Sérvia, Bósnia-Herzegovina e Croácia enfrentaram na última semana tempestades que levaram a inundações e à maior cheia do rio Sava em mais de um século. Agora, restam milhares de desalojados e pelo menos 44 mortos, uma catástrofe que levou os governantes bósnios a fazer comparações com a guerra da década de 1990, quando “muitas pessoas perderam tudo”.
O volume de chuva já diminuiu, mas os países mantêm o alerta para enchentes, deslizamentos e surtos de infecção. Em três dias, choveu nessa região dos Bálcãs o que costuma chover em três meses. Em consequência, só na Bósnia, 500 mil pessoas abandonaram suas casas, enquanto na Sérvia foram ao menos 25 mil.
Agência Efe
Cidade de Boisanski Samac, na Bósnia, permanece inundada nesta segunda-feira (19/05)
No leste croata, 15 mil pessoas foram retiradas de suas casas e milhares de soldados, policiais, bombeiros e civis estão fortificando a margem de 180 km do já transbordado Sava. Uma pessoa morreu e duas estão desaparecidas.
Apesar disso, o número de pessoas afetadas pelas inundações, direta ou indiretamente, é provavelmente muito superior. Segundo afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros da Bósnia-Herzegovina, Zlatko Lagumdzija, nesta segunda-feira (19/05), pelo menos um milhão de pessoas (o equivalente a um quarto da população do país) ficou sem acesso à água potável. Na Sérvia, cerca de 100 mil pessoas ficaram sem eletricidade.
Agência Efe
Algumas cidades, como Krupanj, na Sérvia, ficaram praticamente destruídas devido ao alto volume de chuvas nos Bálcãs
“O que aconteceu conosco acontece uma vez a cada mil anos. Não cem, mas mil anos”, afirmou o prefeito de Belgrado, capital sérvia, Sinisa Mali. De acordo com ele, o maior problema ainda ocorre às margens do rio Sava. Os moradores temem que aconteçam novas enchentes e o medo não é infundado: o Sava rompeu hoje os diques de defesa em vários pontos, isolando a cidade bósnia de Odžak, a 10 km da fronteira com a Croácia.
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Essa pode não ser a única cidade isolada pela água, entretanto: os especialistas advertem que os diques contra o Sava estão totalmente cobertos de água e vão se romper, uma situação que se agravará pela onda de água que corre desde a Bósnia.
Sérvia, Croácia e Bósnia lançaram pedidos de ajuda internacional e a ajuda humanitária começou a chegar enviada por organismos como a ONU (Organização das Nações Unidas), a OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) e vários países da União Europeia, assim como a Rússia.
Um dos possíveis efeitos mais preocupantes das enchentes é a explosão das minas terrestres que continuam enterradas no território bósnio desde a Guerra da Bósnia. O organismo responsável pela desminagem no país, o BHMAC, chegou a emitir um comunicado alertando para “a possibilidade de as cheias e os deslizamentos terem movido alguns campos minados e arrancado sinais de aviso”.
Agência Efe
Na Croácia, habitantes de Zupanja são retirados de suas casas nesta segunda-feira
Segundo os responsáveis políticos, as dimensões da tragédia só poderão ser conhecidas em sua totalidade nos próximos dias e semanas. “As consequências das cheias são aterrorizantes”, afirmou Lagumdzija. Mais cedo, o presidente bósnio, Bakir Izetbegovic, disse que seu país “enfrenta uma catástrofe terrível”.
Na Sérvia, a preocupação principal agora são as duas centrais elétricas, localizadas nos arredores de Belgrado. A maior delas, a central Nikola Tesla, a 30 km da capital, foi ameaçada pelas águas que transbordaram do rio Sava. A dirigente sindical Djina Trisovic disse à Reuters que a Nikola Tesla “já deve estar em segurança” e acrescentou que o povo já fez “tudo que podia. Agora está tudo nas mãos de Deus”.