcional e estadista sábio”.
“O nome de Henry Kissinger está indissociavelmente ligado à política externa pragmática da América, que desempenhou um papel fundamental na neutralização das tensões internacionais da altura e na obtenção de acordos soviético-americanos cruciais que contribuíram para reforçar a segurança global”, declarou Putin.
“Tive a oportunidade de me comunicar pessoalmente muitas vezes com esse homem profundo e extraordinário e, sem dúvida, guardarei dele a mais brilhante lembrança”, finalizou o russo.
Fumio Kishida, Japão
O premiê do Japão, Fumio Kishida, saudou as “contribuições significativas” do falecido Henry Kissinger para a paz e a estabilidade na Ásia.
Kissinger “fez contribuições significativas para a paz e a estabilidade regionais, incluindo a normalização dos laços diplomáticos entre os EUA e a China”, considerou.
“Gostaria de expressar meu mais sincero respeito pelas grandes conquistas que ele realizou e oferecer minhas condolências”, acrescentou ele.
Emmanuel Macron, França
Por meio das redes sociais, o presidente da França, Emmanuel Macron declarou que Henry Kissinger “foi um gigante da história”.
“O seu século de ideias e diplomacia [referência aos 100 anos de idade do diplomata] teve uma influência duradoura no seu tempo e no nosso mundo. A França endereça as suas condolências ao povo norte- americano”, completou.
Henry Kissinger was a giant of history. His century of ideas and diplomacy had a long-standing influence on his time and on our world. France addresses its condolences to the American people.
— Emmanuel Macron (@EmmanuelMacron) November 30, 2023
Olaf Scholz, Alemanha
“Henry Kissinger moldou a política externa norte-americana como poucos. O seu compromisso com a amizade transatlântica entre os EUA e a Alemanha foi significativo, e ele sempre permaneceu próximo da sua pátria alemã. O mundo perdeu um grande diplomata”, avaliou o chanceler da Alemanha Olaf Scholz por meio das redes sociais.
Henry Kissinger shaped American foreign policy like few others. His commitment to the transatlantic friendship between the USA and Germany was significant, and he always remained close to his German homeland. The world has lost a great diplomat. pic.twitter.com/waEQsq51yo
— Bundeskanzler Olaf Scholz (@Bundeskanzler) November 30, 2023
(*) Com Ansa e Sptuniknews