Último enclave antes da fronteira sírio-turca, a cidade de Kobani viveu na madrugada deste domingo (19/10) a batalha mais violenta dos últimos dias. Responsáveis por defender a região com o auxílio de bombardeios aéreos da coalizão ocidental liderada pelos EUA, as milícias armadas curdas seguem protagonizando embates contra os membros do EI (Estado Islâmico). Do outro lado da fronteira, a Turquia — que possui longo histórico de desavenças com a população curda separatista — continua a impor resistências e hesita em fornecer ajuda na luta contra os jihadistas do EI.
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Agência Efe
Cortina de fumaça ergue-se sobre a cidade curdo-síria de Kobani, próxima à fronteira turca, alvo atual dos jihadistas do EI
Hoje, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse que seu governo não dará apoio às milícias curdas em Kobani por considerá-las “terroristas”. O líder turco comparou o PYD (Partido União e Democracia), maior instituição curda da Síria e responsável por controlar os grupos armados que combatem o EI, com o PKK (Partido de Trabalhadores do Curdistão), organização curdo-turca que, há décadas, luta por independência na Turquia — o PKK, para Erdogan, é “tão terrorista quanto o EI”.
“Dar armas ao PYD para formar uma frente contra o Estado Islâmico? Vejamos: para nós, o PYD é igual ao PKK. Também é uma organização terrorista”, disse Erdogan a jornalistas durante um voo em que retornava do Afeganistão.
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Dessa forma, o presidente turco deixou claro que seu governo não iria concordar com qualquer esforço por parte dos EUA em fornecer ajuda e armar os grupos curdos na região de fronteira entre a Síria e a Turquia.
“Os Estados Unidos, nosso amigo e aliado na Otan [aliança militar ocidental], estaria muito errado se esperasse de nós dizer 'sim' após anunciar abertamente apoio a uma organização terrorista. Ninguém pode esperar algo assim de nós; não podemos dizer ‘sim’ a algo assim”, afirmou Erdogan.
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Ao contrário do PKK, o PYD, o partido mais forte nas regiões curdas da Síria e o único que mantém milícias armadas (conhecidas como YPG), não foi declarado terrorista nem pela Turquia nem por outros países, e seu líder, Saleh Muslim, viajou este mês para Ancara para se reunir com as autoridades turcas.
Refugiados curdos
Em entrevista, Erdogan voltou a mencionar as quatro condições para que a Turquia participe da coalizão anti-EI: estabelecer uma zona de exclusão aérea e uma faixa de segurança, treinar e equipar a oposição síria e finalmente garantir que se intervenha contra o regime sírio.
Com a “faixa de segurança” Erdogan não se referia a uma região ocupada por tropas turcas, mas a uma zona próxima à fronteira sírio-turca por onde os refugiados sírios atualmente residentes na Turquia pudessem retornar. Atualmente, há mais de um milhão de sírios refugiados ali.
Erdogan assinalou que as negociações com Washington continuavam sem terem ainda um resultado claro, mas reiterou que não sentia necessidade de intervir para salvar a cidade de Kobani, sitiada pelo Estado Islâmico há um mês e onde os combates entre curdos e jihadistas se desenvolvem a poucos metros da fronteira turca.
(*) Com informações da Agência Efe