Ao entrar em uma das galerias do Guggenheim Museum, de Nova York, é de se espantar que as mais de 120 obras expostas foram produzidas por uma menina de, no máximo, 22 anos. A maturidade das mensagens, as referências e a exploração visuais levam a adjetivos como “erudito” ou “atemporal”, como a própria curadora de fotografia da instituição, Jennifer Blessing, faz questão de salientar sobre o trabalho de Francesca Woodman – palavras um tanto quanto difíceis de usar para uma recém-formada estudante de arte.
“O ambiente em que ela estava inserida fez com que ela já chegasse na escola com um discurso pronto. Seus pais e seus irmãos também eram artistas e até professores. Ela viveu em uma casa que fez com que ela, desde cedo, entendesse o que é ser um artista”, explica Blessing. Francesca cursou a conceituada RISD (Rhode Island School of Design), nos EUA; se mudou para Nova York depois de finalizar os estudos para tentar a carreira como fotógrafa de moda e se matou em 1981.
Após seu falecimento, sua primeira exposição, em 1986, a colocou no círculo de arte como uma produção a se levar a sério. “E, natualmente, agora é a época para se fazer uma retrospectiva de seu trabalho, por causa da grande significação para as gerações mais novas. Sua primeira exposição tentou enquadrá-la no contexto do feminismo, de artistas mulheres que usam o corpo. Hoje, o que faz seu trabalho interessante aos olhos do público mais jovem é a característica do feito a mão, do “faça-você-mesmo”. As ferramentas digitais trazem isso hoje em dia. Ambos, Francesca e os meios digitais, demonstram a intimidade do autor.”, explica Blessing.
NULL
NULL
Um dos fatos que mais chamam a atenção nas pequenas fotografias de Francesca é o uso do corpo como forma de construir uma narrativa. As imagens, que geralmente a mostram nua ou com pouca roupa, contam uma história além da do personagem que foi retratado. O corpo, neste caso, não representa uma auto-biografia, mas é usado como uma mídia para levar o público à uma conclusão. “Grande parte do trabalho de Francesca são tarefas que os professores mandavam para ela. Em vez de entregar uma simples resposta à pergunta do exercício, ela trazia uma obra de arte com a sua própria narrativa. Ela controlava como o seu corpo era projetado na câmera, assim como um espelho que ela pudesse controlar. Isso a levava a uma posição complicada, entre ela respresentar a si mesma (e não se autorretratar biograficamente) e como o corpo feminino pode ser visto.”
Francesca não ficou restrita apenas às fotografias. A RISD foi uma das primeiras escolas dos EUA a colocarem o vídeo na grade curricular, como uma possível exploração artística. “É muito interessante ver como ela levou para o vídeo sua linguagem fotográfica, com o acréscimo do som e da textura. Ver a performance em movimento e com a qualidade fotográfica faz com que fique mais fácil de ver o humor, a leveza e até a melancolia de seu trabalho. Algumas pessoas falam que isso é por causa do formato branco e preto, mas, na verdade, na época, nos anos 1970, era o formato mais popular, já que usar cores era considerado grotesco, da publicidade, feio.”
A exposição fica no Guggenheim de Nova York até 13 de junho.