Seria uma política de caça às bruxas pelas ruas de Madri? Uma nota interna de uma delegacia da capital espanhola, divulgada pelo sindicato dos policiais e revelada nesta semana pela imprensa, revela que os agentes tinham ordem para prender uma cota de imigrantes ilegais na Espanha.
Entregue a policiais civis durante uma reunião da Chefia Superior de Polícia de Madri, em novembro do ano passado, a circular foi dirigida ao distrito Villa Vallecas, na zona sul da capital, que abriga muitos imigrantes. Segundo o Sindicato Unificado da Polícia (SUP), outros distritos já haviam relatado o recebimento desse tipo de ordem verbalmente e após a determinação, por escrito, resolveram fazer a denúncia.
O documento determina que as exigências sejam cumpridas semanalmente. “Estrangeiros: com base na população de cada distrito, tem que chegar a um número de detidos: Villa Vallecas, objetivo=35”, diz um dos trechos*. Caso os policiais não atingissem a meta, “deveriam buscar fora do distrito”.
A nota não define apenas quantidade, mas também nacionalidade, e prioriza a detenção de marroquinos, em detrimento de bolivianos, por ser mais barato repatriá-los. “É necessário ser seletivo na hora de pedir vaga no Centro de Internamento de Estrangeiros. Marrocos prioridade (se expulsam porque a maior parte da transferência é feita por estrada. Bolívia não expulsa na atualidade. Capacidade de vôos limitada)”, diz o documento, em referência aos locais onde os estrangeiros ilegais são detidos de maneira cautelar e preventiva após a prisão. Normalmente, quem está no Centro é repatriado.
Ministro nega
Pressionado, o Ministro do Interior, Alfredo Pérez Rubalcaba, disse que houve um mal-entendido e negou a existência de qualquer ordem para prender imigrantes ilegais. “O objetivo prioritário da política de expulsões do ministério não é outro senão concentrar-se nos estrangeiros legais ou ilegais que tenham atividades criminosas na Espanha”.
O ministro ainda ordenou ao diretor geral da Polícia e Guarda Civil de Madri, Francisco Javier Velázquez, que desse instruções que tornassem mais claro o trabalho da polícia. Velázquez divulgou um comunicado que reitera que os procedimentos policiais quantitativos são eficazes e sempre ocorreram em função dos critérios de delinquência de cada bairro, mas reforçou que serão aplicados especificamente no âmbito das infrações, ou seja, não serão presos imigrantes ilegais que não tenham cometido delitos. Deste modo, acabou fazendo uma associação entre delinquência e imigração ilegal, fato também criticado fortemente pela opinião pública espanhola.
Sindicato confirma
A porta-voz do SUP, Begoña Romero, afirmou ao Opera Mundi que, com a divulgação deste comunicado, Rubalcaba e Velázquez acabaram assumindo a existência do documento que originou a denúncia.
O principal partido de oposição, o PP (Partido Popular), se aproveitou da confusão. Integrantes da legenda acusam o governo de manipular os números para fazer propaganda sobre o aumento da segurança em Madri. Para eles, o governo teria estabelecido estas cotas para aumentar a quantidade de prisões e “inchar” as estatísticas a seu favor, com o objetivo de parecer mais eficiente no combate à criminalidade.
O SUP concorda. “A segurança do cidadão piora. Porque se eu tenho que me dedicar a fazer um serviço X, que é zelar pela segurança, e me colocam para fazer um serviço Y, que é cumprir cotas para prender imigrantes ilegais, estarei ocupado, meu carro está empregado em outra coisa, não terei como cumprir com minha obrigação”, diz Begoña Romero.
* As transcrições foram feitas ao pé da letra.
NULL
NULL
NULL