Sob o pretexto da expansão terrorista do Estado Islâmico, um projeto de lei dos Estados Unidos que tinha o intuito de reformar o sistema de vigilância do país e limitar a coleta de dados feita pela NSA (Agência Nacional de Segurança) foi barrado pelo Senado. Intitulado “Lei da Liberdade dos EUA”, o texto teve apoio do presidente Barack Obama e de uma série de empresas de tecnologia como Apple, Google, Microsoft e Yahoo.
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Interior da NSA: Serviço de inteligência dos EUA deve manter armazenamento de dados e vigilância massiva
O senador Patrick J. Leahy, democrata de Vermont que elaborou o projeto de lei, culpou o clima de tensão que os opositores ao projeto impuseram antes da derrota. “Fomentar o medo sufoca o debate sério e as soluções construtivas. Esta nação merece mais do que isso”, afirmou, segundo o The New York Times.
Um dos que mais batalharam para a reprovação do projeto foi o senador e líder republicano, Mitch McConnell. “Este é o pior momento possível para amarrarmos as mãos atrás das costas”, alegou McConnell antes da votação, argumentando que a NSA é uma ferramenta vital na luta contra o terrorismo.
O argumento do republicano foi reforçado por outros senadores do mesmo partido e por ex-funcionários da agência de inteligência. Segundo The Washington Post, para esse segmento, as recentes decapitações de norte-americanos no Oriente Médio pelo grupo extremista sunita são motivos suficientes para não restringir os poderes das instituições de espionagem do país.
Efe
Senador Mitch McConnell, de Kentucky, venceu nas midterms há duas semanas : republicanos dominam Congresso
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A proposta da legislação teve início após a divulgação de espionagem em massa a cidadãos norte-americanos, realizada pelo ex-analista da NSA Edward Snowden, em junho de 2013. Após a polêmica de vigilância até a líderes mundiais, Obama pediu em janeiro que o Congresso buscasse uma maneira de limitar o armazenamento de informações da NSA, obtendo apenas dados específicos e necessários às empresas telefônicas.
No entanto, a resistência no interior do Partido Republicano tem sido implacável. Antes da votação de terça, dois importantes ex-funcionários do governo Bush – o ex-procurador-geral Michael B. Mukasey e Michael V. Hayden, ex-diretor da NSA e da C.I.A. – chamaram o projeto de “presente para terroristas”, em um editorial do The Wall Street Journal, divulgado há dois dias sob o título “A Reforma da NSA que só o Estado Islâmico poderia amar“.
Efe
Presidente Barack Obama ainda tem dois anos de mandato, mas cada vez menos apoio do Congresso
Com a aproximação das eleições presidenciais em 2016, o debate acerca dos limites da capacidade da NSA em recolher dados de chamadas telefônicas de cidadãos é apenas um exemplo de como os republicanos continuam a lidar com questões de privacidade e segurança. Vale ressaltar que há pelo menos três senadores republicanos que despontam como possíveis candidatos na corrida eleitoral: Rand Paul, de Kentucky; Ted Cruz, do Texas, e Marco Rubio, da Flórida. Com o resultado final de 58 contra e 42 a favor, o projeto teve apoio apenas de quatro republicanos.
Trata-se de um retrocesso significativo para os planos de Obama. Embora os defensores da medida tenham prometido continuar a pressionar pela reforma da NSA, as perspectivas são incertas depois das eleições legislativas em 4 de novembro.
Nesta última edição das “midterms”, como são chamadas as eleições na metade do mandato presidencial nos EUA, o partido Republicano foi o grande vencedor na renovação das 36 cadeiras do Senado, conseguindo a maioria da Câmara Alta do Congresso – o que proporciona controle absoluto dos conservadores durante os próximos e últimos dois anos de mandato de Obama.