O Senado brasileiro confirmou que recebeu carta do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, pedindo que a Venezuela não entre no Mercosul. A correspondência foi entregue no dia 26 de maio ao senador José Sarney, que a entregou à CRE (Comissão das Relações Exteriores do Senado e Defesa Nacional).
A CRE do Senado voltou a discutir ontem (9) a entrada da Venezuela no Mercosul na terceira audiência pública sobre o tema, em sessão que durou cerca de cinco horas.
As críticas feitas pelos opositores à entrada da Venezuela como membro pleno no Mercosul se focaram na falta de informações e na postura política do presidente Hugo Chávez. Os defensores lembraram a importância estratégica da expansão do bloco em direção ao norte na América do Sul.
O ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer disse que aprovar o ingresso da Venezuela nas condições atuais seria o mesmo que “dar um cheque em branco” a Chávez. Ele defendeu que devem ser concluídas as negociações técnicas com os demais membros do bloco.
“Incorporar a Venezuela ao Mercosul como membro pleno é comprometer a identidade, a eficiência e o poder de atração do bloco, como expressão de um regionalismo aberto, além de condenar um inovador projeto de integração à irrelevância e, no limite, à dissolução”, ressaltou o ex-ministro.
As críticas feitas ao Senado pelo presidente venezuelano foram classificadas por Lafer como demonstração de um comportamento anti-democrático. Na audiência, condenou também a aproximação da Venezuela com o Irã e a “dimensão militar” das relações com a Rússia.
A cientista política Maria Regina Soares de Lima, do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro), defende o ingresso do novo sócio. Ela afirma que a adesão da Venezuela dará partida a um movimento de incorporação da região.
“A recusa brasileira vai ser vista como um ato hostil à Venezuela, não há como escapar. Existe ainda a possibilidade de outros países ocuparem nichos de mercado atualmente supridos pelo Brasil”, disse.
Maria Regina, que é especialista em Relações Internacionais, disse que a expansão da União Européia ajudou a consolidar as “ainda frágeis democracias” que existiam naquela continente à época.
O embaixador brasileiro na Venezuela, Antonio José Ferreira Simões, acrescentou que as exportações brasileiras para aquele país passaram de 1 bilhão para 5 bilhões de dólares entre 2003 e 2008. E que, somente nos quatro primeiros meses de 2009, o superávit em favor do Brasil foi de 1,2 bilhão de dólares.
“Esses números não vieram apenas da competitividade das empresas brasileiras, mas, sobretudo, de uma decisão política da Venezuela”, afirmou o embaixador.
O tema continua em discussão na CRE; a Argentina e o Uruguai já aprovaram o ingresso da Venezuela. O Paraguai, como o Brasil, ainda analisa o protocolo.
NULL
NULL
NULL