O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta quarta-feira (04/09), que pode até mesmo apoiar uma intervenção armada na Síria caso os países que defendem essa opção apresentem provas “convincentes” de que o governo do presidente Bashar al Assad foi o responsável pelo ataque com armas químicas direcionado à população civil no último 21 de agosto, causando a morte de pelo menos 1,4 mil pessoas.
Segundo ele, Moscou está “definitivamente preparada para agir na Síria se o Ocidente fornecer evidências do uso de armas químicas pelo governo (sírio)”.
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Putin destacou ainda que, sob a lei internacional, somente o Conselho de Segurança das Nações Unidas pode decidir a respeito da utilização de armas contra um Estado soberano. “Qualquer outro pretexto para uso de força contra um Estado independente e soberano só pode ser descrito como uma agressão”, declarou em sua residência durante entrevista concedida para a agência Associated Press e ao canal de TV estatal Channel 1. “Caso as provas sejam apresentadas ao Conselho de Segurança, estaremos prontos para agir com determinação e seriedade”.
Agência Efe (03/09)
O presidente russo Vladimir Putin, em encontro com representantes da Armênia
Assad nega a acusação e afirma que a oposição armada síria, em guerra com o governo há mais de dois anos, teria armado o ataque para legitimar a intervenção estrangeira no país.
Vladimir Putin é criticado pelas potências ocidentais de ser conivente com os desmandos de Assad. Desde o início do conflito sírio, em março de 2011, a Rússia usou três vezes o poder de veto na Conselho de Segurança para bloquear resoluções condenando o governo do país árabe.
Durante a entrevista, Putin ainda ironizou a decisão de alguns países de não participar na operação militar contra a Síria (em referência clara ao Reino Unido). “Honestamente, fiquei surpreso. Pensei que na comunidade ocidental tudo era feito de maneira uniforme, mas vi que não é assim”, provocou.
O chefe de Estado da Rússia falou ainda que as opiniões tão diversas até mesmo entre os países ocidentais demonstram o fortalecimento da multipolaridade no mundo.
“E se descobrirem que foram os rebeldes que usaram armas de destruição em massa? O que os Estados Unidos vão fazer com eles? Será que vão parar de fornecer-lhes armas? Começarão uma ação militar contra eles?”, questionou Putin.
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Putin também afirmou que forneceu alguns componentes do sistema de defesa contra mísseis S-300 para a Síria, mas cancelou novas entregas. O presidente sugeriu, no entanto, que poderá vender o sistema para outras nações se os países ocidentais atacarem a Síria sem o apoio do Conselho de Segurança da ONU.
Snowden
A concessão de asilo temporário ao ex-agente norte-americano Edward Snowden também foi abordada por Putin. Segundo ele, Snowden, que revelou ao mundo o esquema de espionagem de dados de telefone e pela internet feito coordenado pela NSA (Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos), “é um defensor dos direitos humanos”.
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“Entendo que os serviços secretos norte-americanos tenham interesse em apresentá-lo como um traidor, mas é um homem que tem uma maneira de pensar completamente distinta, se considera um defensor dos direitos humanos e se comporta como tal”, disse Putin.
Putin negou que o delator tenha tentado entregar informação confidencial norte-americana ao Kremlin e também rejeitou qualquer intenção de obter dados sigilosos das mãos dele. “Não recebemos nada dele e não queremos”.
Segundo o presidente russo, Snowden entrou em contato com a embaixada russa em Hong Kong, onde trabalhava, conversou com diplomatas do país e propôs “uma luta conjunta contra as violações dos direitos humanos e da lei nos Estados Unidos”.
Ele também afirmou que não deve entregá-lo aos norte-americanos. “Não tenho ideia do que vai fazer agora, mas está claro que não vamos entregá-lo. Aqui pode sentir-se seguro”.
Após os vazamentos, Snowden passou a ser procurado por Washington por roubo de informações sigilosas e espionagem e teve sua extradição pedida, o que foi negado pelos russos.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, cancelou uma reunião que teria com Vladimir Putin durante o G20 em represália à concessão de asilo ao jovem americano Edward Snowden, que revelou ao mundo as espionagens norte-americanas.
Putin disse que o cancelamento do encontro não é uma “catástrofe”, e alfinetou: “Nós entendemos que a posição da Rússia em alguns temas provoca certa irritação na administração estadunidense. Mas não há nada que possamos fazer a respeito”. “O presidente Obama não foi eleito pelo povo norte-americano para ser simpático com a Rússia. E seu humilde servo (se referindo a si mesmo) não foi eleito pela população russa para ser simpático com alguém também”, disse.