A missão internacional dos diretos humanos de solidariedade, formada por 21 membros, viajou a cinco regiões colombianas para reunir denúncias dos manifestantes e elaborar um relatório que será enviado a organismos e cortes internacionais.
O grupo, que está desde a última terça-feira (25/05) no país, assegura que é possível caracterizar uma prática sistemática de violência, tortura e perseguição por parte das forças de segurança colombianas.
“Segundo a minha experiência, vejo que os Estados não investigam a eles próprios. É necessário levar essas denúncias a outros países para que se inicie um processo real de verificação dos fatos”, afirma Sérgio Maldonado, membro da missão e irmão de Santiago Maldonado, vítima de repressão policial na Patagônia Argentina.
Os membros da missão estiveram na região de Popayán, Pereira, Cali, Bogotá e Medellín a fim de coletar informações e analisar as ocorrências. Diversas organizações colombianas registram casos de mortos e feridos após violência policial nos protestos que duram mais de um mês no país.
De acordo com o Instituto de Desenvolvimento da Paz (Indepaz), em 30 dias, somam 65 mortos, 47 vítimas de lesão ocular e 358 pessoas desaparecidas. Somente entre os dias 27 e 28, a ONG Temblores registrou 3.405 denúncias de violência policial, incluindo 1.445 prisões arbitrárias e 22 estupros.
“Os relatos coincidem que em algum momento da noite, nos pontos de concentração das manifestações, as forças repressivas avançam contra os manifestantes que continuam nos lugares e nos bairros periféricos, onde lançam bombas de gás lacrimogêneo vencidas para dentro das casas, também disparam balas de borracha e outras munições não letais a uma distância abaixo da mínima recomendada das pessoas”, comenta Sebastián Avela, membro da missão internacional.
Wikimedia Commons
Colombianos realizam atos simbólicos para denunciar a violência contra os manifestantes da paralisação nacional
Depois de divulgar parte das informações que serão compiladas no informe final, a missão foi procurada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e por representantes da Organização das Nações Unidas na Colômbia.
Primeiro, o governo de Iván Duque negou a entrada da CIDH no país, mas, na última semana, acabou cedendo à pressão internacional, e o grupo confirmou que chegará a Bogotá no dia 7 de junho.
“Expressamos nossa profunda preocupação diante das denúncias de ataques a manifestantes por parte de civis armados que disparam diante de agentes das forças públicas. Instamos o Estado colombiano a investigar e sancionar os responsáveis”, declarou o organismo em comunicado.
No último domingo (30/06), a Alta Comissária para Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, pediu que seja realizada uma investigação rápida, independente e imparcial dos casos de violência. “Peço que coloquem fim a todas as formas de violência, incluindo o vandalismo, e que todas as partes sigam conversando para que se garanta o respeito à vida e à dignidade das pessoas”, afirmou Bachelet.
O comunicado da representante de Direitos Humanos da ONU chega após a denúncia de 13 assassinatos na cidade de Cali, capital do estado Valle del Cauca, na última sexta-feira (28/05). Cali é o epicentro das manifestações e também a cidade com maior controle militar. O presidente Duque visitou a cidade no dia 28, quando anunciou o envio de mais sete mil soldados para conformar uma força especial antibloqueios.
(*) Com Brasil de Fato.