Eles vieram dos mais diversos países, percorreram quilômetros e quilômetros, de avião, carro, ônibus, somente para homenagear o presidente venezuelano Hugo Chávez, falecido esta semana. Nesta sexta-feira (08/03), representantes de movimentos sociais de toda a América Latina compareceram à Academia Militar, no Paseo de Los Próceres, Caracas, cantando, dançando e balançando bandeiras nacionais. Por meio deles, o ideal de integração da “pátria grande” de Chávez foi personalizado nesta tarde.
Marina Terra/Opera Mundi
Delegação de movimentos sociais bolivianos ocupa auditório da Academia Militar, no Paseo de los Próceres, onde Chávez é velado
“Viemos à Venezuela homenagear o presidente que tanto fez pela integração dos povos latino-americanos, especialmente os originários”, afirma Segundina Orellana, de 30 anos, coordenadora de mulheres do Trópico de Cochabamba, Bolívia. Enquanto segura um cartaz com os dizeres “Chávez vive. Bolívia está contigo”, ela complementa: “costumamos dizer em meu país que Chávez também é nosso pai. Essa é a nossa homenagem.”
Representantes de países como Chile, Argentina, Guatemala e México se reuniram em uma sala próxima ao local onde Chávez está sendo velado para assistir a cerimônia dedicada aos chefes de Estado. A cada vez que os líderes de Equador, Rafael Correa, Bolívia, Evo Morales e Cuba, Raúl Castro, apareciam no telão, todos celebravam efusivamente, agitando as bandeiras e cantando “Chávez vive, a luta segue!”.
“Foi embora um homem que poderia ter feito muito mais. No entanto, ele deixou uma mensagem muito grande, para todos os povos oprimidos, e também para o mundo. Os valores e princípios implantados pelo comandante Chávez, devem se refletir em mais trabalho, e principalmente em igualdade de condições”, disse o líder mineiro Walter Diaz, da Fencomin (Federação de Cooperativas Mineiras de Potosi).
Chávez colocou em prática desde o início de sua gestão uma política externa caracterizada pela aproximação aos países vizinhos e na integração regional, além de uma forte rejeição ao imperialismo norte-americano. Dele partiu o incentivo para a criação de novos mecanismos de integração e pela eliminação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), proposta feita pelos Estados Unidos em 1994.
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Durante os 14 anos de governo, Chávez esforçou para fortalecer a Unasul (União de Nações Sul-Americanas), Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Carirbenhos) e Alba (Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América), sendo o último grupo uma de suas mais audaciosas investidas.
[Segundina Orellana, coordenadora de mulheres do Trópico de Cochabamba, Bolívia: “Chávez também é nosso pai”]
Ao contrário de outros blocos, a Alba não tem como pilar a liberalização comercial ou alfandegária, mas a tentativa de estabelecer um mecanismo de auxílio-mútuo na economia, nas políticas sociais e no intercâmbio cultural.
Fundada em 2004, a aliança é integrada por Venezuela, Cuba, Equador, Bolívia, Nicarágua, República Dominicana, São Vicente e Granadinas, Antígua e Barbuda. Não foi uma surpresa que os chefes de Estado de todos esses países estavam presentes à cerimônia desta sexta-feira.
Já no passado a Venezuela foi integrada ao Mercosul, após o primeiro protocolo de candidatura ter sido assinado em 2006. Até 2012 a Venezuela era barrada por deputados e senadores do Paraguai, um dos integrantes do bloco. Com o golpe de Estado contra o presidente Fernando Lugo, o Mercosul decidiu suspender provisoriamente o país devido à quebra das cláusulas democráticas, abrindo espaço para a entrada definitiva da Venezuela.
A adesão da Venezuela aumentou a população do Mercosul para 270 milhões de habitantes, cerca de 70% da população da América do Sul e o PIB (Produto Interno Bruto) do bloco passou a ser de US$ 3,3 trilhões, aproximadamente 83,2% do PIB sul-americano.
O Brasil foi um dos maiores interessados na aceitação da Venezuela ao bloco, devido ao crescimento das relações internacionais e comerciais entre os dois países, principalmente durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para o chanceler brasileiro Antonio Patriota, o presidente venezuelano “será lembrado como o líder da integração regional”. Todos na cerimônia de hoje hão de concordar.
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