A ação rigorosa da polícia dinamarquesa durante os protestos em Copenhague, no final de semana, dividiu opiniões no país-sede da conferência das Nações Unidas sobre a mudança climática (CoP-15). Cerca de 1.300 ativistas foram detidos entre sábado e domingo, no que já é considerado o maior número de detenções na história da Dinamarca.
No sábado, dia da passeata que reuniu 100 mil pessoas na capital, o plano de ação dos policiais era prender qualquer manifestante suspeito. O inspetor-chefe da polícia dinamarquesa, Per Larsen, justificou a detenção em massa. “Nós apenas 'recortamos' a parte da manifestação que poderia causar problemas”, disse.
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A estratégia foi considerada um sucesso pelas autoridades. Entretanto, o rigor da operação gerou revolta entre os manifestantes.
“Muitas das pessoas presas eram inocentes e vieram de outros países apenas para participar do protesto pacífico. A ação da polícia foi exagerada e antidemocrática”, afirmou o ativista Richard Steed, do movimento Klima Forum, um dos organizadores do protesto.
Consequências
A grande maioria dos detidos nos protestos do final de semana já foi liberada. Agora, os manifestantes que sentiram ter seus direitos violados prometem entrar na Justiça.
“Eu fiquei seis horas sentado no chão gelado em uma temperatura de quase zero grau. Espero que a Justiça tenha clareza para perceber que a ação da polícia foi exagerada”, contou o estudante dinamarquês Rasmus Clemmensen, de 24 anos.
Em entrevista à imprensa dinamarquesa, o ministro da Justiça, Brian Mikkelsen, afirmou que os processos serão bem recebidos. “Vamos avaliar cada caso e mostrar a democracia do nosso sistema”.
A expectativa é de que os processos contra a polícia só sejam avaliados após o fim da conferência, que termina na próxima sexta-feira (18).
Preparação
A preparação da polícia dinamarquesa para receber a CoP-15 começou há um ano. Foi criada uma secretaria especial para tratar dos assuntos de segurança que envolvem a conferência sobre a mudança climática. Novas leis foram aprovadas às pressas nos últimos meses, aumentando os poderes dos oficiais de segurança
pública. O período de prisão preventiva foi estendido de seis para 12 horas. Mais da metade de toda a força polícial da Dinamarca foi deslocada para Copenhague. Ao todo, o país conta com 11 mil homens – atualmente, 6 mil estão na capital.
Uma semana antes do evento, os policiais participaram de um intenso treinamento para evitar que os protestos relacionados à CoP-15 se transformassem a cidade em um campo de batalha. Manifestantes com o rosto coberto ou pintado foram proibidos de participar de protestos.
Uma particularidade da polícia dinamarquesa é que os agentes não estão autorizados a usar armas de fogo, graças a um episódio ocorrido em 1993 que marcou a ação policial no país.
Nørrebro
Em 18 maio daquele ano, uma multidão tomou as ruas de Copenhague para protestar contra a aprovação por referendo do Tratado de Maastricht, que incluiria a Dinamarca no processo de unificação monetária da Europa, com a criação do euro.
No bairro de Nørrebro, onde vivem várias comunidades de imigrantes, os protestos ganharam proporções violentas. Os manifestantes usaram coquetéis Molotov, paus, barras de ferro e pedaços de concreto contra as forças de segurança.
Para se proteger, os policiais receberam a ordem de atirar contra a população. Foram disparadas 113 balas e 11 pessoas acabaram atingidas. Foi a primeira e última vez em que a polícia dinamarquesa usou arma de fogo para dispersar um protesto. Deste então, os policiais passaram a utilizar armas não-letais em protestos e investir em estratégias de inteligência para controlar tumultos.
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