Abaixo, leia a íntegra da carta aberta publicada por professores universitários do Rio de Janeiro:
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CARTA ABERTA DOS PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS DO RIO DE JANEIRO
Nós, professores universitários do Rio de Janeiro abaixo assinados, dirigimo-nos a todos, pela importância das recentes manifestações, e, em particular, aos estudantes, que estão fortemente engajados no aprofundamento da democracia, das liberdades e da igualdade no Brasil.
Antes de tudo, expressamos veementemente nosso repúdio à violência imposta pelas polícias estaduais aos estudantes, muitas das quais presenciamos, outras que nos foram relatadas por nossos alunos, e ainda outras tantas veiculadas pelas redes sociais. Essa arbitrariedade não atinge somente a eles; fere a democracia no que lhe é mais caro: a liberdade e os limites legais aos quais a ação do Estado deve se ater rigidamente.
A luta por direitos, democracia e serviços públicos de qualidade no Brasil é centenária. Tem em sua história passada e presente o concurso de movimentos, sindicatos, partidos políticos de esquerda, pessoas enfim, que, como os de agora, sabem que a boa política se faz com instituições republicanas e participação popular. A juventude brasileira, hoje e em outras épocas, sempre disponibilizou sua energia e seus ideais para a construção de um país mais justo, ao lado de trabalhadores urbanos e rurais.
A utilização das redes sociais é a novidade trazida para o cenário da política no Brasil. O ato pela redução das tarifas do transporte coletivo em São Paulo foi fortemente reprimido pela polícia estadual e vilipendiado pelas mídias tradicionais, obtendo, pela capilaridade das redes sociais, a imensa solidariedade e adesão da população, dando vitória àquela pauta em várias cidades do país. A pluralidade das reivindicações levadas às ruas por este processo colocou no centro da agenda política, positivamente, a qualificação dos sistemas públicos de transporte, como também os de saúde e educação.
Em paralelo à repressão, os interesses políticos antidemocráticos tentaram também parasitar a energia das manifestações para delas extrair seu vigor. Desestabilizaram a atitude plural, inclusiva e pacífica das manifestações, estimulando o conflito entre a multidão e movimentos sociais, sindicatos e partidos políticos, historicamente reconhecidos pelas lutas por liberdades públicas e igualdade social. Pretenderam imprimir às reivindicações um caráter fascista, de todo contrário ao sentimento de reconhecimento alcançado pelas ruas. Pelo exposto, e diante de tantas informações controversas que nos assolaram nos últimos dias, reafirmamos veementemente nossa luta cotidiana:
1.) Pela democracia como esforço coordenado entre vontade popular, instituições e procedimentos, sendo todos os cidadãos autores e destinatários das regras de convivência;
2.) Por uma democracia plural, inclusiva e vigorosa, para a qual são indispensáveis as várias organizações e movimentos sociais, os partidos políticos e a instituição do Parlamento;
3.) Pelo respeito à ampla liberdade de expressão, associação e manifestação, observando os direitos fundamentais, e pelo repúdio radical à sua repressão violenta e arbitrária;
4.) Pelo direito à presunção de inocência, à ampla defesa e ao devido processo legal, que são garantias institucionais legadas pelas conquistas democráticas brasileiras;
5.) Em repúdio à criminalização dos movimentos sociais e sua livre manifestação, à violência repressiva e arbitrária da atuação policial, aos cercos territoriais de exceção, às prisões e aos encarceramentos indiscriminados, que falseiam a democracia;
6.) Pelo rechaço à cobertura tendenciosa e comprometida da imprensa escrita e televisionada que reinterpreta os fatos de acordo com as conveniências políticas e econômicas dos conglomerados midiáticos, o que implica a urgência da democratização dos meios de comunicação;
7.) Pelo não reconhecimento do anonimato como uma boa forma de participação política nas democracias, porque as ideias sem rosto se prestam magistralmente à apropriação por interesses que não se mostram, mas querem parasitar as energias legítimas da população.
Entendemos, por fim, que o momento é rico. A Constituição de 1988, marco da nossa recente redemocratização, completa 25 anos. Às lutas que a antecederam e sucederam, devemos não apenas a estabilidade das instituições democráticas, mas também os inegáveis desenvolvimentos na inclusão social. É deste patamar que a rua expõe sua disposição e seu saber: o país está no momento de avançar nas reformas no transporte, na saúde, na educação.
Democracia não é apenas voto, nem somente rua. A sua realização exige a ampliação dos intérpretes das demandas sociais e a abertura do sistema político à participação popular.
Rio de Janeiro, 24 de junho de 2013
Gisele Silva Araújo – UNIRIO
Rogerio Dultra dos Santos – UFF
Vanessa Oliveira Batista Berner – UFRJ
Adriana Geisler – PUC-Rio
Adriana Vidal de Oliveira – PUC-Rio
Douglas Guimarães Leite – UFF
Fabio Carvalho Leite – PUC-Rio
Gisele Cittadino – PUC-Rio
João Ricardo Wanderley Dornelles – PUC-Rio
Luciana Boiteux – UFRJ
Marcia Nina Bernardes – PUC-Rio
Marilson Santana – UFRJ
Mauricio Rocha – PUC-Rio
Rodrigo Souza Costa – UFF
Adriano Pilatti – PUC-Rio
André Videira de Figueiredo – UFRRJ
Antônio Augusto Madureira de Pinho – UERJ
Bethânia Assy – PUC-Rio
Carlos Magno Sprícigo Venério – UFF
Carlos Plastino – PUC-Rio
Christiane Vieira Laidler – UERJ
Daniele Gabrich Gueiros – UFRJ
Darlan Montenegro – UFRRJ
Eduardo Vieira da Cruz – UNIRIO
Ericka Marie Itokazu – UNIRIO
Evandro Menezes de Carvalho – UFF/FGV
Francisco de Guimaraens – PUC-Rio
Geraldo Prado – UFRJ
Gustavo Siqueira – UERJ
José Maria Gomez – PUC-Rio
José Paulo Martins Junior – UNIRIO
José Ricardo Cunha – UERJ
Ludmila Moreira Lima – UNIRIO
Luiz Eduardo Motta – UFRJ
Nilton José dos Anjos de Oliveira – UNIRIO
Paula Campos Pimenta Velloso – UFF
Paulo Cavalcante de Oliveira Junior – UNIRIO
Sayonara Grillo Coutinho Leonardo da Silva – UFRJ
Vladimir de Carvalho Luz – UFF
Thamis Dalsenter – PUC-Rio
Adrian Sgarbi – PUC-Rio
Alessandra Maia – PUC-Rio
Ana Luiza Saramago Stern – PUC-Rio
Ana Paola Frare – UFF
André Perecmanis – PUC-Rio
Bárbara Lupetti – UCP
Benedito Fonseca e Souza Adeodato – UNIRIO
Carla Soares – PUC-Rio
Carlos Eduardo Martins – UFRJ
Cecilia Caballero Lois – UFRJ
José Rodrigues Duarte – UFRRJ
Juliana Neuenschwander Magalhães – UFRJ
Luiz Camillo Osorio – PUC-Rio
Luzimar Paulo Pereira – UFRJ
Manoel Martins Júnior – UFF
Mariana Cassab – UFRJ
Paulo D’Avila Filho – UERJ
Rafael Haddock-Lobo – UFRJ
Roberto Rosendo – UFF
Taiguara Libano Soares e Souza – IBMEC/RJ
Victor Leandro Chaves Gomes – UFF
Carla Francalanci – UFRJ
Carolina Moraes – UCAM-Rio
Cláudio Tomás Bornstein – UFRJ
Cristiana Fachinetti – FIOCRUZ
Delton R. S. Meirelles – UFF
Eduardo Val – UFF
Ethel Menezes Roha – UFRJ
Fernando Fragozo – UFRJ
Fernando Santoro – UFRJ
Filipe Ceppas – UFRJ
Gustavo Sampaio – UFF
Irley F. Franco – PUC-Rio
João Batista Andrade – UERJ
José Bessa – UERJ
Kíssila Muzy de Souza Mello – UNESA
Kone Cesário – UFRJ
Luena Nunes Pereira – UFRRJ
Marcela Miguens – UFRJ
Maria Clara Dias – UFRJ
Mariana Trotta – UFRJ
Marly Bulcão – UERJ
Pedro Marcelo Campos – UERJ
Regina Dantas – UFRJ
Ricardo Kubrusly – UFRJ
Roberto Horácio de Sá Pereira – UFRJ
Rodrigo Carelli – UFRJ
Sidney Lianza – UFRJ
Ulysses Pinheiro – UFRJ
Victoria de Sulocki – PUC-Rio
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