O partido secular CPR (Congresso para a República), ao qual pertence o presidente da Tunísia, Moncef Marzouki, retirou neste domingo (10/02) seus três ministros do atual governo, comandado pelo Ennahda, de orientação islâmica. De acordo com um dos líderes do partido, o deputado constituinte Samir Bem Amor, as exigências por mudanças no gabinete ministerial não foram atendidas. As informações são da agência de notícias Reuters.
A decisão do Partido Congresso para a República, de Marzouki, desfere um novo golpe no governo do primeiro-ministro Hamadi Jebali, já debilitado após o assassinato do líder da oposição, Chokri Belaid, na última quarta-feira (06).
“Faz uma semana que estamos dizendo que, se os ministérios das Relações Exteriores e da Justiça não fossem modificados, deixaríamos o governo”, disse Amor, conselheiro do presidente Marzouki.
“Esta decisão não tem nada a ver com a decisão do primeiro-ministro de formar um governo de tecnocratas”, afirmou Ben Amor, referindo-se à intenção manifesta de Jebali logo depois da morte de Bel Aid de nomear um gabinete não-partidário para cuidar de temas do dia a dia até que novas eleições sejam realizadas.
A morte de Bel Aid na quarta-feira – o primeiro assassinato político na Túnisia em décadas – lançou o governo e o país no caos, ampliando as divisões entre o dominante partido islâmico Ennahda e seus adversários de inclinação secular.
Políticos veteranos do Ennahda, assim como de seus dois parceiros de coalizão não-islamistas, criticaram Jebali por ele ter convocado novas eleições e formado um governo tecnocrata, dizendo não terem sido consultados.
Protesto
Neste sábado, cerca de 2 mil simpatizantes do Ennahda, convocados pela juventude do partido, protestaram a favor do partido e da atual Assembleia Constituinte. Na concentração podiam ser vistas bandeiras da Tunísia e do partido, assim como cartazes nos quais se lia “a cidade quer o Ennahda de novo” e “O povo muçulmano quer mais islã”.
Entre gritos de “Alá é grande” e um grande esquema policial que impede os participantes de se aproximar do Ministério do Interior, os manifestantes também criticaram a França, já que acusam o presidente do país, François Hollande, e o ministro das Relações Exteriores, Laurent Fabius, de intromissão nos assuntos internos do país por suas últimas declarações sobre o assassinato de Bel Aid.
Além disso, gritaram palavras de ordem contra o partido opositor Nidá Tunis, do ex-primeiro-ministro Béji Caid Essebsi, grupo que acusam de dar cobertura a antigos dirigentes do regime deposto de Zine El Abidine Ben Ali.
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A convocação do protesto foi divulgada pelas juventudes do grupo, através de sua página oficial no Facebook. No entanto, a direção dessa corrente do Al-Nahda quis se desvincular da convocação, embora mantendo seu apoio.
O Ennahda foi eleito em outubro de 2011 para governar o país com 42% dos assentos do Parlamento. Além do tradicional embate entre propostas religiosas e seculares, a administração tunisiana enfrenta manifestações contra a crise econômica, causada pela queda do consumo na zona do euro.
A crise
Bel Aid era secretário-geral do agrupamento de esquerda PPDU (Partido dos Patriotas Democratas Unificados). Foi um dos principais líderes dos movimentos sociais e dos sindicatos da cidade de Gafsa, clandestinos durante o regime de Zine el Abidine Ben Ali (1986-2011).
Ferrenho crítico do governo, o PPDU anunciou no último 26 de setembro, ao lado de outros 11 partidos, a criação da “Frente Popular Pelos Objetivos da Revolução”, dirigida pelo Partido dos Operários Comunistas de Tunísia. A plataforma nasceu com a intenção de “resistir à ameaça da dinâmica hegemônica do governo”, como anunciaram então seus fundadores.
A Frente Popular faz oposição às LPR (Ligas para a Proteção da Revolução), criadas por grupos salafistas e simpatizantes do partido governante Ennahda, de orientação religiosa. A oposição as acusa de serem milícias fundadas por rebeldes salafistas e que estariam envolvidas em atos terroristas.
A sede do PPDU na cidade de Kef, sudoeste do país, já havia sido atacada no último sábado (02/02), o que fez com que Bel Aid subisse o tom de suas acusações. Para ele, as LPR estavam por trás dos assaltos contra várias sedes de partidos políticos opositores, e criticou o que considerava uma inação da polícia perante as agressões contra partidos opositores e seus líderes.
Na noite de terça-feira (05/02), em um programa de televisão, o líder voltou a atacar o Executivo e o Ministério do Interior a que de novo reprovou sua passividade perante os agrupamentos.