“Sou vítima de um seqüestro. De um complô”, disse o presidente de Honduras, Manuel Zelaya, à Telesur, diretamente da capital da Costa Rica, São José, para onde foi levado por militares hondurenhos hoje (28). Na primeira entrevista desde que foi retirado do poder pelo Exército após uma ordem judicial da Suprema Corte, Zelaya pediu o diálogo e a volta da democracia, e que o povo hondurenho se manifeste, mas de forma pacífica.
A declaração do Poder Judiciário indica que, a pedido do Ministério Público, uma ordem judicial de sexta-feira passada prevê que as Forças Armadas deveriam confiscar todo o material para a consulta popular promovida por Zelaya. Essa ordem não foi acatada pelo poder Executivo. Por isso, o juiz responsável pela decisão instruiu os militares a confiscarem todo o material em coordenação com promotores do Ministério Público.
Nesse sentido, a ação das Forças Armadas “se inscreve na lei”, acrescenta o comunicado.
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Entrevista à Telesur:
Posteriormente, em entrevista coletiva em San José, o presidente deu detalhes de como aconteceu sua prisão. Ele também pediu ajuda ao governo norte-americano de Barack Obama e defendeu a consulta, que foi o estopim da atual crise política no país.
Fui traído, enganado e ultrajado pela cúpula das Forças Armadas”, disse. “Acordei com tiros e gritos da minha guarda presidencial. [Os militares] invadiram minha casa a tiros. Fui empurrado e ameaçado com armas de fogo. Isto é um sequestro brutal, que não tem justificativa”, descreveu Zelaya.
Manuel Zelaya concede coletiva de imprensa ao lado do presidente da Costa Rica, Óscar Arias, em São José – Jeffrey Arguedas/EFE
“Não me assassinaram porque os soldados vêm do povo e estavam tremendo quando me ameaçavam, eles sabem que estão recebendo ordens de uma elite voraz”, que “deseja manter o país isolado e na extrema da pobreza”, continuou.
Zelaya pediu um posicionamento da embaixada dos Estados Unidos sobre o que havia acontecido. “Se os Estados Unidos não estiverem por trás disso, a situação não se manterá por mais de 48 horas. Mas os Estados Unidos podem evitar este terrível golpe que estão dando ao nosso povo e à nossa democracia”, declarou.
Votação
Zelaya defendeu a realização da votação que aconteceria hoje no país e que foi o estopim dos conflitos políticos em Honduras. “Queríamos fazer bem a Honduras, instaurando um processo participativo. Era apenas uma pesquisa, e não se pode justificar a interrupção da democracia e um golpe por causa de uma pesquisa”.
“Não podemos permitir que interrompam a vontade do povo por uma grosseria de uma elite voraz que está dominando o país e que não tem limites. Honduras vai retroceder 40 anos”, declarou o presidente, lembrando que alguns setores conservadores da sociedade , que estavam contra a medida do presidente ainda não haviam se pronunciado sobre o golpe que aconteceu essa madrugada.
Internet
Apesar da falta de energia elétrica e sinal de algumas televisões na parte da manhã, os hondurenhos se comunicam ativamente via internet, descrevendo a situação no país por meio de mídias sociais como o Facebook, Twitter entre outros.
No Twitter, os principais jornais divulgam notícias a toda hora, como o La Prensa e o Diário El Heraldo. Na rede de relacionamentos Facebook, há comunidades pró e contra Manuel Zelaya.
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Brasil
Em comunicado oficial do ministério de Relações Exteriores, o governo brasileiro “condenou veementemente”a retirada do chefe de Estado de Honduras e pediu a restituição imediata de Manuel Zelaya ao cargo de presidente. E ainda classificou os acontecimentos como “atentado à democracia” e concluiram dizendo que “ não condizem com o desenvolvimento político da região”.
Além do Brasil, condenaram a ação em Honduras a União Europeia, os Estados Unidos, México, Argentina, Cuba, Chile, Peru, Equador, Venezuela, Bolívia, entre outros.
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