A votação do segundo turno das eleições presidenciais no Egito teve início neste sábado (16/06). Cerca de 52 milhões de eleitores têm até domingo (17/06) para escolher entre Mohammed Mursi, da Irmandade Muçulmana, e Ahmed Shafiq, ex-primeiro ministro de Hosni Mubarak, para ocupar a Presidência do país.
Durante o primeiro turno, realizado no último mês de maio, Mursi foi ligeiramente o candidato mais votado, com 24,8% contra os 23,7% de Shafiq. Como o voto é facultativo no Egito, apenas 46% dos eleitores compareceram às urnas durante a primeira fase do pleito.
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Agência Efe
As eleições presidenciais deste ano são as primeiras desde a queda do ditador Mubarak em fevereiro de 2011. O Conselho Militar que assumiu o controle do país após o fim do regime se comprometeu a entregar o cargo da presidência ao vencedor das eleições até o dia 30 de junho. No entanto, uma série de decisões tomadas pelo Conselho às vésperas do processo eleitoral coloca em dúvida o futuro político do Egito.
Nesta quinta-feira (14/06), a Junta Militar dissolveu o Parlamento egípcio, eleito democraticamente em novembro de 2011, e assumiu o controle do poder legislativo do país. Os militares também restauraram a lei marcial dos tempos da ditadura, permitindo prisões arbitrárias. Além disso, a Justiça decidiu pela impunidade aos representantes do regime de Mubarak ao permitir a candidatura de seu ex-primeiro ministro, Ahmed Shafiq.
O Opera Mundi conversou com o coordenador do Centro de Direito Global da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas, Salem Nasser, sobre o cenário político vigente no Egito. A seu ver, o país vive um processo contra-revolucionário que apresenta ameaças concretas à luta por democracia. “Os militares parecem dizer: ‘mandamos junto com Mubarak e, agora, mandaremos sem Mubarak’”, disse. Nesse sentido, “as medidas são um sinal claro de que o regime não quer morrer”, conclui.
O professor de Direito Internacional revela uma visão pessimista quanto ao futuro das eleições presidenciais. “Os militares não chegaram até aqui para deixar a Irmandade Muçulmana assumir”, ponderou. Ele especula duas perspectivas possíveis de efeitos do processo eleitoral caso a Irmandade Muçulmana seja vencedora. O Conselho pode alegar a ilegalidade da candidatura de Mursi, da mesma forma que dissolveu o Parlamento, ou manipular os resultados eleitorais.
O golpe foi realizado com grande desenvoltura pelos militares, sustentou o analista. A Junta tomou esta decisão confiante de que o povo já está cansado de continuar nas ruas e de que setores da população já apresentam um certo receio de um governo liderado pela Irmandade Muçulmana. Para Nasser, o golpe não pode frear o processo de transformação social do Egito. “Alguma coisa transformou os espíritos do povo”, disse. “Por mais que haja retrocesso, o Egito não vai voltar a ser o que era. A população acordou para o poder que tem”.