Depois de semanas de preparativos, o Exército paquistanês finalmente lançou neste fim de semana uma ofensiva por terra contra os militantes talibãs em seu reduto no Waziristão do Sul. O desfecho pode determinar o destino do Paquistão num momento em que muitos temem que o país esteja no rumo de uma guerra civil – um cenário de pesadelo que abriria a região a bases estáveis da Al Qaeda, colocaria em dúvida a segurança do arsenal nuclear paquistanês e comprometeria a guerra do Ocidente no vizinho Afeganistão.
Esses temores, como demonstrado em recente editorial do Washington Post, não surpreendem. Uma série de ataques suicidas bem planejados e coordenados pelos militantes deixou mais de 150 mortos nos últimos dias e incluiu um constrangedor cerco ao quartel-general do exército em Rawalpindi.
Alguns ataques têm a marca registrada da Al Qaeda, indicando que a aliança deste grupo com o Talibã no Paquistão está mais forte do que nunca. Por exemplo, em Lahore, a segunda maior cidade do país, localizada no Punjab, grupos de agressores com armas sofisticadas e mochilas atingiram vários alvos importantes ao mesmo tempo, lembrando assustadoramente a ofensiva de novembro do ano passado em Mumbai (Bombaim), na Índia.
O mais preocupante é que esses ataques parecem confirmar que grupos jihadistas no sul do Punjab – tolerados durante anos pelos serviços de segurança, que os viam como aliados contra a Índia – ligaram-se ao Talibã e à Al Qaeda, trazendo às cidades a guerra das regiões montanhosas ao longo da fronteira com o Afeganistão. O ministro do Interior, Rehman Malik, disse a jornalistas que um “consórcio” de grupos militantes foi criado com o objetivo de ver “a ruína do Estado paquistanês”.
Tudo isso ocorre em meio a uma profunda crise econômica, com índices altíssimos de desemprego e uma grave escassez de energia que deixa grandes cidades sem luz durante várias horas por dia. O governo sobrevive graças a um empréstimo de 11,3 bilhões de dólares do Fundo Monetário Internacional. Ao mesmo tempo, governo e Exército brigam sobre um pacote de ajuda de bilhões de dólares ao longo de cinco anos assinado pelo presidente dos EUA, Barack Obama, e condicionado ao aumento do controle civil sobre o todo-poderoso establishment militar.
Considerando essa associação de grupos militantes e um país imerso numa profunda crise, não surpreende que muitos vejam a ofensiva contra o reduto do Talibã no Waziristão do Sul como uma questão de vida ou morte para os militares – e o Paquistão como um todo. Gareth Price, especialista em assuntos do Paquistão no instituto Chatham House, de Londres, concorda que o desfecho da batalha tem importância crucial. Price adverte que ela será mais complicada do que a bem-sucedida ofensiva militar no vale do Swat (para a qual, aliás, muitos observadores internacionais haviam previsto um desfecho desastroso), pois o terreno é mais montanhoso e remoto.
Mas ele descarta a ideia de uma guerra civil no Paquistão. “Certamente há mais violência, mas o grosso da população ainda apoia os militares, ao contrário do Afeganistão, onde a maioria fica em cima do muro”, afirmou Gareth ao Opera Mundi. “O ponto é que os militares continuam totalmente comprometidos com o combate ao Talibã e à Al Qaeda. Foi o que ocorreu nos últimos meses, mas pode não durar pra sempre. No Paquistão, ninguém sabe o que acontecerá no dia seguinte”.
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