“Estão cansados?”, gritou um dos manifestantes através dos alto falantes do carro que acompanha as marchas da resistência hondurenha. Como resposta, recebeu um estrondoso “não!”. O diálogo continua com “estão com medo?” e outra vez “não”. “E então?”, ruge a pergunta dos alto falantes. “Adiante, adiante que a luta é constante”, brada a multidão entusiasmada, após cem dias de protestos.
O total de pessoas reunidas ontem (5) em Tegucigalpa não chegou a ocupar o espaço esperado pelos organizadores, mas foi maior que de dias anteriores, quando o decreto do estado de sítio impediu reuniões em massa. Eram hondurenhos que chegaram cedo, às oito da manhã, e se posicionaram diante da Embaixada dos Estados Unidos, perto da do Brasil, onde está o líder deposto, Manuel Zelaya. Tropas anti choque já os esperavam, mas a resistência seguiu.
“Estou aqui porque o único presidente que se lembrou de nós, os pobres, foi Mel Zelaya. É por isso que deixo minha casa todo dia para vir marchar. Ninguém me dá uma lempira (moeda hondurenha), venho por vontade própria. Há cem dias faço isso”, disse ao Opera Mundi Maria, dona de casa.
Após duas horas, o alto falante da resistência falou uma vez mais. Exigiram que os representantes da OEA (Organização dos Estados Americanos) os recebessem, porque fazem parte do diálogo necessário para sair da crise. Garantem que “não pode haver diálogo enquanto houver presos políticos ou assassinatos”.
Perto do meio-dia, um emissário diplomático enviou a notícia de que até o meio-dia todos estariam autorizados a permanecer diante da embaixada norte-americana. A resistência conseguiu 10 minutos a mais. Enquanto isso, carros passavam perto e alguns buzinaram. Quase todos aplaudiram a atitude dos motoristas. Renato, professor do segundo grau, não. “Se estão com a resistência, por que não estacionam o carro e vêm aqui? O que acontece é que muitos têm medo porque não há história de resistência em Honduras”, disse.
Após dez minutos, o emissário interrompe mais uma vez. Eles têm de ir embora, diz a organização da resistência. Ninguém quer enfrentamentos porque sabem que serão acusados de provocá-los. Começam a se retirar rumo à praça central da cidade. Todos marcham acompanhados pela polícia, que os obriga depois a passar por uma rua estreita, dividindo a coluna de manifestantes em dois.
As pessoas das casas, das lojas e dos mercadinhos saíram para ver o que acontecia. Vários se aproximaram. De repente, o número era maior que o de policiais, que decidiram deixar a coluna continuar. A marcha dos cem dias de resistência foi terminando, pelo menos até aquele momento.
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