Está de volta ao Brasil uma exposição de dupla relevância para cidadãos devidamente conectados ao seu tempo: “As dores da Colômbia”, com mais de 60 obras sobre o conflito colombiano de autoria de Fernando Botero, pintor e escultor nascido em Medellín há quase 80 anos – e que figura, com seu inconfundível estilo que apela à redondeza, entre os artistas mais ativos, conhecidos e bem pagos da atualidade.
Com seis aquarelas, 36 desenhos e 25 pinturas realizadas entre 1999 e 2004 e posteriormente doadas por Botero ao Museu Nacional da Colômbia, de Bogotá, a mostra retorna ao país depois de estrear em São Paulo no Memorial da América Latina, em 2007, quando foi visitada por 25 mil pessoas. Agora vem com mais fôlego, ocupando o MuBE, na capital, a partir desta sexta-feira (25/11), depois de ter passado por Brasília, Curitiba e Rio de Janeiro e antes de chegar a Porto Alegre, Belo Horizonte e Salvador.
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“O sucesso da primeira experiência foi um estímulo para trazer a exposição novamente ao Brasil”, diz Denise Carvalho, da Aori, responsável pela produção do evento. Mas, indo além das expectativas positivas de público, outros dois motivos fazem de “As dores da Colômbia” um evento importante na agenda cultural do país.
Por um lado, é a primeira vez que o Brasil recebe uma coleção exclusiva de Botero, um dos artistas mais prestigiados da América Latina, com quadros e esculturas expostos nos mais importantes museus internacionais. “Há pelo menos 25 anos uma mostra de Botero não circulava internacionalmente”, afirma Denise. Esse, ao contrário, é um conjunto de obras disponível para viagem e que o próprio artista “deseja que viaje, por estar relacionado a temas que denunciam a violência na Colômbia”, explica. Nesse convite à reflexão, reside o aspecto mais importante da exposição.
“Sou contra a arte como forma de combate. Mas diante do drama que afetou a Colômbia, senti a obrigação de deixar um registro sobre um momento irracional da nossa história”, declarou o artista. Apesar de evitar associações políticas com o seu trabalho, não é de hoje que Botero (que reside há mais de 40 anos fora da Colômbia) lança olhares e pincéis sobre o tema da violência.
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Na década de 1960, ele criou o mural “Massacre dos inocentes” e, depois disso, os quadros “O Assassinato de Rosa Calderón” e “A guerra”, em que retrata as atrocidades vividas por sacerdotes, mulheres e crianças. Ganhou destaque, especialmente, a série de quadros que pintou evocando torturas feitas por soldados norte-americanos na prisão de Abu Ghraib, no Iraque.
Veias abertas
Assim como Botero se refere a um “passado” violento, muitos colombianos insistem que esses anos de violência já não são uma realidade. Na passagem da mostra por Brasília, por exemplo, muitos cidadãos colombianos radicados no Brasil evitaram comentar o tema por trás dos quadros e, segundo reportagem da Agência Brasil, alguns se queixam da imagem de violência que “continua a ser vendida” sobre a Colômbia.
Segundo Maria Elvira Pombo Holguín, embaixadora da Colômbia no Brasil, “a Colômbia tem orgulho de expressar seu anseio de liberdade através da arte. Botero se refere à Colômbia para ilustrar suas angústias sobre a própria condição humana. Em nosso país, essas dores foram a base para a construção de uma sociedade justa”.
De fato, o trabalho exposto em “As dores da Colômbia” faz referência a episódios dos anos 1980 e 1990 no país, quando os atentados de narcotraficantes eram comuns e bombas eram colocadas em centros comerciais e carrosestacionados em locais de grande circulação com o objetivo de causar danos inclusive à população civil. Mas várias telas da mostrasão cenas de tortura ou de mães chorando a morte de seus filhos, infelizmente ainda vivenciadas na Colômbia, onde a violência de paramilitares, guerrilha e exército persiste alimentada pela rentável lógica da guerra.
Para Angela Santamaria, que veio a São Paulo representar o Museu Nacional da Colômbia na abertura da mostra, “quem dera essas imagens não fossem tão reais”. “Negar que a violência ainda é um problema para nós é tapar os olhos. O que essa exposição propõe é justamente o contrário”, declarou ao Opera Mundi.
Serviço:
Dores na Colômbia
De 25 de novembro de 2011 a 8 de janeiro de 2012 em São Paulo
MuBE (Museu Brasileiro da Escultura)
Av. Europa, 218 – São Paulo
De terça a domingo das 10h às 19h
Entrada gratuita
Confira as datas da exposição em outras cidades
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