Em contraponto ao frio da noite de inverno em Montevidéu, Uruguai, representantes de movimentos sociais do Paraguai e da Venezuela protagonizaram um encontro caloroso na reunião de abertura da Cúpula Social do Mercosul, marcado por trocas de elogios. Os dois países vivem uma crise política desde o golpe de Estado contra o presidente Fernando Lugo, condenado na época tanto pelo bloco sul-americano como pela Unasul (União de Nações Sul-Americanas). A suspensão do Paraguai permitiu a integração da Venezuela ao Mercosul, processo travado pelo Senado paraguaio.
Vitor Sion/Opera Mundi
Representantes de movimentos sociais se levantam para homenagem ao falecido presidente venezuelano Hugo Chávez
O clima era de boas vindas. Na plateia, que contava com cerca de 300 pessoas, uma faixa produzida por organizações do Paraguai celebrava a chegada dos venezuelanos. Assim como o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que fez um discurso conciliador no começo da semana – chegando a oferecer que o Paraguai assuma a presidência do bloco em trocas das boas relações – a embaixadora do país no Mercosul, Isabel Delgado, também acenou positivamente aos paraguaios e à integração regional.
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“Como dizia Hugo Chávez, o Mercosul é o grande motor da integração da América Latina. É um bloco muito poderoso”, destacou Delgado. A Venezuela assume a Presidência rotativa do Mercosul na próxima sexta-feira (12/07). No entanto, o Paraguai não aceita voltar sob a liderança venezuelana. Isso porque se Assunção não tivesse sido suspensa, teria a presidência temporária do bloco na época.
Após a intervenção de Delgado, o vice-chanceler uruguaio, Luis Porto, reforçou a mensagem de união. “Aprendemos aqui no Uruguai, desde criança, que somos todos irmãos na América do Sul”, disse. Em seguida, a grande maioria dos presentes se levantou e começou a cantar em homenagem a Chávez, que faleceu em 5 de março deste ano. “Chávez vive, a luta segue” e “Chávez não morreu, se multiplicou” eram as consignas mais repetidas.
Efe (05/07/2013)
Maduro fez discurso conciliador para o governo Paraguai, oferecendo que o país assuma a presidência do Mercosul
O embaixador do Brasil no Mercosul, Ruy Pereira, classificou a pressão dos movimentos sociais pela integração da América do Sul como fundamental para a continuidade do processo. “A integração não é um movimento natural para os Estados, em sua concepção política inicial. É preciso um pensamento e uma boa vontade de longo prazo. Considero a Cúpula dos Povos o fórum mais importante do Mercosul, pois representa o diálogo entre os governos e a sociedade civil”, afirmou.
O primeiro a discursar, o senador uruguaio Roberto Conde apresentou o histórico do bloco, desde a sua criação em 1991. ”Passamos, a partir de 2004, com os governos progressistas, de uma zona de livre comércio a uma área de integração e complementação econômica. Temos que usar o Mercosul para quebrar a ação das elites, que usam os movimentos sociais com o objetivo de se perpetuarem no poder, mas não governam para eles.”
Espionagem e Morales
Além dos temas de integração, também foram lembrados no evento a espionagem dos EUA aos dados de milhões de pessoas, inclusive no Brasil e no restante da América Latina, e o bloqueio de quatro países europeus ao avião do presidente boliviano, Evo Morales, na semana passada. Os dois fatos foram classificados pelo representante da Argentina, Oscar Laborde, como uma violação dos direitos humanos.
O presidente do Uruguai, José Mujica, é esperado na tarde desta quinta-feira (11/07) no ato que encerra as atividades da Cúpula Social do Mercosul, realizada desde 2006 e que reúne dezenas de movimentos sociais em Montevidéu. Dilma Rousseff, por sua vez, deve chegar à capital uruguaia na noite de hoje para participar das reuniões de amanhã.