O Sendero Luminoso (SL), aquele grupo guerrilheiro que supostamente foi derrotado durante o governo do ex-presidente Alberto Fujimori, continua na ativa: desde 2006 já matou 45 agentes da polícia e das forças armadas e seis civis. O governo de Alan García ainda não capturou nenhum guerrilheiro. Até abril, SL assassinou 14 soldados, um deles menor de idade, em uma emboscada perto da base de Sanabamba (Ayacucho), na selva sul-central do país e foco das operações dos subversivos. O governo ainda não tem uma versão oficial para o ocorrido.
Conforme versões de militares, analistas e funcionários do governo, o poder do Sendero Luminoso em uma parte do país é produto da falta de liderança política na estratégia de desenvolvimento anunciada em 2006 para combater a guerrilha. “Tudo ficou no papel: é grave porque o Estado tem recursos para investimentos na região e o governo não dispôs do que era preciso. Houve um grave descuido que gerou a situação que estamos enfrentando”, comentou ao Opera Mundi o congressista Carlos Bruce, de Alianza Parlamentaria, da oposição.
Novo plano
“Pensaram que aumentando o número de efetivos militares ia se resolver, mas descuidaram da estratégia social”, sublinhou Bruce. Faltam 15 dias para que o governo apresente um novo plano para a região, já que o prometido em 2006 não deu certo. Dos programas com eixos militar, policial e social, só começou o militar, sem liderança política nem alternativa aos negócios ilegais.
O primeiro adjunto da Defensoria do Povo, Eduardo Vega, explicou ao Opera Mundi que “é necessária mais coordenação entre as forças armadas e a polícia. Isso se traduz em dificuldades nas pesquisas e detenções”. Vega diz também que “há dificuldades na organização do plano no Vale dos Rios Apurímac e Ene (VRAE) para atender às necessidades sociais e econômicas da população da zona – em saúde, educação, infraestrutura, água, estradas. Sem articulação desses aspectos, há risco na luta no plano militar”.
Desconhecimento do território
Por lei, a polícia combate a droga no Peru e as forças armadas controlam a zona de emergência do VRAE. As funções estão ainda superpostas e nenhuma autoridade civil esclarece a coordenação. Além disso, os analistas acham que quem toma decisões no governo de Alan García não sabe quem é o inimigo. Outro problema para os agentes da ordem é o desconhecimento do território. Por sua vez, o SL domina as montanhas e quebradas do VRAE há mais de 10 anos.
A falta de controle nas operações também preocupa. Um dos soldados mortos na zona de emergência tinha 17 anos e foi recrutado ilegalmente pelo Exército um ano atrás. A Defensoria do Povo tem informado que, em 2008, recolheu 120 denúncias de menores de idade recrutados dessa forma.
Gustavo Gorriti, pesquisador de Sendero Luminoso desde os anos 80, diz ao Opera Mundi que a organização política e militar “tem se montado na parte mais vulnerável do país: é o centro dos principais investimentos em energia”. Segundo Gorriti, o SL “tem solucionado seus problemas com as bases sociais da população que acham que o trabalho com a coca é importante para a economia familiar”.
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Fujimori
De igual opinião é Rubén Vargas, consultor em segurança e ex-diretor da Oficina Geral de Segurança do Ministério do Interior em 2004. Ele explicou ao Opera Mundi que quem vai tirar proveito da situação são os partidários do ex-presidente Alberto Fujimori. “Eles vão acordar o grande fantasma da população da capital – os atentados do Sendero Luminoso e o medo às mortes-, afirmando que com o ‘Chino’ isso não aconteceria porque ele ‘fez a pacificação’”. Apelidado de “Chino” apesar de sua ascendência japonesa, Fujimori foi condenado a 25 anos de prisão por violações dos direitos humanos em abril pela Corte Suprema de Justiça de Lima.
Gorriti especifica que o governo de Fujimori também “deixou fazer” os sobreviventes de Sendero na área conhecida como o Vizcatán no VRAE. “Esquecemos de enfrentar com severidade ao Sendero há tempo, agora fica muito difícil”. Segundo o especialista, o trabalho que está fazendo o Exército e a Marinha desde agosto 2008 “é um esforço cheio de imperfeições e insuficiente: é preciso uma operação cara e não só militar”.
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