A oposição venezuelana antecipa os trabalhos visando às eleições que se aproximam após a morte de Hugo Chávez, avaliando a definição do seu candidato, uma decisão que pode sair em questão de dias ou até mesmo horas, enquanto o chavismo chora a partida do seu líder.
As próximas eleições representarão a primeira oportunidade em 14 anos de a oposição venezuelana concorrer em um pleito presidencial sem enfrentar Chávez, que triunfou em todas as consultas presidenciais no período e ainda resistiu a uma tentativa de golpe de Estado que o afastou do poder por 48 horas em abril de 2002.
O governo já tem seu candidato, designado pelo próprio Chávez durante sua última alocução, no dia 8 de dezembro do ano passado, quando pediu apoio para o vice-presidente, Nicolás Maduro, caso não pudesse manter a condução do país após a operação à que seria submetido três dias depois.
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Por sua parte, a aliança opositora MUD (Mesa da Unidade Democrática), embora não tenha anunciado formalmente seu aspirante, antecipou que “é verdade” que o governador do estado de Miranda, Henrique Capriles, é “o homem mais forte” da coalizão e “a primeira opção” dos adversários do governo.
No entanto, o secretário-executivo adjunto da MUD, Ramón José Medina, disse à Agência Efe que mesmo que Capriles seja a primeira opção da oposição, existem outras “lideranças evidentes”, e mencionou a deputada María Corina Machado e o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma.
Capriles, que nas eleições presidenciais de 7 de outubro somou 44,39% votos, enquanto Chávez triunfou com 55,5% do eleitorado, foi designado como representante da MUD na terça-feira (05/03) para prestar condolências à família do falecido governante.
Os membros da MUD asseguraram ainda que houve reuniões permanentes até mesmo antes do anúncio da morte do presidente para analisar e discutir o processo eleitoral que se avizinha.
O cenário, no entanto, já se vislumbra polêmico, pois apenas um dia após a morte de Chávez a MUD assinalou que devem ser analisadas as condições nas quais acontecerão as eleições e denunciou um suposto “abuso” por parte do governo, a quem pediu respeito, da mesma forma que às Forças Armadas.
Medina comentou que o governo abusou ao fazer uma transmissão em cadeia nacional por mais de seis horas do cortejo fúnebre de Chávez e criticou o ministro da defesa, Diego Molero, por manifestar seu apoio a Maduro.
O titular da Defesa manifestou que Maduro, o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, e “todos os poderes constituídos” contam “com suas Forças Armadas”.
A Constituição venezuelana estabelece que em caso de falta absoluta do presidente novas eleições devem ser convocadas dentro dos 30 dias seguintes, mas Medina assinalou que a MUD estaria de acordo que o prazo fosse prolongado para 45 ou 60 dias a fim de dar tempo para que o CNE (Conselho Nacional Eleitoral) organize o processo.
A deputada María Corina Machado divulgou nesta quarta-feira um comunicado no qual assinala que “perante a iminência de novas eleições presidenciais, é indispensável criar a confiança no voto como expressão da vontade soberana”.
O advogado e deputado do Parlamento Latino-Americano do governante PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) Calixto Ortega disse a jornalistas nesta quarta-feira que as eleições podem acontecer em pouco mais de um mês, após o sepultamento do presidente.
Ortega assinalou que depois das cerimônias fúnebres a Assembleia Nacional deve reunir-se e declarar formalmente “a ausência de direito do presidente”, para posteriormente o CNE organizar e convocar as eleições dentro de um prazo estimado de 30 dias, que pode ser estendido.
“Nós já temos candidato, o próprio presidente Chávez em uma alocução premonitória deixou bem iluminado o caminho e concluiu que Nicolás Maduro era o primeiro entre iguais”, disse o deputado.
Por fim, o deputado cantou vitória do chavismo: “Eu não sei se a oposição irá apresentar um candidato, sabendo que o triunfo de uma candidatura apoiada pelo chavismo é irreversível”.