Todos os dias, durante a Conferência do Clima, em Copenhague, novos dados econômicos e científicos são publicados para chamar a atenção para os efeitos do aquecimento global. Além dos relatórios, os depoimentos de delegações de países que já sofrem diretamente os impactos das transformações climáticas ajudam a reforçar o alerta.
O levantamento que mais se destacou até agora foi o da WMO (Organização Mundial de Meteorologia, na tradução para o português) que aponta que a última década foi a mais quente da história. Entre 2000 e 2009, o aumento na temperatura do planeta foi de 0,4 graus.
Uma outra pesquisa, feita pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas), alerta que a Terra pode ficar até 4 graus mais quente, antes de 2100. Essa previsão, antes considerada “apocalíptica”, agora é tratada como uma probabilidade.
Países africanos e comunidades remotas em ilhas do pacífico estão entre os mais afetados pelo aumento da temperatura.
Avanço das águas
Os cerca de 100 mil habitantes de um pequeno país chamado Kiribati, localizado no Oceano Pacífico, sofrem com o aumento do nível do mar. Comunidades já foram destruídas pelo avanço do oceano e o país inteiro pode desaparecer se nada for feito para reverter as mudanças climáticas.
Há cinco anos, Pelenise Alofa, cidadã do Kiribati, não pode mais usar a água da torneira em sua casa. A areia salgada infiltrou no subsolo e contaminou a água antes usada para beber, cozinhar e tomar banho.
“Hoje, a minha única fonte de água é a chuva. Todos os dias eu tomo banho na casa dos meus familiares, que moram mais afastados da costa. A água da chuva é o meu ouro, não posso desperdiçar uma gota”, conta ela, que participa da Conferência do Clima.
O governo do Kiribati pede ajuda à comunidade internacional para que o conjunto de arquipélagos não seja eliminado do mapa. “Não queremos ser parte das estatísticas de refugiados ambientais, queremos permanecer na nossa terra”, afirma Tessie Eria Lambourne, do Ministério das Relações Exteriores do país.
Seca
McLay Kanyangarara nasceu no Zimbábue, em uma família de fazendeiros. Ele se lembra que, durante sua infância, as chuvas no país eram suficientes para garantir a produção agrícola do vilarejo onde ele morava, no sul do país. “Nós chegávamos a ter de cinco a seis meses de chuva por ano. Os rios enchiam e não tínhamos grandes problemas com a plantação”, diz.
Mas a situação mudou radicalmente de meio século para cá. Hoje a chuva é escassa e imprevisível. Os negócios da família encolheram mais de 50% ao longo dos últimos anos. “Não temos mais que três meses de chuva por ano. Já chegou a acontecer de chover em uma semana o equivalente a 90 dias – e todos os outros meses do ano foram de seca”, conta o fazendeiro, que hoje também trabalha como conselheiro de uma ONG africana.
Em Copenhague, Kanyangarara busca investimento de países ricos para que o Zimbábue tenha um sistema de captação de água da chuva – o que garantiria a irrigação das plantações durante o ano todo.
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