Devido à falta de reservas em bancos de leite materno, mães australianas estão optando pela procura online do alimento congelado ou por doadores privados, gerando um verdadeiro “mercado negro”. A atitude vem sendo criticada por autoridades sanitárias do país, que alertam para o risco de transmissão de doenças.
A Austrália possui apenas dois bancos de leite, um no estado de Queensland e outro na Austrália Ocidental. “E eles são muito pequenos”, disse Marea Ryan, fundadora do Banco de Amamentação de Gold Coast (em Queensland), ao Opera Mundi.
“O nosso banco só consegue leite através de doares e de caridade. Ou seja, nem sempre conseguimos suprir apenas a demanda local”, disse ela, que depende de ajuda financeira de partidos privados para poder efetuar exames nos leites doados antes de passá-los a quem precisa.
Além de pequenos, os dois bancos de leite existentes priorizam os bebês doentes ou prematuros.
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Falta de verba
Sendo assim, muitas mulheres de outros estados e que por diversos motivos não produzem o próprio leite, não conseguem alimentar devidamente seus bebês, de acordo com Ryan, que recebe centenas de pedidos anuais de outros estados. “Recebemos gente disposta a doar, mas o problema é principalmente a falta de verbas para testarmos esse leite”.
Por isso, “sabemos que há muitas mulheres procurando pela internet, revistas, ou mesmo no boca-a-boca, mas não aconselhamos porque os leites nem sempre são testados, não sabemos a origem, como foram transportados, e podem passar doenças como HIV e hepatite”, disse Ryan, que não soube dizer exatamente a extensão dessa procura, mas devido ao número de pedidos e ofertas que recebe no banco, acredita ser “milhares”.
Segundo ela, são mais de cinco mil bebês por ano somente no estado de Queensland que ficam sem receber leite materno devido às mais diferentes situações sofridas pelas mães, como câncer de mama, processo de adoção, trabalho, ou por não serem capazes de produzir leite suficiente.
“O problema não são as mulheres australianas, que possuem uma taxa de amamentação razoavelmente alta. Mas a falta de bancos de leite para quem precisa por razões diversas”, explicou.
“Amamentação é extremamente importante ao bebê. O governo deveria investir e ter bancos disponíveis em todos os estados”, disse. “Infelizmente nosso governo federal não contribui em nada”.
Segundo prévias pesquisas, a alimentação natural de bebês contém anticorpos contra doenças e infecções, além de prevenir alergias e ajudar na inteligência.
Relatos
Uma mulher australiana, que teve a identidade preservada pelo jornal The Australian, disse que, por não ser capaz de amamentar naturalmente, usou a internet para obter leite de mama congelado, e que foi altamente criticada por outras mães por ter usado um produto sem saber de onde provinha.
“Sabendo que seu filho nasceu doente, você só quer dar de forma rápida o melhor pra ele”, disse ela ao diário.
Já Lisa Nielsen, do Banco de Amamentação de Queensland, disse que costuma congelar seu próprio leite para poder ajudar quem precisa. “Eu conhecia alguém desesperada por leite de mama e ofereci o meu a ela”, contou. Nielsen disse ter feito todos os exames necessários antes de doar o fluido.
Posição do governo
Oficiais de saúde do país anunciaram à mídia local serem contra doações que não forem fontes autorizadas devido ao “alto risco” ao bebê.
A Autoridade de Segurança Alimentar do país declarou à mídia australiana que não tem informações sobre regulamentações de venda e troca do fluido corpóreo precioso.
A especialista em amamentação do Instituto Real de Tecnologia de Melbourne Jenny James disse ao Opera Mundi que apenas nos últimos cinco anos as mulheres australianas começaram a se conscientizar o quão importante representa o leite materno aos primeiros meses do bebê. “Até pouco tempo, muitas mulheres acreditavam que o leite materno e fórmulas prontas davam no mesmo”, disse.
Justamente por isso, com o aumento da demanda, mas sem o aumento de agências confiáveis e oficiais que ofereçam leite humano no país, uma espécie de “mercado negro” começou a surgir. “E está crescendo”, disse ela. “Mas não temos dados nem estatísticas desse aumento, e talvez nem nunca teremos”, disse ela, sobre a procura por meios alternativos de conseguir leite materno.
Alto número de cesáreas
Além de quem não pode amamentar naturalmente, a especialista informou que intervenções médicas na hora do parto são “ridiculamente altas na Austrália”, que possui a mais alta taxa entre os países de primeiro mundo. Segundo a especialista, 30% dos partos são cesarianas, enquanto o recomendado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) é de que seja de 10%.
“Dessa forma, os bebês chegam ao mundo já afetados por essa intervenção, por partos instrumentais. Se a paciente está cheia de antibióticos, a possibilidade de desenvolver fracasso no aleitamento materno é bem maior”.
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