Moscou vai hoje às urnas para escolher seu novo prefeito em um pleito que está sendo visto como o primeiro grande teste ao governo do presidente Vladimir Putin, reeleito em março de 2012 em meio a denúncias de fraude e crescente autoritarismo.
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Sandro Fernandes / Opera Mundi
Candidato da oposição, Navalni não tem chance de vitória
Apesar da vitória certa do atual prefeito, Sergei Sobyanin, que tem o apoio de Putin, as eleições servirão como um termômetro para saber o grau de (in)satisfação dos moscovitas com o Kremlin. O principal candidato da oposição é o proeminente blogueiro Aleksei Navalni, que se tornou uma figura política popular na Rússia com suas denúncias de importantes casos de corrupção no país.
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Navalni não tem chances de vitória. As pesquisas indicam que o candidato conseguirá entre 10% e 15% dos votos, o que garantiria a vitória de Sobyanin já no primeiro turno. Poucos institutos de opinião se arriscam em apontar 20% de apoio popular para o líder da oposição russa.
Apesar da reeleição certa do candidato de Putin, as eleições representam uma possível mudança de rumo no entendimento político da capital russa, a maior cidade do país. “Graças à participação de Navalni, as eleições em Moscou têm pela primeira vez uma política de base”, explica o professor de Economia Sergei Guriev, antigo reitor da Rossiskaya Economicheskaya Shkola, na capital russa.
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Navalni conseguiu recrutar mais de 15 mil voluntários e arrecadou 50 milhões de rublos (R$ 3,45 milhões) de cidadãos russos para a sua campanha, algo sem precedente no país. “A campanha de Navalni é um bom presságio para o futuro da Rússia. A ausência de uma verdadeira concorrência política e a falta de confiança nos políticos são os principais problemas do país”, conta Guriev.
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O slogan da campanha de Navalni parece capturar este apelo a uma nova forma de fazer política. “Mude a Rússia – comece com Moscou”, rezam os cartazes e camisetas espalhados pela cidade. Em Moscou, 42% da população pertence à classe média e a renda per capita da cidade se iguala à da Itália. Na Rússia como um todo, apenas 18% dos cidadãos podem ser classificados como classe média. Esta particularidade econômica da capital russa, que possui o 9º maior PIB do mundo, com 520 bilhões de dólares em 2012 (segundo o Brookings Institution), e abriga o maior número de bilionários do planeta, criou o terreno perfeito para o crescimento de uma oposição que não parece estar satisfeita com o paternalismo do partido Rússia Unida e do presidente Vladimir Putin.
“Não queremos a continuação deste regime (de Putin). Vivemos quase uma ditadura. O partido Rússia Unida (majoritário) governa em todo o país. Isso não pode continuar assim”, declara o jovem Aleksei Zhirkov antes de entrar em uma seção eleitoral do sul de Moscou. “Não concordo com tudo o que diz a oposição, mas votarei em Navalni hoje porque é a única alternativa que temos. Ele não vai ganhar, mas vim aqui deixar o meu apoio”.
Em 18 de julho, Navalni foi condenado por apropriação indébita por um juiz em Kirov, a 900 quilômetros de Moscou. O veredito de cinco anos de prisão levou milhares de pessoas às ruas em Moscou e recebeu a condenação de líderes dos EUA e da Europa. Em menos de 24h, o advogado de Navalni recorreu da sentença e conseguiu a liberação do oposicionista, que aguarda novo julgamento.
O fato só aumentou a popularidade do candidato, que cunhou o termo “partido de ladrões e vigaristas” para o partido governista Rússia Unida. Estas são as primeiras eleições regionais desde 2004, ano em que Vladimir Putin suspendeu as eleições diretas em todas as entidades federativas da Rússia por uma “questão de segurança nacional”.
Moscou teve o mesmo prefeito – Yuri Luzhkov – entre 1992 e 2010, quando este foi demitido por decreto pelo então presidente Dmitry Medvedev. O Kremlin se limitou a dizer que a “perda de confiança (em Luzhkov)” foi o motivo da demissão e indicou o atual prefeito e candidato à reeleição, Sobyanin, para o cargo.
Além de Sobyanin e Navalni, as eleições deste domingo contam com outros quatro candidatos, todos sem chances de disputar o segundo lugar de um improvável segundo turno. O atual prefeito Sobyanin se recusou a participar de todos os debates entre os candidatos.