Manifestante lança pedra contra viatura policial em Hamburgo, Alemanha; foto: Kay Nietfeld/EFE
Milhões de pessoas ao redor do mundo saíram às ruas no primeiro Dia do Trabalho desde o estopim da crise econômica mundial, em setembro do ano passado. Houve confusão em países como Alemanha, Turquia e Venezuela, mas nenhuma vítima fatal. Em geral, os protestos de ontem (1º) foram contra as altas taxas de desemprego esperadas para este ano.
No continente americano, foram marcantes o apelo ao socialismo em Cuba, a violência na Venezuela e o silêncio do México, devido ao surto de gripe AH1N1, antes chamada de gripe suína, que assola o país e já se espalhou por vários outros.
Governistas e opositores mediram forças realizarando mobilizações nas principais cidades da Venezuela. Em Caracas, havia grande expectativa, já que nos últimos dias, os dois lados haviam apostado fortemente na mobilização de seus partidários.
A marcha opositora, encabeçada pela Confederação de Trabalhadores da Venezuela (CTV) e alguns partidos políticos, não reuniu o número esperado de pessoas. Quando a mobilização chegou ao ponto final, um grupo de manifestantes tentou passar pelo cordão de segurança, montado para evitar um choque entre as duas marchas. A polícia reagiu utilizando gás lacrimogêneo para dispersar a concentração.
As organizações de trabalhadores e setores identificados com o governo de Hugo Chávez marcharam em grande número até as imediações do Palácio de Miraflores, sede da administração nacional. Ali, o presidente condenou os atos de violência e anunciou a entrada em vigência do aumento de 10% no salário mínimo, que voltará a subir em igual porcentagem a parir de 1º de setembro.
Em Cuba, o presidente Raúl Castro celebrou a data na Praça da Revolução de Havana. Depois de um desfile que reuniu quase meio milhão de pessoas apoiando o governo, ele discursou em defesa do compromisso com o socialismo, no ano em que a Revolução Cubana completa 50 anos.
Os argentinos começaram a se mobilizar na quinta-feira. A Confederação Geral do Trabalho (CGT) fez um ato em apoio às medidas de política salarial e estatizações do governo Cristina Kirchner. Segundo os organizadores, 300 mil trabalhadores compareceram ao ato em Buenos Aires.
Na sexta, centenas de manifestantes marcharam pelas Avenidas 9 de Julio e de Mayo, as maiores da capital, e seguiram até a frente da Casa Rosada, sede da presidência, onde realizaram um ato criticando a mobilização no dia anterior.
Em Santiago do Chile, 20 pessoas foram presas em um confronto entre policiais e manifestantes. Em La Paz, na Bolívia, o presidente Evo Morales organizou uma passeata de trabalhadores e camponeses para comemorar o dia.
No Brasil, não houve conflitos. Atos públicos foram promovidos, como todos os anos, pelas forças sindicais do país. Em São Paulo, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, classificou as demissões da Embraer e dos setores automobilísticos como precipitadas.
No México, os atos públicos foram suspensos pelos sindicatos, já que a população está isolada em casa para evitar o contágio da gripe AH1N1. Já são 397 casos confirmados e 16 mortes no país, segundo o último balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS), que contabiliza pelo menos 658 pessoas contagiadas no mundo todo e inclui pela primeira vez a Costa Rica, com um caso. Dezesseis países reconheceram a existência de pessoas infectadas. Os dados não correspondem exatamente aos dos governos de cada país, porque a OMS demora mais tempo para compilar e cruzar toda a informação.
Nos Estados Unidos e no Canadá, onde o Dia do Trabalho é comemorado na primeira segunda-feira de setembro, foi um dia normal de trabalho.
Europa
O dia foi marcado por grandes manifestações na Europa, e confrontos em alguns pontos do continente. O descontentamento com as políticas governamentais em relação à crise parecia ser unânime.
Na Alemanha, mais de 500 mil pessoas saíram às ruas. O dia terminou com centenas de presos e vários feridos. Houve brigas entre grupos neonazistas e de extrema-esquerda, tanto em Berlim, onde foram mobilizados 5 mil policiais, quanto em Mainz, Ulm e Hamburgo.
O país prevê para este ano a pior crise desde o final da Segunda Guerra Mundial. “Precisamos de uma ordem econômica que tenha como objetivo o bem-estar das pessoas, e não que os ricos fiquem mais ricos”, afirmou o líder metalúrgico Detlef Wetzel.
Em Istambul, na Turquia, houve confronto entre a polícia e manifestantes de esquerda, que foram impedidos de chegar até a praça Taksim, no centro da cidade. A polícia usou jatos d´água e bombas de gás lacrimogêneo para conter a manifestação. Houve diversos presos e 50 feridos, sendo que 36 eram policiais.
“Mais emprego justo!” e “A crise são eles; a solução, nós!” foram as palavras de ordem na França, onde houve cerca de 300 manifestações. Os franceses se reuniram para criticar o governo e protestar contra o aumento do desemprego, que já atinge cerca de 2,5 milhões de pessoas. Em Paris, uma passeata reuniu cerca de 160 mil pessoas, juntando os oito maiores sindicatos do país pela primeira vez na história. O encontro foi apelidado de “G8 Sindical”. Não houve violência.
Na Espanha, onde a taxa de desemprego beira os 17%, milhares de pessoas foram às ruas protestar contra iniciativas de apoio às demissões e cortes de salários e benefícios. Os sindicatos reivindicaram um “modelo produtivo diferente”, a reativação da economia e a criação de mais e melhores empregos como mecanismos para combater os efeitos da crise.
Ásia
Milhares de pessoas se reuniram no sudeste asiático para protestar contra a crise econômica e o desemprego, de forma pacífica.
Atos organizados em diferentes pontos das Filipinas uniram milhares de pessoas que criticaram o trabalho da presidente Gloria Macapagal Arroyo na proteção dos direitos dos trabalhadores.
Em Bangcoc, na Tailândia, cerca de mil pessoas protestaram em frente à sede do governo para exigir melhores condições para os trabalhadores, que se impeça a perda de mais postos de trabalho e que sejam atendidos os desempregados. Segundo estimativas oficiais, 800 mil pessoas perderão o emprego no país neste ano.
Na Indonésia, centenas de manifestantes protestaram na capital Jacarta para pedir ao governo aumentos salariais e melhoras nas leis trabalhistas.
Grupos sindicais e sociais da Costa Rica marcharam na capital San José para criticar a flexibilização
laboral e algumas políticas do governo; foto: Jeffrey Arguedas/EFE
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