Em entrevista ao fundador de Opera Mundi, Breno Altman, durante o programa SUB40 desta quinta-feira (11/03), a deputada federal de Pernambuco pelo Partido dos Trabalhadores Marília Arraes afirmou que o ex-presidente Lula é o candidato com mais chances de derrotar Jair Bolsonaro nas eleições de 2022, “e não só entre a esquerda”.
Ela comemorou a resolução do ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin, que restituiu os direitos políticos do ex-presidente: “acho que estávamos carentes de notícias boas”.
Pensando nas próximas eleições presidenciais, Arraes defendeu a formação de uma frente “mais ampla possível” para derrotar Bolsonaro, mas respeitando a postura ideológica do PT. Ela reforçou a importância de o partido criar um novo programa político para tentar reconstruir todo o desmonte que está sendo feito pelo atual governo, e ressaltou a necessidade de investir no trabalho de base.
“Apesar de que, como meu avô dizia, cada ano de desmonte neoliberal demanda quatro, cinco, até dez anos de governo progressista para recuperar. Não vai ser em um mandato que a gente vai conseguir refazer tudo”, afirmou.
Por que Marília Arraes deixou o PSB
Marília Arraes é neta de Miguel Arraes. Morto em 2005, ele foi três vezes governador de Pernambuco e prefeito de Recife, além de ser considerado uma das principais lideranças do Partido Socialista Brasileiro.
Para a deputada, sua proximidade com o avô levou-a para o caminho da política. Durante dez anos, ela foi filiada ao PSB, até que, em 2016, decidiu se desfiliar e passou a formar parte do PT.
“Depois que o Arraes morreu, o PSB passou a ter uma diretriz cada vez menos comprometida idelogicamente com suas raízes. Em 2014 se consolidou a guinada à direita do partido e os excessos de flexibilização nas diretrizes. O ‘s’ tinha se transformado apenas em uma letra. Queriam tirar o socialismo do estatuto. Tudo isso foi me fazendo ter certeza de que ali não era o meu lugar. Tomei a decisão de sair e não me arrependo”, explicou.
Atualmente, a deputada se tornou uma das principais lideranças de oposição ao partido no estado nordestino e é uma das figuras mais importantes na política pernambucana, sendo a segunda parlamentar mais votada no estado.
“Eu fui alvo de muita baixaria, muita fake news. Vieram com muita misoginia e mentira”, disse a parlamentar, que também ressaltou as dificuldades de ser uma mulher na política. “Quando eu fui eleita vereadora, não havia banheiro feminino na câmara”.
“Para derrotar o PSB, só tendo uma aliança entre PT e centro. Porque hoje o PSB é uma miscelânea. Não há comprometimento ideológico, há interesses e negociações de cargos”, defendeu.
Em 2018, o PT chegou a apoiar o PSB em Pernambuco. Marília Arraes foi pré-candidatura ao governo do estado, mas acabou deixando a disputa após uma negociação entre o PT e PSB em nível nacional, que, por decisão do partido, preferiu apoiar a reeleição de Paulo Câmara, do PSB.
“Será que o PT hoje quer uma aliança dessas? Não sei se geraria mais aceitação ao presidente Lula aqui, acho que podia até prejudicá-lo”, ponderou.
A situação em Pernambuco
A parlamentar também avaliou a situação atual em seu estado. Disse que graças aos governos federais petistas, a vida dos pernambucanos melhorou muito. O governo federal havia investido em recursos e se desenvolveu um mercado consumidor importante na região. “Hoje não tem nada disso. O estado vive um desequilíbrio financeiro, só paga dívida, não investe. Isso está prejudicando o diálogo com a classe empresarial e com as classes trabalhadoras”.
Durante a pandemia do coronavírus, Recife abriu sete hospitais de campanha que depois foram desmontados. A população sofreu com falta de água, segundo Marília Arraes. “Fora que o nordeste é pobre, as pessoas vivem em moradias precárias, trabalham de dia para comer à noite. Não podem ficar em casa, isso impossibilita um lockdown de verdade”, argumentou.
“A gente tem visto o estado agir apenas para dar satisfação. Fizeram um toque de recolher e as empresas de ônibus tinham 40% da frota na garagem e as pessoas, então, tinham que ficar se amontoando no transporte público”, citou ela como exemplo da má gestão.