Uma mudança de último minuto impediu o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e seu partido, o Likud, a fecharem um acordo para a formação de um novo governo, que havia sido dada como certa nesta quinta-feira (14/03).
Tudo porque Naftali Bennett, líder do terceiro partido mais votado na última eleição (22/01), o ultra nacionalista Habayit Hayehudi (“Casa Judaica”, em hebraico), desistiu de última hora de assinar o acordo. A razão alegada pelo partido foi o anúncio feito por Netanyahu de que Israel não teria, pela primeira vez em cerca de 50 anos, um dirigente ocupando o cargo de vice-primeiro-ministro. Segundo Bennett, havia sido acordado que ele e o ex-jornalista Yair Lapid, líder do centrista Yesh Atid (segundo lugar na eleição), ocupariam simultaneamente a função.
Agência Efe
O ex-chanceler israelense Avigdor Lieberman e o atual premiê Netanyahu em encontro do Likud-Beiteinu nesta quinta
No entanto, Bennett foi escolhido como novo ministro da Indústria, Comércio e Trabalho, enquanto Lapid se encarregaria das Finanças.
Após mais de um mês de negociações, restam apenas dois dias para expirar o prazo dado pelo presidente Shimon Perez para a formação de um novo governo – caso ele não seja cumprido, outros partidos terão a incumbência de fazê-lo. Se também fracassarem, haverá nova eleição. Fontes do Likud ao jornal Haaretz afirmam que não trabalham com essa possibilidade e que o acordo deve ser assinado na sexta-feira (15/03). “Você acha que o Casa Judaica vai desistir de todas essas conquistas só por causa da ausência do cargo de vice-premiê?”, questionou o dirigente ao jornal.
Segundo o jornal, se ratificado, o Yesh Atid ficará com cinco ministérios, incluindo os de Finanças e Educação, e após muito negociar, renunciou à pasta do Interior – reivindicação que bloqueou as negociações nos últimos dias, informou o site do jornal Yedioth Ahronoth. O cargo fica com Gideon As’ar, do Likud.
O partido centrista também garantiu que o acordo de coalizão para a formação do novo governo estabelece o “retorno imediato” às negociações de paz com os palestinos. “O acordo que alcançamos inclui um retorno imediato ao processo de paz”, afirmou Tomer Cohen, porta-voz do Yesh Atid. O líder da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud Abbas, manifestou nesta quinta-feira (15) o desejo de retomar as negociações.
O acordo político inclui também a aprovação de uma lei que garante a universalidade do serviço militar obrigatório, ou seja, englobando os setores ultra-ortodoxos. Também impõe a incorporação das matérias escolares do currículo básico nas escolas religiosas, que até agora não incluem disciplinas como matemática e inglês.
Outra das exigências do centrista Yesh Atid incorporada ao pacto é a adoção de medidas dirigidas a se conseguir a integração da população ultra-ortodoxa no mercado de trabalho.
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Entre outras propostas da nova coalizão, o Parlamento deverá votar em breve normas relativas ao sistema de governo, como o aumento para 4% de votos para que os pequenos partidos passem a cláusula de barreira e participem do Knesset. Pelas últimas eleições, essa regra teria deixado de fora vários partidos, entre eles todos os árabes e o centrista Kadima.
Alianças
O Yesh Atid, do ex-jornalista Yair Lapid, foi a grande surpresa das eleições de janeiro por ter se firmado como segunda principal força política do país, com 19 deputados (contra 31 do Likud, coligado ao ultraortodoxo Yisael Beiteinu).
As negociações com Netanyahu perduraram por um acordo entre o Bayit Yehudi com o Yesh Atid determinando que ou as duas legendas entrariam juntas para o governo ou ambas negariam aliança.
Netanyahu ameaçou excluir o Yesh Atid do próximo Executivo e incluir em seu lugar os ultra-ortodoxos. “Se não houver um avanço significativo com o Lapid nas próximas horas, o primeiro-ministro começará conversas com os partidos haredim (ultra-ortodoxos)”, disse o Likud em comunicado nesta quinta. No entanto, esses partidos – com 18 representantes divididos em várias legendas – não teriam assentos suficientes para conseguir uma maioria simples no Knesset (parlamento israelense), ou 61 cadeiras.
A oposição será liderada pelo Partido Trabalhista, que reiterou sua recusa em fazer parte do governo por desacordo com as políticas econômicas. Já o Hatnuah, outro partido de centro-esquerda israelense, acordou sua participação no novo Executivo, com duas figuras políticas relevantes: a ex-premiê Tzipi Livni na pasta da Justiça e o ex-ministro da Defesa de origem árabe Amir Peretz na Proteção Ambiental.
Relações Exteriores
Por enquanto, Netanyahu acumulará a função de premiê e ministro das Relações Exteriores até que sejam esclarecidas as suspeitas de corrupção envolvendo o nome do ex-chanceler Avigdor Lieberman, um de seus principais aliados e líder do Yisrael Beiteinu. A legenda de extrema-direita fica, momentaneamente, com quatro ministérios.
Na prática, a chancelaria ficará a cargo do vice-ministro de Relações Exteriores, Ze'ev Elkin, do Likud, que poderá assumir o cargo formalmente dependendo do desenrolar do processo que Lieberman enfrenta. Elkin mora em Kfar Eldad, um assentamento judaico na Cisjordânia, e em recente entrevista revelou que seu sonho é se tornar primeiro-ministro. Ele se opõe à solução de dois Estados e afirma “não acreditar em uma paz real entre israelenses e palestinos”.