O afastamento do Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA) da Aliança Patriótica para a Mudança (APM), coalizão de centro-esquerda que levou ao poder o presidente paraguaio, Fernando Lugo, não é definitivo nem significa a retirada do apoio ao governo do ex-bispo, garantem seus dirigentes. “Pelo contrário, queremos apoiar o governo de modo mais claro e comprometido”, esclareceu Amanda Núñez, vice-presidente do PLRA, em conversa com o Opera Mundi.
Humberto Blasco, ministro liberal da Justiça e Trabalho, afirmou que o PLRA “se afastou por rejeitar os partidos que compõem a aliança, mas não o governo federal”. “O que se busca é um diálogo e um apoio bilateral na relação com o presidente da República e seu governo”, declarou o dirigente ao Opera Mundi.
Tanto Blasco quanto Núñez dizem que a decisão pode ser revertida se a Aliança der mais atenção ao Partido Liberal. “A Aliança não estava funcionando como tal. Havia uma Aliança no papel, mas na prática não funcionava. Decidimos nos afastar para ser mais úteis e poder influir mais na gestão governamental, mas pode ser um afastamento temporário, até que se instaure um mecanismo claro para o relacionamento entre os dirigentes de todos os partidos”, explicou Núñez.
No dia 1º de julho, o Diretório do PLRA decidiu em votação unânime afastar-se da APM. A gota d'água foi a aliança da APM com o Partido Colorado para eleger presidente de mesa do Senado um integrante desta última agremiação. Os integrantes da APM garantem que se tratou de uma aliança pontual, respondendo por sua vez a uma tentativa do PLRA de colocar um oviedista na presidência da mesa, excluindo a APM.
“Fernando Lugo não fez nenhuma aliança com o Partido Colorado e reafirmou isso várias vezes. A maioria do Partido Liberal buscou uma aliança com os oviedistas e excluiu a APM”, disse ao Opera Mundi o deputado Ricardo Canese, do Partido Popular Tekojoja, integrante da Aliança, e homem de confiança de Lugo. O Partido Liberal nega a acusação.
Participação no governo
Ao mesmo tempo, o PLRA reclama uma participação mais ativa no governo. “Eles não foram excluídos do governo. Desde a posse de Lugo, mantêm a mesma participação. Com este afastamento, o PLRA quer pressionar para obter mais cargos, maiores cotas de poder”, opinou Canese.
De qualquer modo, a decisão deverá ser ratificada pela convenção partidária do PLRA, que se reúne em 1º de agosto. Os dirigentes do partido estão alinhados na decisão, o que não ocorre com os cinco ministros liberais que integram o gabinete de Lugo. Blasco tem esperanças de que a decisão se reverta e, em todo caso, garantiu que o respaldo a Lugo continuará firme. “Não existe nenhuma intenção de retirar o apoio ao governo nacional”, afirmou.
Não obstante, se isso ocorrer, ele colocará seu cargo à disposição. “Nós, ministros que compõem seu gabinete, temos de ser coerentes com o que o partido decide”, explicou. Ele revelou que, pessoalmente, já pôs o cargo à disposição depois da decisão do Diretório do PLRA, mas Lugo lhe pediu que continuasse trabalhando.
Presidente preocupado
Lugo respondeu rapidamente à decisão do PLRA. “Se os liberais querem voltar a ser oposição e passar de novo para o outro lado, podem fazê-lo”, declarou. Blasco assegurou que o presidente vê com preocupação o afastamento do PLRA da Aliança. “O presidente da República é uma pessoa que conseguiu articular a primeira frente de partidos políticos de distintas ideologias, que, com uma força incrível, provocou uma mudança histórica. A fissura desta aliança lhe causou preocupação”, disse ele.
No mesmo sentido, segundo Canese, o temor de Lugo é a redução de sua base de apoio. “Esta medida do PLRA não é muito prudente, por uma questão conjuntural. É importante que a APM se fortaleça e que se ampliem as bases de sustentação do líder. Esta decisão mostra a ausência de uma perspectiva estratégica”, avaliou. De qualquer modo, Canese acredita que a questão não será tão grave se o Partido Liberal não se retirar do governo e continuar apoiando Lugo. “Não creio que será um drama enquanto o PLRA mantiver o apoio, ainda que de outra forma. O importante é a existência de um apoio definido”, afirmou.
Na semana que vem, o Executivo e representantes do Partido Liberal se reunirão para tentar encontrar uma saída para a situação.
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