Os altos índices de violência e onda de extorsões e sequestros em Ciudad Juárez, no México, obrigou centenas de médicos terapeutas a atravessarem a fronteira rumo à cidade vizinha de El Paso, no estado americano do Texas, para receber atendimento psicológico, afirmaram especialistas de saúde mental.
O psicólogo Carlos Perlasca, quem trabalha em El Paso, comentou em entrevista à agência Efe que a situação em Ciudad Juárez, a mais violenta do México, chegou a tal extremo que “os próprios médicos e psicólogos estão aqui tentando se ajudar, da mesma maneira que seus próprios filhos”.
“Os próprios psicólogos vão receber tratamento porque já ultrapassaram o próprio limite ou até já foram sequestrados”, acrescentou Perlasca.
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Um relatório sobre a insegurança em Ciudad Juárez indica que mais de 40 empresas foram incendiados por não pagar cotas de proteção e pelo menos 300 estabelecimentos comerciais fecharam suas portas desde 2008 por medo aos sequestros e extorsões.
Perlasca indicou que está tratando “pelo menos” 20 médicos que sofrem do que tecnicamente se conhece como “angústia crônica” ou “ansiedade crônica”.
Outro médico especialista em saúde mental, que foi sequestrado em 2008, disse à Agência Efe que, quando um médico sofre uma “situação tão aterrorizadora”, ele prefere viajar para El Paso, mas as leis do Texas “são muito estritas” e, por isso, ele não pode “voltar a trabalhar”.
“Eu conheço médicos que, ao não encontrar trabalho e por trazer muita ansiedade por sua situação, vêm para receber tratamento”, explicou o médico, quem pediu anonimato por razões de segurança.
“O tratamento às vezes funciona parcialmente, um momento, mas depois volta a ansiedade e é quando os profissionais começam a se embriagar e a usar alternativas de desabafo como as drogas ou a infidelidade”, acrescentou.
Os médicos em Ciudad Juárez convergem ao dizer que, tecnicamente, todos os habitantes desta cidade sofrem de ansiedade crônica. No entanto, em vítimas que passaram por situações concretas de violência, “seja sequestro ou extorsão, os sintomas disparam a ponto de precisarem de grande ajuda terapêutica”.
Segundo dados jornalísticos, já foram registrados cerca de 2 mil assassinatos em Ciudad Juárez desde janeiro, com uma média próxima a dez por dia, enquanto o número de feridos por arma de fogo é de aproximadamente quatro por dia.
Tanto Perlasca como seu colega que pediu anonimato manifestaram também tratar “mais de 30 crianças” que estão passando por uma situação tensa como a perda de um ou ambos os pais ou de algum ente querido.
Em Ciudad Juárez, o índice de orfandade aumentou para cerca de 10 mil crianças (1,2% da população da cidade) nos últimos anos, por causa da onda de violência relacionada ao narcotráfico, segundo dados oficiais.
Durante sua visita à fronteira em julho deste ano, o secretário de Saúde do México, José Ángel Córdova Villalobos, expressou a necessidade de abrir mais hospitais psiquiátricos infantis em Ciudad Juárez.
“É necessário mais pessoal especializado, sobretudo em psiquiatria infantil”, expressou Villalobos.
Segundo relatórios oficiais, pouco mais de 250 mil crianças de um a oito anos moram na cidade.
Ciudad Juárez é considerada desde 2008 a cidade mais violenta do México. A maioria dos homicídios é atribuída à guerra entre os cartéis do narcotráfico de Juárez e Sinaloa.
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