Desde que as autoridades sanitárias no Japão detectaram os primeiros casos de contágio doméstico provocado pelo vírus A (H1N1), no último final de semana, a quantidade de infectados pela nova gripe não para de crescer no país. Nesta terça-feira (19), o Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar Social elevou para 191 o número de casos confirmados da doença, segundo a agência de notícias Kyodo. O Japão já ocupa o quarto lugar na lista dos principais focos da pandemia no mundo, atrás apenas do México, Estados Unidos e Canadá.
Garotas caminham em Tóquio – Foto: Bruna Siqueira Campos
O temor de que o novo vírus se espalhe pelo país fez com que os governos das províncias de Hyogo e Osaka, onde está concentrado o maior número de casos da gripe, tomassem algumas medidas em caráter emergencial. Nas duas localidades, 4.043 escolas públicas fecharam as portas, e universidades da região também emitiram avisos de alerta a alunos e funcionários.
Hyogo, no oeste do Japão, concentra o maior número de casos, com 106 pacientes. Osaka vem em seguida, com 69 pacientes, segundo a emissora pública de televisão NHK.
O paulistano Seiji Isotani, 29, faz doutorado na Universidade de Osaka e conta que a instituição decidiu cancelar as aulas por uma semana. Há quatro anos no Japão, o brasileiro afirma que tem evitado aglomerações e comenta que já é difícil encontrar máscaras cirúrgicas nas farmácias, lojas de conveniência e demais pontos de venda da cidade. “Alguns lugares públicos, como academias de ginástica e 'onsens' (casas de banhos termais), estão fechados e puseram cartazes explicando que é por causa da influenza.”
O paulistano Seiji Isotani, 29 – Foto: Arquivo pessoal
Alunos e professores da Universidade de Tóquio também receberam orientações para evitar o contágio da gripe. Monitorar a temperatura corporal antes de sair de casa e usar máscaras enquanto estiver nas dependências da instituição foram algumas das recomendações divulgadas no site da entidade, que também disponibilizou uma relação com telefones de postos de saúde na capital japonesa, alguns com funcionamento em período integral.
Na cidade de Kobe, em Hyogo, o avanço da gripe suína levou a Japan Railways (JR), que controla a maior parte da malha ferroviária do arquipélago, a fechar quiosques em algumas estações de trem. Outras empresas de grande porte do país, como Shiseido, Mitsubishi e Daihatsu, recomendaram aos seus funcionários que cancelassem viagens “desnecessárias”, inclusive em território japonês.
Mudança de estratégia
Por conta do boom de casos da nova gripe no Japão, a equipe do primeiro-ministro Taro Aso informou que irá encerrar, até o final desta semana, as inspeções que vinham sendo feitas no Aeroporto Internacional de Narita, o principal do país. A nova estratégia será investir nas campanhas de prevenção e controle internos.
Passageiros que chegam de outras áreas de risco, como os Estados Unidos, hoje são obrigados a passar por uma avaliação antes do desembarque. Além de terem a temperatura do corpo checada por um aparelho, é necessário preencher um formulário relatando as condições de saúde a uma equipe de vigilância sanitária do aeroporto, ainda no avião. Desde que as inspeções começaram a ser realizadas, no final de abril, quatro japoneses foram identificados com o vírus H1N1, entre eles um professor que voltava do Canadá.
Orientações contra a gripe
Se até então as máscaras cirúrgicas eram vistas como parte curiosa da paisagem urbana do Japão, agora elas são encaradas como artigo de primeira necessidade contra a influenza, até pelos brasileiros. Tradicionalmente, esse mercado já movimenta mais de 1 bilhão de dólares por ano no país. “Estou usando máscara nos trens desde sexta-feira passada, mas nunca havia usado antes. Tenho pânico de ficar doente aqui no Japão, então prefiro prevenir”, explica a arquiteta Ivana Figueiredo, 33, que há pouco mais de um ano deixou Vila Velha, no Espírito Santo, para estudar em Tóquio.
Além de recomendar o seu uso em trens, metrôs e outros locais públicos, o Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar Social elaborou um manual de conduta, que inclui uma série de medidas contra a propagação da doença. Uma versão do documento em português já está disponível no site da Embaixada do Brasil em Tóquio.
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Lavar as mãos com água e sabão por mais de 15 segundos e fazer gargarejo são alguns dos cuidados recomendados ao se chegar em casa. Como a doença também pode ser transmitida pelo toque, e não apenas pela saliva, o ministério japonês avisa que o ideal é não esfregar os olhos, coçar o nariz ou tocar a boca enquanto se estiver em potenciais focos de contaminação, como os meios de transporte públicos.
Ainda de acordo com o manual divulgado pelo governo, o estoque de alimentos e artigos de higiene pessoal por um período de até duas semanas deve ser levado em conta, devido aos riscos de uma eventual pandemia.
Pessoas contaminadas pela doença que se recusarem a permanecer em observação, conforme determina a “Lei da Quarentena”, em vigor no país, podem ser penalizadas com até seis meses de reclusão ou condenadas a pagar uma multa equivalente a 50 mil dólares em dinheiro.
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