Diante do impasse em torno da crise política de Honduras, políticos brasileiros e especialistas em relações internacionais defendem uma saída mediada para o conflito, apesar da dificuldade da OEA (Organização dos Estados Americanos) em se posicionar como intermediária e de alguns países membros da ONU (Organização das Nações Unidas) rejeitarem esse papel.
A dificuldade em encontrar uma solução para a crise em Honduras ficou clara hoje (29), após a sessão extraordinária da OEA, que não conseguiu formular uma declaração conjunta sobre o agravamento do conflito. O governo golpista declarou estado de sítio desde ontem, quando também fechou duas emissoras de rádio e TV que apoiam a volta do presidente deposto, Manuel Zelaya.
Em entrevista ao Opera Mundi, o senador João Pedro (PT-AM) afirmou que a dificuldade do diálogo e o aumento da repressão em Honduras evidenciam a necessidade de uma instituição com autoridade suficiente para mediar o conflito. “A ONU precisa entrar [no caso] por conta dos desdobramentos [da crise política], como o fechamento da Rádio Globo, do Canal 36, do estado de sítio. Está se configurando um governo golpista e autoritário, com a repressão de qualquer iniciativa contra o golpe”.
Apesar de acreditar que a OEA não perdeu a relevância, o senador João Pedro admite que a instituição não deve ser o principal mediador do caso. Ele defende uma saída negociada para o impasse com a entrada das Nações Unidas. “A OEA não perdeu seu papel, mas os desdobramentos estão encaminhando para que a ONU resolva a situação. O governo golpista não dá espaço para a negociação, mas a OEA não deve ficar de fora disso”, afirmou.
O especialista em política externa brasileira e relações internacionais da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) Williams Gonçalves acredita que a solução para o conflito depende exclusivamente das partes diretamente envolvidas, ou seja, de um diálogo entre os governos deposto e golpista, com ajuda de alguma autoridade, que não precisa ser, necessariamente, a OEA. “O que se quer é uma saída negociada, um diálogo direto entre eles”.
Gonçalves acredita que a rejeição às sanções feitas pela OEA desde que ocorreu o golpe de Estado, no dia 28 de junho, não demonstra uma fraqueza da instituição, mas sim uma rejeição de Micheletti ao diálogo. “[A falha nas negociações] não fere a autoridade da OEA, pois a instituição tem uma autoridade limitada, pode fazer pressão política ou pressão moral. Foi o Micheletti que impediu a entrada de diplomatas da OEA em Honduras”.
Sem autoridade
Já o professor titular da Unb (Universidade de Brasília) e do Instituto Rio Branco, Amado Cervo, afirma que a falta de acordo em Honduras acontece porque a OEA não tem autoridade suficiente para interferir no caso e, além disso, alguns países membros do Conselho de Segurança da ONU não querem se envolver com a crise política do país caribenho. “Com isso, a coisa fica sendo empurrada para lá e para cá”.
O professor diz ainda que a OEA vem perdendo a autoridade no continente, além de não ter o papel de mediar o conflito. “A OEA nunca foi uma instituição de arbitramento político. Desde a década de 1960 ela não intervém de modo positivo no continente. É por isso que o Celso Amorim quer que a ONU interfira”, disse Cervo.
Ao cobrar maior pressão da comunidade internacional diante da ditadura em Honduras, o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, disse que o aumento da repressão “demonstra um quase estado de surdez das autoridades em relação ao que tem dito a comunidade internacional”.
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Adiamento
A missão de chanceleres da OEA
que estava prevista para chegar quinta-feira a Honduras adiará a
visita para 7 de outubro, informou hoje o ministro de Exteriores da
Costa Rica, Bruno Stagno.
O ministro não quis detalhar as atividades ou reuniões que os ministros
realizarão em Honduras, mas afirmou que o objetivo da missão “é
instalar uma mesa de diálogo para instaurar um acordo de paz”.
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