Paulistano estabelecido no Chile, o filósofo e radialista Gunther Aleksander é ativista político do Movimento Humanista Mundial, que defende uma cultura de paz e não-violência, de direitos humanos e de luta antifundamentalista, pelo livre exercício de ideias e de crenças.
Em conversa com o jornalista Haroldo Ceravolo Sereza no programa SUB40 desta quinta-feira (24/11), ele estabeleceu paralelos entre a política atual no Brasil e no Chile, avaliando a ascensão da extrema direita nesses e em diversos países da América Latina e do mundo como “uma espécie de internacional neonazista”, com elementos em comum, como a articulação de redes virtuais subterrâneas, o fundamentalismo e a militarização.
Seu movimento, que no Chile se conecta com as origens do presidente Gabriel Boric, apregoa a humanização das forças de segurança.
“Dos quartéis, saem máquinas de matar e de se suicidar. É desumano para todo mundo. No Brasil, a guerra cultural do bolsonarismo está ganhando nos quartéis, inclusive por cima das altas patentes”, disse.
O humanismo, lembra, se consolidou na época medieval no combate às fogueiras santas, por indivíduos que desenvolveram arte e cultura escondidos porque eram perseguidos e massacrados pelo fundamentalismo católico.
“Pregamos uma revolução não-violenta, queremos formar frentes amplas e bancadas da paz, para contrapor as bancadas da bíblia, bala e boi. Defendemos legislação de desarmamento, inclusive nuclear”, afirma Aleksander, explicando que o movimento trabalha para criar territórios humanistas a partir das periferias do sistema, por intermédio do desenvolvimento de estruturas como centros culturais presenciais, a partir do conceito de matrizes culturais.
Arquivo pessoal
Aleksander participa do Movimento Humanista Mundial, que defende uma cultura de paz e não-violência
Esse pensamento busca definir modelos facilmente replicáveis por autogestão, sem hierarquias.
Traços de Brasil e Chile
Segundo Aleksander, a fome é traço comum entre o Brasil e o Chile atuais, embora esse tema seja menos difundido no país em que mora. “Aqui, os veículos independentes são mais enfraquecidos que no Brasil, então não se fala muito da fome e da desigualdade. O Chile engana melhor. Participei da organização de “panelões” na rua, muita gente sobreviveu assim à pandemia, e não se fala de fome aqui. Não tem aposentadoria, direitos básicos de educação e saúde”, enumera.
O presidente Boric, em sua avaliação, tem se inspirado mais no primeiro-ministro canadense Justin Trudeau que em seus pares latino-americanos, o que pode se modificar com a volta de Luiz Inácio Lula da Silva ao poder no Brasil.
As explicações para a derrota de Boric no plebiscito que tentou aprovar uma nova Constituição para o Chile podem ser encontradas, entre outros fatores, na condução de políticas sociais pelo presidente que governa o país com a coligação Frente Ampla.
“Boric acertou ao defender redução de jornada de trabalho e um aumento substancial de salário mínimo, mas não fez política de assistência social, então as periferias votaram contra, porque se sentiram defraudadas”, interpreta. “Boto fé em suas intenções, mas por enquanto ainda estamos esperando mais”, resume.