O Conselho de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) autorizou nesta quinta-feira (27/03) uma investigação criminal composta por 47 países para analisar as atrocidades cometidas durante a guerra civil no Sri Lanka (1983-2009).
Para Navi Pillay, do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, as autoridades da ilha asiática fizeram “pouco progresso” no sentido de assegurar a responsabilidade pelos crimes de guerra contra a oposição tâmil. Em resposta, o porta-voz do presidente do Sri Lanka, Mahinda Rajapaksa, disse à Al Jazeera que não sabia se o governo iria cooperar com a investigação, pois rejeita veementemente as acusações.
Efe
Desenho de Che Guevara em presídio desativado na cidade de Kandy, no Sri Lanka
“Não se trata de direitos humanos, mas de uma motivação política e tendenciosa; uma injusta violação à soberania do Sri Lanka”, afirmou ao veículo árabe. “A liderança de Rajapaksa derrotou o terrorismo e assegurou o direito humano supremo: o direito à vida” completou o porta-voz.
De acordo com Pillay, o Sri Lanka vem se tornando cada vez mais um Estado autoritário. Os Estados Unidos apelaram ao Conselho para investigar os mais recentes ataques contra jornalistas, defensores dos direitos humanos e das minorias religiosas no país. “Ainda há muito trabalho a ser feito para garantir uma verdadeira reconciliação, bem como uma instauração de um governo democrático que respeite os direitos humanos no Sri Lanka”, disse a vice-secretária assistente de Estado dos EUA, Paula Schriefer.
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Entenda o conflito
O Sri Lanka passou por uma guerra civil que durou 26 anos e custou a vida de pelo menos 100.000 pessoas. O conflito terminou há cerca de 5 anos, quando as tropas do governo cingalês esmagaram a oposição separatista, conhecida como Tigres Tâmeis. O grupo era composto pela minoria de etnia tâmil, que alegava sofrer discriminação da maioria cingalesa e exigia a formação de um Estado independente na ilha, denominado Tamil Eelam.
Para a ONU, ambos os lados são responsáveis pelas atrocidades cometidas durante a guerra, mas culpam principalmente as tropas do governo pela realização de ataques contra áreas predominantemente civis no período mais grave do conflito – entre setembro de 2008 e maio de 2009. De acordo com o relatório das Nações Unidas, nesta fase final da guerra, estima-se que 40.000 pessoas foram mortas – estatística contestada pelas autoridades cingalesas.
Na quarta-feira (26/03), centenas de manifestantes do grupo muçulmano Thawheed Jamaath se reuniram em Colombo, antiga capital do país, para mostrar insatisfação pela atitude da ONU. “Se a resolução passar, os Tigres Tâmeis vão tentar se reorganizar e restabelecer seu poder. Se isso acontecer, haverá outra guerra com a ascensão do problema étnico no Sri Lanka”, explicou Thawseef Ahamed, um dos organizadores do protesto, à Al Jazeera. “Estamos agora vivendo uma vida pacífica e não temos nenhum problema neste momento”, acrescentou.