Tom Daschle, a grande aposta do presidente Barack Obama para reformar a saúde pública dos Estados Unidos, demitiu-se hoje (3), pressionado pela revelação de que sonegou cerca de US$ 128 mil em impostos (R$ 300 mil).
Nancy Killefer, nomeada para presidir a comissão de controle da eficiência governamental, também se demitiu, pela mesma razão. Mas o caso de Daschle teve mais impacto, já que o ex-poderoso senador democrata era o indicado para a direção da Secretaria de Saúde Pública e a grande esperança presidencial para mudar totalmente o sistema.
Ele foi o principal assessor de Obama nessa matéria durante a campanha, escreveu um livro sobre a necessidade da reforma e recebeu a tarefa de criar um sistema nacional de seguro de saúde, que proteja todos os norte-americanos, tenham eles emprego ou não.
Tema do último filme do documentarista Michael Moore (Sicko, traduzido no Brasil como SOS Saúde), a questão foi muito explorada na campanha eleitoral, praticamente um ponto de honra para Obama. Seu adversário, John McCain, defendia que os cidadãos pagassem menos pelo seguro-saúde, mas não necessariamente a universalização, ou seja, todos os norte-americanos terem direito a atendimento para todo tipo de doença.
Segundo o Instituto de Medicina da Academia Nacional de Ciências, uma entidade sem fins lucrativos, os Estados Unidos são o único país desenvolvido e industrializado sem serviço público de saúde para toda a população.
Daschle deveria comparecer amanhã à comissão de finanças do Senado, primeiro passo para que sua nominação fosse efetivada. Mas neste fim de semana, vieram à tona boatos de que há anos o político sonegava imposto. Em poucas horas, republicanos e a imprensa conservadora começaram a exercer pressão.
De nada valeu uma declaração do presidente ontem, dizendo que mantinha sua confiança no ex-senador porque, entre outras razões, já tinha regularizado sua situação tributária.
“Estou profundamente envergonhado pelos erros que me obrigaram a corrigir minha declaração de impostos. Peço desculpa por meus erros, que não foram intencionais e dos quais me arrependo profundamente, ainda mais porque [os senadores] tiveram que perder seu tempo”, disse esta manhã, numa carta enviada ao comitê de finanças.
Segundo o The New York Times, o ex-senador sabia que devia os impostos atrasados.
A saída de cena de Daschle é um golpe para Obama e a procura por um substituto agora implica em uma distração adicional, num momento em que o Senado discute seu pacote de recuperação econômica, já aprovado na Câmara mas reprovado pela maioria dos republicanos. Além disso, representa também um problema para um presidente que, durante a campanha eleitoral, prometeu um governo “transparente e exemplar”.
Secretário do Comércio já havia caído
A saída de Daschle não é a primeira no gabinete de Obama. No mês passado, o governador do Novo México, Bill Richardson – nomeado para secretário do Comércio –, também se demitiu depois que começou a ser investigado por corrupção em contratos com empresas privadas que contribuíram em sua campanha para o governo estadual.
Obama anunciou hoje o substituto de Richardson. Fiel à promessa de montar um gabinete bipartidário, o presidente foi atrás do senador republicano Judd Gregg. Ele justificou a escolha dizendo que “é preciso a ajuda de todos para salvar uma economia em queda livre”.
“É óbvio que Judd e eu não estamos de acordo em todos os temas. A começar por quem devia ter ganho as eleições [presidenciais]. No entanto, estamos de acordo sobre a necessidade urgente de salvar as empresas e as famílias norte-americanas. Sabemos que a única maneira de resolver o grande desafio do nosso tempo é deixar de lado as diferenças ideológicas e o partidarismo e trabalhar naquilo que realmente funciona”, disse o presidente norte-americano.
A sonegação fiscal também abalou em janeiro a nomeação do novo secretário do Tesouro, Timothy Geithner, que teve de responder por um rombo de US$ 34 mil no imposto de renda.
Ex-presidente do Fed (banco central norte-americano) de Nova York, Geithner pediu desculpas em uma longa sessão no Senado, em que admitiu a culpa, mas disse que se tratava de “um erro inocente”, que não seria cometido novamente. A quantia devida foi paga com juros. Geithner, no entanto, foi confirmado no cargo e assumiu no último dia 27 de janeiro.
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