Um dia após a divulgação dos resultados das eleições regionais na Venezuela, amplamente favoráveis ao governo do presidente Hugo Chávez, a oposição dá início a um processo de reflexão. Os candidatos da aliança MUD (Mesa de Unidade Democrática) perderam em 20 dos 23 Estados venezuelanos, sendo que três deles bastiões opositores: Zulia, principal produtor de petróleo e há três mandatos nas mãos de políticos da oposição, Carabobo, onde está grande parte dos centros industriais do país, principalmente petroquímico, e Táchira, na sensível fronteira com a Colômbia.
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Efe
O governador de Miranda Henrique Capriles conseguiu a reeleição sobre Elias Jaua. A oposição, porém, saiu enfraquecida das eleições
A perda de terreno foi destaque nos principais jornais opositores. Enquanto o El Nacional estampou “Chavismo se apodera de bastiões opositores”, o El Universal titulou “Oposição cede espaço”. Em análise para o El Universal, o articulista Roberto Giusti escreveu que é hora de a oposição determinar as causas da derrota. “E essa revisão compreende a eficiência de uma MUD cujos membros não terminaram de soldar uma frente sólida, clara em sua estratégia e convincente em sua proposta”.
De acordo com o secretário-executivo da MUD, Ramón Guillermo Aveledo, o momento de balanço do fraco desempenho nas eleições já começou. “Todos os partidos devem refletir; é a nossa obrigação”, disse. Para ele, o resultado “é consequência do que foi decidido em 8 de outubro”, em referência à vitória de Chávez sobre Henrique Capriles, reeleito neste domingo governador de Miranda, um dos três governos conquistados pela oposição.
Apontado como uma liderança opositora em construção, Capriles decidiu se candidatar novamente em Miranda após a derrota de dois meses atrás. Apesar de celebrar sua conquista, ele lamentou o cenário negativo da MUD no país. “Estou imensamente feliz pelo nosso povo de Miranda (…) mas não posso me sentir feliz pela nossa Venezuela”, discursou na noite do domingo.
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No entanto, mesmo com a vitória em cima de Elias Jaua, nome forte do chavismo, Capriles, do Partido Primeiro Justiça, não deve se firmar como um líder da oposição, na opinião do analista venezuelano Alberto Aranguibel. “A MUD nunca teve uma liderança consistente. Eles tiveram a oportunidade de estabelecer Capriles, mas preferiram rebaixá-lo a uma candidatura regional, em vez de projetá-lo nacionalmente”, disse a Opera Mundi.
Aliança
A heterogeneidade de posicionamentos dentro da MUD, formada por partidos como os tradicionais Copei (democrata-cristão) e AD (Ação Democrática) e os mais novos e mais conservadores, Primeiro Justiça e Vontade Popular, é apontada por analistas como uma das causas para a dificuldade em gerar uma figura unificadora. Além disso, a aliança opositora precisaria não somente oferecer um candidato agregador, como que também tenha a capacidade de neutralizar a força de Chávez no país.
Uma das figuras políticas mais importantes e moderadas da oposição, o secretário nacional da AD, Henry Ramos Allup, afirmou nesta segunda-feira que há “uma mensagem” por trás dos resultados e que tanto governo quanto oposição devem analisá-la. “É importante assinalar que, para alguns civis, militarismo e centralismo se constituem como valores. O fato de que militares e ex-militares tenham ganhado por contundentes resultados é algo para se refletir”, disse.
Desde a derrota para Chávez, o posicionamento do líder de um dos partidos mais tradicionais da Venezuela, que junto com o Copei estabeleceu o Pacto de Punto Fijo, indica uma saturação da MUD. Em outubro, ele afirmou que os partidos Primeiro Justiça, UNT (Um Novo Tempo) e Vontade Popular gastaram “muitíssimo dinheiro com publicidade e não tiveram os melhores resultados”. Capriles, o agora ex-governador de Zulia Pablo Peréz e o coordenador da campanha oposicionista Leopoldo Lopez, respectivamente, são filiados a essas legendas. “O partido de Lopéz foi o que menos teve votos e o que gastou mais dinheiro”, reclamou na época.