O governo da Etiópia decretou estado de emergência no país e orientou os cidadãos a defenderem a capital, Adis Abeba, enquanto tropas rebeldes do Tigré cercam a região e ameaçam tomar a cidade em semanas.
Emitido nesta terça-feira (02/11), o decreto prevê bloqueios em estradas, toques de recolher e presença militar em áreas civis para, segundo o governo, defender a capital de “grupos terroristas”.
A ofensiva contra Adis Abeba é realizada pelo Exército de Libertação Oromo (OLA), grupo armado que pertence à mesma etnia do primeiro-ministro e vencedor do Nobel da Paz, Abiy Ahmed, aliada à Frente de Libertação do Povo do Tigré (TPLF) na luta contra o governo central.
Segundo a emissora Al Jazeera, as tropas do Tigré anunciaram a tomada de cidades estratégicas como Dessie e Kombolcha, que ficam a 400km de Adis Abeba, indicando uma marcha até a capital.
Segundo a agência AFP, o Exército de Libertação Oromo disse que a conquista da capital é “uma questão de meses, se não de semanas”, e que a queda de Ahmed é “inevitável”. O enviado especial dos EUA para o Chifre da África, Jeffrey Feltman, deve chegar na Etiópia nesta quinta-feira (04/11).
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Estado de emergência prevê bloqueios em estradas, toques de recolher e presença militar em áreas civis
O governo central desmente o avanço dos rebeldes e o premiê chegou a acusar os grupos armados de tentarem transformar a Etiópia em “uma Líbia ou uma Síria”, dois países que se fragmentaram por causa de guerras civis.
A tensão começou a se agravar há exato um ano, quando o Exército iniciou uma ofensiva na região setentrional do Tigré, controlada pela TPLF, que foi dominante na política etíope até a ascensão de Ahmed, em 2018, e diz ter sido marginalizada pelo primeiro-ministro.
A frente também é contra o acordo de paz com a Eritreia, que rendeu o Nobel da Paz a Ahmed. Os dois países passaram cerca de 20 anos em guerra pelo controle da região de Badme, que faz fronteira com Tigré, mas firmaram um tratado de paz em 2018, após o premiê etíope aceitar retirar as tropas da área em disputa.
Ahmed havia prometido uma vitória rápida contra a TPLF, mas o grupo se reorganizou e passou a reconquistar territórios a partir de junho, chegando inclusive às regiões vizinhas de Afar e Amhara.
Já o OLA, que combatia o governo na região de Oromia, fechou uma aliança com o TPLF em agosto passado.
*Com Ansa