Durante encontro com a chanceler alemã, Angela Merkel, o primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, disse nesta segunda-feira (23/03) estar a aberto a dialogar com os credores da dívida grega. No entanto, diante do posicionamento da líder alemã pedindo “reformas estruturais” e equilíbrio nas contas públicas, o premiê grego evitou comprometer-se com a lista de mudanças exigidas pelo Eurogrupo.
Na reunião, a chanceler manifestou a Tsipras o desejo de que a economia grega cresça e supere o alto desemprego. O premiê, por sua vez, afirmou prezar por um “recomeço” das relações entre Grécia e Alemanha, tensionadas após a eleição do partido de esquerda Syriza ao governo grego.
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“Nem gregos são preguiçosos, nem alemães são responsáveis pelos males da Grécia: devemos superar os estereótipos”, afirmou Tsipras
“Nós queremos que a Grécia seja forte economicamente, nós queremos que a Grécia cresça e, acima de tudo, nós queremos que a Grécia supere seu alto desemprego”, destacou a líder alemã.
Tsipras, por sua vez, ressaltou que a Grécia tem a intenção de conduzir amplas mudanças estruturais que “governos anteriores falharam em implementar”. E mencionou como prioridades a reforma tributária e a luta contra a corrupção e contra a sonegação de impostos. Mas não fez menção à lista de reformas prometidas ao Eurogrupo em fevereiro, compromisso que permitiu o prolongamento dos empréstimos financeiros até final de maio.
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Sublinhando a intenção de governar “em favor da coesão social”, o líder grego fez questão de ressaltar que seu país respeitará os acordos de tratados europeus, mas “com determinadas prioridades”. Ele também reivindicou o respeito pela democracia e pelas decisões soberanas dos cidadãos gregos, e considerou ser esse o caminho para garantir uma saída rápida para a “crise humanitária” no país.
“Este programa não foi uma história de êxitos, pelo contrário teve consequências catastróficas para a nossa economia”, acrescentou o líder do Syriza, numa alusão às reformas e políticas de austeridade aplicadas na Grécia pelos seus antecessores e pelos credores internacionais, a chamada troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional).
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Esquerda alemã protesta em solidariedade à Grécia, diante da sede da chancelaria alemã
A viagem de Tsipras a Berlim se deu em meio às negociações para desbloquear a última parcela do atual empréstimo europeu, de 7,2 bilhões de euros. A transferência está suspensa, à espera da adoção de reformas pelo governo grego.
Empréstimos
Com relação à proposta do governo grego para que a União Europeia libere parte do empréstimo ao país, a chanceler alemã sublinhou que a decisão deverá ser apresentada nos próximos dias e não compete ao seu país, mas ao conjunto dos países do Eurogrupo avaliar as condições.
“Represento um dos 19 países da zona euro. As decisões sobre a liquidez na Grécia afetam todos os membros do Eurogrupo e serão adotadas após escutarmos as avaliações das três instituições envolvidas, de comum acordo”, afirmou a chanceler alemã.
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Na conferência de imprensa conjunta, Tsipras disse que os problemas de liquidez do seu país a médio prazo “são conhecidos” e defendeu uma solução política que permita uma resposta das instituições a este problema. “Não viemos falar de um problema conhecido, mas de soluções políticas”, sublinhou Tsipras.
Antes da viagem a Berlim, Tsipras enviou uma carta a Merkel advertindo que Atenas não poderá cumprir com as obrigações da dívida se a UE não conceder assistência financeira a curto prazo. No texto, ele alerta que seu governo poderá ser forçado a escolher entre pagar as dívidas ou manter os gastos sociais.
Ocupação nazista
Tsipras insistiu ainda sobre a necessidade de se abrir um “canal de diálogo” sobre as compensações que seu país pede pelos estragos causados pela ocupação nazista na Grécia.
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Na última semana, protesto realizado contra Banco Central Europeu reuniu 10 mil na Alemanha contra políticas de austeridade
“Temos que superar junto as sombras do passado”, disse na presença de Merkel. Ele ressaltou ainda que as compensações que seu país defende não são de ordem “material”, mas “moral e ética” e citou o crédito que os nazistas obrigaram Atenas a conceder-lhes e que nunca foi liquidado no conceito de “gastos de ocupação”.
O tema gerou tensão nos últimos dias. O parlamento grego criou uma comissão para recopilar dados e exigir da Alemanha a devolução do crédito forçoso. Merkel considera este um assunto já liquidado.