O diretor de cinema franco-polonês Roman Polanski revelou ter começado a se sentir um homem perseguido após sua breve prisão em 2009. Ele concedeu uma rara entrevista, divulgada nesta quinta-feira (05/09) pela revista Vanity Fair, em que também relata frustrações por ter se tornado alvo de ódio em razão de um escândalo sexual ocorrido há 35 anos.
Autor de filmes consagrados como “O Bebê de Rosemary”, “Chinatown” e “O Pianista”, o diretor, com 80 anos, foi preso em 1977 em Los Angeles por ter feito sexo com Samantha Gaimer, na época uma menor de idade de 13 anos, durante uma sessão de fotos que teria sido regada a álcool e drogas. Esse caso o fez fugir dos Estados Unidos no ano seguinte e foi reaberto décadas depois, provocando sua detenção por alguns meses na Suíça.
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O diretor, ao lado de sua mulher, a atriz francesa Émanuelle Seigner, na premiação do César em 2011
“Na época (da condenação nos anos 1970) não passei por nada disso. Foi mais ou menos como o assassinato da Sharon e o que aconteceu depois”, afirmou o cineasta, referindo-se aos falsos rumores de um outro episódio trágico em sua vida, de que ele estaria envolvido na morte da sua mulher, a atriz Sharon Tate, e de amigos dela, num crime cometido em 1969 pelo grupo de fanáticos comandado pelo serial killer Charles Mason.
O julgamento
Na ocasião de seu julgamento, as acusações na justiça norte-americana incluíam uma série de crimes como estupro através de uso de drogas e sodomia. Ele alegava inocência, mas aceitou um acordo em que as acusações foram transformadas em “intercurso sexual ilegal”.
Polanski foi condenado inicialmente a 90 dias de prisão para avaliação psicológica, mas deixou as grades após cumprir 42 dias. Temeroso de que o juiz mudasse de ideia e recusasse o acordo e ampliasse sua pena para até 50 anos, ele fugiu dos Estados Unidos e, desde então, não voltou mais para o país.
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“Foi um choque saber que isso não está terminado depois que deixam você sair da prisão. Livre! Com sua trouxa embaixo do braço, com o advogado esperando você do lado de fora, parado lá, na sua cabeça tudo terminou, acabou. E aí o juiz mudou de ideia. Tenho de voltar à prisão, e ninguém sabe por quanto tempo. Eu não aguentei”, disse o diretor na entrevista sobre sua decisão de fugir.
Polanski nega ter vivido como fugitivo desde então. “Passei 32 anos me deslocando livremente” entre casas e projetos na França, Espanha, Alemanha, Itália, Suíça e Tunísia.
Documentário
A publicação da entrevista ocorre próxima à exibição na TV norte-americana de um documentário sobre o cineasta, por Marina Zenovich: “Polanski: Odd Man Out” (2012). O documentário será exibido pelo canal norte-americano Showtime. A diretora já havia feito em 2008 um filme sobre o caso de 1977 (“Polanski: Wanted and Desired”, ou “Procurado e Desejado”), o que motivou advogados a reabrirem o processo.
Trailer de “O Bebê de Rosemary”, de Roman Polanski
O filme se concentra mais no episódio de 2009. Na ocasião, ele estava a caminho do Festival de Cinema de Zurique, mas passou dois meses numa prisão suíça a pedido dos EUA para ser extraditado, o que acabou não ocorrendo. Em seguida, foi colocado sob prisão domiciliar em seu chalé em Gstaad, até que, em 2010, as autoridades suíças decidiram não extraditá-lo.
A entrevista também coincide com o lançamento das memorias de sua vítimas. “The Girl”, de Samantha Geimer, será colocado às vendas nos Estados em 17 de setembro. Segundo crítica do New York Times, o livro deixa claro que, talvez até mais do que Geimer imagine, que “essa não é uma história simples”. “O caso se passa em uma época de Hollywood em que muitos pais não se opunham às relações de seus filhos com a fama”. Geimer chegou a perdoar Polanski publicamente sobre o ocorrido, o que não demoveu os promotores norte-americanos de continuarem tramitando com o caso.