Os partidos Kadima e Likud ainda estão usando o cacife que os eleitores israelenses lhes deram para disputar o direito de governar o país. Mas seja quem for o primeiro-ministro, o próximo governo será ainda mais nacionalista, com fortes contornos fascistas e pouco democráticos. A opinião é do analista israelense Michael Warschawski, diretor do Centro de Informação Alternativa, em Tel Aviv.
A avaliação dele se baseia no bom resultado do partido de extrema direita Yisrael Beiteinu, que obteve 15 das 120 cadeiras do Parlamento, atrás apenas do Kadima (28) e do Likud (27), com 99% das urnas apuradas. Com votação maior que a dos trabalhistas (13 cadeiras), o partido nacionalista tornou-se o fiel da balança, cortejado tanto por Livni quanto por Netanyahu.
Para Warschawski, isso é ruim, pois a legenda liderada por Avigdor Lieberman tem tendências racistas e desafia o direito à cidadania dos palestinos em Israel. “É um conceito fascista”.
O analista, que já havia previsto uma derrocada da esquerda em entrevista anterior ao Opera Mundi, disse hoje que a inflexão israelense para a direita era “óbvia após o apoio da sociedade ao massacre em Gaza”.
Warschawski acredita que Lieberman terá um cargo importante no governo, possivelmente como ministro das Finanças ou até das Relações Exteriores – cargo ocupado atualmente por Tzipi Livni, que quer ser primeira-ministra. Já o Partido Trabalhista, do ex-premiê e atual ministro da Defesa Ehud Barak, tornou-se “irrelevante”, a ponto de alguns membros terem sugerido uma fusão com o Kadima, diz ele.
Para o analista, a situação da esquerda institucional é “catastrófica” e será necessário um longo processo de reconstrução, cujo caminho não é competir com o Kadima e o Likud, e sim encontrar um caminho original, um objetivo. “Eles não apresentam alternativa”.
Quanto aos palestinos da Faixa da Gaza, onde cerca de 1,4 mil pessoas foram mortas na última invasão de Israel, ele conta que, durante a campanha eleitoral, o Egito continuou costurando um acordo entre Hamas e Fatah para um governo nacional. E acha que para a concretização disso, tanto faz se o governo será do Likud ou do Kadima. “Vai depender de Washington”.
Sobre o fato de o voto dos eleitores não ter decidido a eleição, o diretor do Centro de Informação Alternativa diz que é sempre assim, que sempre se negocia uma forma de acomodar todos os judeus no governo. “A oposição é sempre percebida como ‘algo está errado’, não é levada a sério”.
Mas e a crise econômica?
Outros temas foram relegados a um segundo plano pelos políticos, de acordo com Arye Hillman, professor do Departamento de Economia da Universidade de Bar-Ilan, na cidade de Ramat Gan, leste de Tel Aviv. “Sem sombra de dúvidas, a questão da segurança foi o tópico mais debatido e também o que mais influenciou a decisão do eleitorado. Mas a população sentiu falta de uma discussão aprofundada sobre os problemas que o país enfrenta”.
Os impactos da crise econômica mundial, avalia Hillman, já podem ser sentidos em Israel – principalmente pelo aumento do desemprego e queda nas exportações. A taxa de desemprego fechou 2008 em 7,6%, índice que pode crescer nos próximos meses, segundo ele. “Uma taxa de quase 8% é bastante ruim”. A taxa brasileira fechou o ano passado em 6,8%.
A queda nas exportações foi puxada em grande parte pelo setor de alta tecnologia – o país também exporta alimentos e tecnologia militar. Israel sedia filiais dos principais fabricantes de softwares e telefonia do mundo, como Motorola, Intel e Microsoft, e tem um time qualificado de engenheiros trabalhando exclusivamente no campo. A cada 10 mil habitantes, 135 são engenheiros, contra 85 nos EUA, por exemplo.
O economista acredita, porém, que o país está relativamente preparado para os desafios econômicos. “Ainda temos um sistema financeiro sólido. O Banco Central de Israel vem aplicando medidas que controlaram a economia, a partir de cortes na taxa de juros, e o governo tem mais de US$ 6 bilhões em caixa”.
Para Hillman, o candidato com mais credenciais para lidar com a economia é o líder do Likud, Benjamin Netanyahu. “Ele foi o único primeiro-ministro que tinha diploma de Economia e experiência acadêmica nos Estados Unidos. Durante seu governo (1996-1999), reduziu os impostos para empresas e o seguro-desemprego”, explicou.
Mas o economista acha que tanto Netanyahu quanto Livni manteriam o atual modelo financeiro do país. “Nenhum deles tentará mudanças radicais no sistema”. Manteriam também os elevados gastos militares. “Estes serão uma constante, definitivamente. Enquanto houver perigo para os cidadãos de Israel, o governo não hesitará em gastar”.
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