Antes de ter atuado como porta-voz da ONU (Organização das Nações Unidas) na Rio+20, o italiano Giancarlo Summa já havia trabalhado em sua predecessora, a Eco-92, como jornalista. Assim como agora, ele lembra do clima de pessimismo e das críticas da opinião pública e de ativistas ambientais em torno da falta de consenso político para a obtenção de resultados concretos ao fim do encontro multilateral.
Por esse motivo, demonstra otimismo em relação ao acordo final acertado neste último final de semana por 191 países em torno das bases que definirão os rumos do desenvolvimento sustentável e da economia verde. Para ele, a Rio+20, ou oficialmente Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, poderá se tornar um ponto de inflexão para a discussão de um novo modelo de consumo.
Onu/Divulgação
O Diretor da Unic na Rio+20, Giancarlo Summa
Em entrevista à reportagem do Opera Mundi, Summa, diretor da Unic (Centro de Informações das Nações Unidas), afirma que o maior problema para a eficácia das propostas da Rio+20 será a corrida contra o tempo para que fenômenos naturais, como o aquecimento global e as mudanças climáticas, não comecem a produzir seus efeitos. “Tempo, de fato, é o que menos temos e existe uma preocupação geral em torno disso. Há um descompasso entre o tempo que se necessita para se chegar aos acordos e a urgência ambiental”. A crise econômica, segundo ele, embora grave, não pode ser uma barreira para atrasar a criação de, por exemplo, um acordo que venha a substituir o Protocolo de Quioto, “embora muitos líderes mundiais pensem o contrário. Mas todos os governos funcionam de acordo com as suas prioridades”.
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Diplomático, Summa discordou da decisão da Cúpula dos Povos, evento que ocorreu simultaneamente e que adotou uma postura de oposição à Rio+20, de não ter se disposto a entrar no processo oficial e tentado negociar metas realistas.
“O setor privado se comprometeu a uma série de compensações. Mas para alguns integrantes da Cúpula dos Povos, a única forma de se construir uma alternativa crítica é através da mudança do modelo capitalista. É uma posição intelectual respeitável e antiga. Mas, na prática, não há qualquer alternativa à vista no curto prazo. Não podemos não fazer nada esperando o dia que tivermos um outro sistema (…) A questão agora é tentar utilizar todos os elementos possíveis para se avançar ou não se envolver”, afirma.
Outro exemplo citado pelo jornalista é a demanda pela energia limpa. “Vinte por cento da população mundial não tem acesso à energia elétrica, e suprem essa necessidade queimando madeira ou carvão. Como podemos minimizar isso? Melhor que não seja através de combustíveis fósseis. Bem, essa discussão está dentro do tema da economia verde [totalmente rechaçada pela Cúpula]. Temos de saber como vamos produzir energia de maneira menos danosa ao meio ambiente”, afirmou.
No entanto, o diretor da Unic ressaltou a importância da Cúpula paralela como instrumento de cobrança crítica para impedir que os temas abordados na Conferência saiam da pauta nos próximos anos. “Uma série de ONGs participou do processo oficial da Rio+20, e estiveram presentes na Cúpula também”. Mesmo que no final da Conferência, como lembrou Summa, os “Major Groups” (grupos envolvendo todas as principais organizações civis) tenham pedido que a participação da sociedade civil fosse retirada da pauta.
O porta-voz não nega que há problemas com o modo de consumo e que mudanças são necessárias. “Mas ninguém pode imaginar que, de um dia para o outro, deixemos de consumir aço, por exemplo. Sim, trata-se de um produto cuja matéria-prima principal é o minério de ferro. Mas será que não interessa discutirmos como podemos extrair esse mineral de maneira menos poluidora e que a atividade da mineração tenha menos impacto?”
Summa destaca como legado da Rio+20 a quantia de 513 bilhões de dólares mobilizados em compromissos para o desenvolvimento sustentável, além de 692 compromissos voluntários registrados por governos, universidades, empresas e sociedade civil.
Na Eco-92, no entanto, foram fechados dois tratados significantes: a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, que ser viu de embrião para o Protocolo de Quioto, e a Convenção sobre Biodiversidade Ecológica. E, por influência direta da conferência, dois anos depois foi fechada a Convenção sobre Combate à Desertificação. Além da Agenda 21, que serviu de guia para a elaboração de programas ambientais abrangentes em níveis regionais.
“A Conferência acabou, mas os problemas continuam. A realidade não é a que a gente gosta e, não à toa, o nome da declaração final, ‘o futuro que queremos’ não é a realidade que temos. Para isso, temos de fazer política”, concluiu.