Um tribunal na Espanha realizou, nesta segunda-feira (11/01), a primeira sessão do julgamento do ano contra a infanta Cristina, irmã do rei Felipe VI, e seu marido, Iñaki Urdangarín, acusados de corrupção. Outras 15 pessoas estão sendo julgadas pelo caso.
Cristina enfrenta um pedido de oito anos de prisão. Ela é acusada de ser cúmplice de fraude fiscal e lavagem de dinheiro relacionado ao desvio de cerca de € 6,6 milhões (quase R$ 29 milhões) de dinheiro público, entre 2004 e 2007, realizado por Urdangarín e pelo ex-sócio dele, Diego Torres.
Agência Efe
Infanta Cristina e marido, Iñaki Urdangarín, chegam ao tribunal de Palma de Mallorca nesta segunda (11/01)
Neste primeiro dia de julgamento, os respectivos advogados irão apresentar questões prévias. A defesa da irmã do rei solicitará que ela seja liberada da acusação de crime fiscal, sob a justificativa de que a única parte acusadora, o sindicato Mãos Limpas — que desempenha acusação popular —, não está legitimado para colocá-la na condição de réu.
O argumento da defesa se baseia na doutrina Botín, uma jurisprudência que surgiu pelo processo em 2007 contra o ex-presidente do Banco Santander, o falecido Emilio Botín. Ela estabelece que não se pode julgar um acusado se só há acusações populares contra ele, como é o caso de Cristina.
Além disso, o advogado de Cristina alega que nem a promotoria, nem a Advocacia do Estado apresentaram acusações formais contra ela. Apesar disso, a promotoria espanhola considera que a infanta seja responsável por ter se beneficiado de quase € 590 mil (cerca de R$ 2,5 milhões).
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Casa Real evita polêmica
Urdangarín, que enfrenta um pedido da promotoria de 19,5 anos de prisão, tentou ao máximo desvincular a infanta, o rei Juan Carlos e a Casa Real do escândalo. No entanto, Diego Torres, que enfrenta um pedido de 16,5 anos de prisão, alega o contrário.
“A Casa Real estava informada, sabia, supervisionava e ocasionalmente até colaborava”, afirmou o ex-sócio, em entrevista divulgada no domingo (10/01) à noite pela emissora La Sexta. “Tenho mais de 300 e-mails relacionados à Casa Real. Alguns são do rei [Juan Carlos], efetivamente, outros são de outras pessoas”, disse, dando a entender que poderia divulgar informações comprometedoras durante o julgamento.
Segundo Torres, ele e Urdangarin não se falam há oito anos. “[Iñaki] pediu-me que assumisse a maior parcela da responsabilidade em troca de dinheiro e um cargo de trabalho”, acusa o ex-sócio.
Enquanto isso, o rei Felipe VI trabalhará normalmente, mas em sua agenda não constam atos oficiais, informou o Palácio de Zarzuela. “Não é nenhuma novidade. O rei não está alheio a nada do que acontece na Espanha”, disseram ao El País fontes próximas ao monarca.
Segundo essas mesmas fontes, não está previsto para esta segunda nenhuma reação de Felipe VI sobre o julgamento. Desde o início das investigações, em 2014, a família real evita comentar o escândalo.
Agência Efe
Ao fundo, Urdangarín (esq) e Diego Torres, ex-sócios
“Caso Noós”
Batizado de caso Noós, devido ao Instituto Noós — uma entidade sem fins lucrativos, presidida por Urdangarín e que teria sido usada para a lavagem do dinheiro — o incidente está sendo analisado pelo juíz José Castro no tribunal de Palma de Mallorca (Ilhas Baleares).
Segundo o juíz, Urdangarín e Cristina também teriam usado a companhia patrimonial dos dois, Aizoon, “para cometer crimes fiscais”, recebendo verbas da ONG mesmo sabendo de sua origem ilícita.
Ainda de acordo com Castro, há um documento de mais de 200 páginas que provam os crimes cometidos pelo casal. A todo momento, a infanta teria repetido que “confiava em seu marido” e também garantiu que seu pai tinha dito ao genro que devia afastar-se dos negócios do Instituto Nóos.
Agência Efe
Advogados da infanta Cristina de Bourbon tentam livrá-la das acusações