Argentina – 2 a 28 de junho de 1978
A Copa na Argentina dos generais
Muitas seleções expressam desconforto em participar de uma edição organizada em um país submetido a uma rígida ditadura. No fim, nenhuma desistência. O astro holandês Cruyff, porém, se recusa a jogar na Argentina de Videla. A Holanda chega à final mesmo sem o craque, pela segunda vez, mas perde contra a Argentina. Os donos da casa, para chegar à final, devem bater o Peru com mais de três gols de diferença. Vencem por 6 a 0, um tango em frente ao gol de Ramon Quiroga, goleiro peruano de origens argentinas. O Peru teria recebido do governo argentino imensas provisões de grãos e 50 milhões de dólares. É o primeiro triunfo argentino, propaganda de um governo onde se acumulam os desaparecimentos forçados de opositores do regime.
A marmelada peruana em vídeo: Argentina e Peru, 6 a 0.
Espanha – 13 de junho a 11 de julho de 1982
Itália, finalmente
A Copa espanhola é a primeira a receber representantes de todos os cinco continentes. Vence o mundial uma Itália que começou mal e que não era a favorita nos prognósticos. A Argentina apresenta-se com a numeração das camisas seguindo a ordem alfabética. O número 1 não vai para o goleiro, mas a Ossie Ardiles. O jovem talento Maradona ficaria com o 12, mas ele troca de camisa com Patricio Hernandez para vestir o épico 10. Honduras empata 1 a 1 com os donos da casa, talvez também graças às numerosas mandingas, entre as quais figura a “bênção das bebidas”. Vinte e cinco polacos se aproveitam dos vistos obtidos para acompanhar a própria seleção para pedir asilo político na Espanha. Semifinal entre Alemanha e França: Schumacher faz uma entrada violenta no francês Battiston, que tem dois dentes quebrados e rachaduras em duas vértebras: não é falta! No quarto gol da França sobre o Kuwait (cujo mascote é um camelo trazido pelo mar) o xeique Fahad entra em campo para protestar contra o gol francês – que o árbitro, surpreendentemente, acaba anulando.
Vale a pena ver o vídeo que mostra o protesto do xeique Fahad.
México – 31 de maio a 29 de junho de 1986
Argentina, Argentina!
Maradona: o gol mais belo da história e “la mano de dios”; gênio e louco. Tudo contra a odiada Inglaterra, uma vingança esportiva contra um país que poucos anos antes tinha combatido e vencido a guerra contra a Argentina pelas ilhas Malvinas. O torneio deveria ter sido realizado na Colômbia, mas por problemas internos transfere-se para o México, que apesar de atingido há pouco por um violento terremoto torna-se o primeiro país a hospedar duas vezes a competição. Shaker Marmoud, zagueiro iraquiano, é expulso por cuspir no árbitro. O uruguaio José Batista é expulso após 56 segundos na partida contra a Escócia: recorde. É o mundial da URSS do coronel Lobanovsky, o treinador de ferro, chamado por Moscou para guiar a expedição russa ao México. A URSS mostra um futebol que lembra o jogo holandês em sua época de ouro, bate a odiada Hungria por 6 a 0, mas é eliminada nas oitavas de final pela Bélgica de Scifo. A Itália é eliminada pela França com um gol de Platini.
Vale a pena ver no vídeo: todo Maradona em uma partida.
Itália – 8 de junho a 7 de julho de 1990
O tri da Alemanha
Noites mágicas: na Itália são enormes as expectativas sobre os “azzurri”, donos da casa. Clamorosa semifinal. Itália e Argentina, oito minutos de acréscimos no primeiro tempo – o árbitro se esqueceu de olhar o relógio. A equipe revelação é Camarões, primeira africana a chegar às quartas de final, capitaneada pelo fantástico Roger Milla, com 38 anos de idade. Um dos gols mais sensacionais é feito contra a Colômbia. O excêntrico goleiro sul-americano Higuita decide tentar driblar o atacante africano no meio do campo durante os acréscimos. Tentativa frustrada, e Milla não perdoa. Venglos, técnico da Tchecoslováquia, reclama do barulho constante de um avião que passa continuamente sobre o campo de treinamento de seus jogadores. Levanta-se inclusive a hipótese de que se trate de uma aeronave espiã enviada pelos alemães, próximos adversários da Tchecoslováquia. A semifinal entre a Alemanha Ocidental e a Inglaterra é marcada por bate-bocas entre árbitro e bandeirinha, já que o último sinaliza incessantemente as faltas que o primeiro não marca. A final é vencida pela Alemanha Ocidental com um pênalti contra a Argentina, cujo hino nacional é vaiado no estádio, para a ira de Maradona.
No vídeo, o estupendo gol de Milla contra a Colômbia.
Estados Unidos – 17 de junho a 17 de julho de 1994
De novo deu Brasil
No torneio realizado nos Estados Unidos, uma novidade: é a primeira vez que as camisas trazem os nomes dos atletas. O Brasil vence a Itália na primeira final sem gols da história, e a primeira a ser decidida nos pênaltis. Escober, autor do gol contra que resulta na eliminação da Colômbia contra os Estados Unidos, é morto no retorno ao país por traficantes do cartel de Medellín. Milla supera seu recorde de jogador mais velho a marcar um gol na competição: 42 anos. O teste antidoping de Maradona resulta positivo. O russo Salenko é o primeiro a marcar cinco gols em uma única partida, contra Camarões. Itália e Espanha, 2 a 1: os espanhóis até hoje esbravejam por uma cotovelada de Tassotti em Luis Enrique na área do gol italiana. Na final, Pagliuca beija a trave que o salvou de um papelão: a bola que lhe escapou das mãos em um lance inofensivo quase rendeu a vitória ao Brasil.
Veja, no vídeo, como Pagliuca agradece a sorte.
França – 10 de junho a 12 de julho de 1998
“Allez les bleus!”
O primeiro triunfo francês, com os jogos realizados na França pela segunda vez na história. É o primeiro torneio com 32 equipes, e é introduzida a novidade do “golden gol”, que acontece pela primeira vez nas oitavas de final entre a França e o Paraguai do supersticioso e excêntrico goleiro Chilvert, que faz os donos da casa tremerem. Escândalo na final: no dia anterior, Ronaldo, o Fenômeno, é colocado no banco. Acaba jogando, mas demonstra um péssimo estado físico, causado por um mal-estar que será muito discutido nos anos seguintes: ataque epilético, crise cardíaca ou o quê? A França vence por 3 a 0 e se torna a sexta seleção a conquistar um troféu em casa. Primeira Copa da Jamaica, que perde as primeiras duas partidas contra Argentina e Croácia, e vence a última com um 2 a 1 contra o Japão, uma vitória saudada como o triunfo dos “reggae boys”. A surpresa é a Croácia, um país ainda abalado pelas recentes turbulências balcânicas, que na sua primeira participação em Copas chega à semifinal graças aos gols de seu “bomber” Suker e à organização do técnico Blazevic. A Itália é eliminada nas quartas de finais contra a França. Entram para a história o erro de Gigi Di Biaggio e o quase gol de Baggio.
No vídeo, a França vence o Brasil por 3 a 0 com dobradinha de um incontrolável Zidane.
Japão/Coreia do Sul – 31 de maio a 30 de junho de 2002
A Copa da Mundo chega à Ásia
A primeira edição fora da Europa e da América, a primeira na Ásia e a primeira organizada por dois países, Coreia do Sul e Japão. Vence o Brasil, seu quinto título. A Itália é eliminada nas oitavas de final pela Coreia do Sul e por um árbitro, Byron Moreno, que faz de tudo para ajudar os donos da casa a vencer. Também na partida seguinte contra a Espanha, a Coreia do Sul, treinada pelo excelente Guus Hiddink – a quem será dedicado um estádio –, é empurrada para a vitória, chegando assim epicamente às semifinais. O árbitro da partida, o egípcio Al-Ghandour, define a arbitragem das quartas de final, uma das melhores de sua carreira. O treinador da China, Milutinovic, chega à sua quinta Copa, sempre com uma seleção diferente, um recorde. A França, então campeã, acumula somente um ponto e é eliminada na fase de grupos, sendo protagonista da sensacional derrota na estreia contra a ex-colônia e surpreendente Senegal: um continente inteiro festeja.
Acompanhe, no vídeo, a discutível arbitragem a favor da Coreia do Sul.
Alemanha 9 de junho a 9 de julho de 2006
O céu de Berlim é azul
Triunfo “azzurro” na Alemanha. Pela primeira vez os então campeões enfrentam as classificatórias para participar do torneio. Na partida entre Croácia e Austrália, Simunic é advertido três vezes antes de ser expulso. Há seis debutantes: Costa do Marfim, Angola, Gana, Trinidad e Tobago, Togo e Ucrânia. Eriksson, técnico inglês, explica porque Beckham não é titular: “ele não é meu namorado”. A Itália chega abalada pelo escândalo em sua liga nacional, e sai vencedora da final contra a França, que será lembrada pela célebre cabeçada de Zidane em Materazzi nos acréscimos. O grande protagonista da semifinal contra os donos da casa é Fábio Grosso, que até o ano anterior jogava na série B do campeonato italiano, no Palermo. A Itália vence graças a uma sólida defesa. Seus artilheiros são Toni e Materazzi, com apenas dois gols!
Vídeo registra o momento de loucura de Zizou, que acaba expulso na final.
África do Sul – 11 de junho a 11 de julho de 2010
Bem-vindo à África!
Primeira Copa em terras africanas: África do Sul e vuvuzelas. Grandes polêmicas durante a organização, com atrasos na construção de estádios e explosão de tensões xenofóbicas colocando a realização do Mundial em questão. No final, a Copa acontece e quem vence e convence é a Espanha, em seu primeiro título mundial, na final contra a azarada Holanda. Os Oranje, chegam pela terceira vez à final, e perdem pela terceira vez. Quatro jogadores da Coreia do Norte desaparecem. Difunde-se a ideia de que seja uma tentativa de fuga do regime de Kim Jong Il. Depois se esclarece que teria sido um erro na lista de jogadores enviada na véspera da partida contra o Brasil. Outras notícias relacionadas à desastrosa expedição norte-coreana: o treinador, ao voltar ao país, teria sido enviado a um campo de trabalhos forçados. Grande partida entre Uruguai e Gana. No último segundo do segundo tempo de acréscimos, Suarez salva sua seleção de um gol com a mão. Pênalti; Gyan se apresenta e erra. O Uruguai vence fácil nos pênaltis e Gana vê morrer o sonho de ser a primeira seleção africana a chegar a uma semifinal da Copa.
No vídeo, a falta do uruguaio Suarez contra Gana.
Tradução Carolina de Assis
Linha do tempo produzida por Knightlab, associação entre a Universidade Northwestern e escolas de jornalismo e de ciências aplicadas nos Estados Unidos para desenvolver projetos de inovação em mídia informativa.
Samuel na Copa
Pela segunda vez na história do Mundial de Futebol, o Brasil é o país anfitrião do maior evento esportivo do planeta. Talvez a principal diferença entre o torneio de 1950 e o de 2014 esteja no alcance e na instantaneidade com que bilhões de pessoas acompanham os jogos, resultados e fatos relacionados à Copa.
Ao mesmo tempo em que o futebol e as Copas ganharam cada vez mais adeptos e torcedores, maior passou a ser a cobertura da mídia do evento que acontece a cada quatro anos. No caso do Brasil de 2014, são cerca de 20 mil jornalistas de todos os cantos do mundo relatando, fotografando e mostrando o que acontece no país.
A Samuel, agora em sua versão eletrônica, também dedica o período da Copa a trazer o que a mídia independente do Brasil e do mundo vem registrando sobre o antes, o durante e o depois do evento, seus participantes e espectadores. Textos e vídeos postados diariamente darão a medida dos diferentes olhares e observações que irão marcar o cotidiano dos 32 países representados no evento.
Veja todo o material do especial Samuel na Copa:
A intimidade dos brasileiros com a essência do futebol
Seleção australiana tem música oficial gravada por cantora pop
“Allez les bleus! Viva l'Algérie!”
Pikachu pega carona na seleção japonesa
Honduras: onde o futebol explica a sociedade
Um amor tão grande pela Itália
Somos gigantes, somos fortes, somos os nigerianos
O bem-humorado fantasma uruguaio
As surpresas da seleção da Rússia
Cinco falácias e cinco verdades sobre a Copa
Contra o separatismo, Diabos Vermelhos
Futebol arte: dos estádios para as praças
As Copas na linha do tempo (1a Parte)
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