Os povoados de Iztapalapa têm como traço comum a autogestão. Em um distrito onde sempre houve tantos marginalizados, tudo é consequência de lutas e de sua própria organização.
“Também somos famosos porque, se alguém rouba seu carro na Cidade do México, depois de meia hora você pode vir comprar suas peças aqui em Iztapalapa”, conta, rindo, uma jovem desempregada do bairro de Tenorio, carregando o filho. “E as ruas são cheias de gaiolas para os carros, porque não podemos deixar nada na rua para não ser depenado.”
“Mas também somos pessoas que se organizam, que buscam soluções e não se rendem”, acrescenta a jovem. “Se meu filho fica doente, tenho de ir até o hospital às duas da manhã e esperar por uma das 30 senhas disponíveis por dia. Senão, tenho de pagar uma clínica”, conta. “Mas, na minha casa, como na maioria das casas daqui, é preciso escolher: ou você come, ou toma remédio. Então a comunidade começou a se organizar com refeitórios comunitários. Com 10 pesos, você pode comer. E há também centros de saúde comunitários, onde são feitos medicamentos naturais com as plantas que cultivamos”.
O desmonte de carros é um problema crônico neste distrito mexicano
Nem todos os habitantes de Iztapalapa apoiam Clara Brugada. Segundo Sergio, sucateiro e vendedor de peças de automóvel que não quis dar o sobrenome, “Juanito é um homem do povo, merece nosso respeito, inclusive porque é muito devoto da Virgem de Guadalupe”. Por outro lado, desde quando a direita começou a apoiá-lo explicitamente nas emissoras Televisa e na TV Azteca, sua credibilidade política tem ficado abalada nos bairros pobres, onde até mesmo quem o apoiava agora suspeita que sua atitude seja uma chantagem para obter dinheiro.
“O que vemos em Iztapalapa é um momento crucial da política mexicana”, afirma o analista político Jaime Avilés, do jornal La Jornada. “A direita percebe que o distrito contém todos os problemas e contradições do país, que as pessoas não estão mais dispostas a tolerar a violência, os abusos e a corrupção. É uma batalha dos poderes fortes, que não querem permitir que uma gestão política diferente, mais democrática e participativa, se imponha em uma zona estratégica. Por isso, Juanito é apenas uma marionete”.
“Mas a novidade é que se respira um ar diferente”, afirma Avilés. “Em breve estaremos em 2010 e, como ensina a história mexicana, a cada 100 anos há uma revolução. Costuma-se dizer que, no México, não acontece nada até que aconteça. Quem sabe a próxima revolução não vá começar justamente em Iztapalapa?”
*Texto e foto
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